Capítulo 10

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A manhã seguinte trouxe consigo uma sensação de ressaca suave, acompanhada pelas lembranças da noite anterior. Abri os olhos lentamente e percebi que estava deitada no sofá de Joon. A luz do sol filtrava pelas cortinas, criando um ambiente suave e acolhedor.
Ao me mexer, senti um peso leve sobre mim. Olhei para o lado e percebi JungKook, que estava adormecido ao meu lado. Ele parecia tão tranquilo enquanto dormia, seu rosto sereno e relaxado. Seu braço estava levemente estendido em minha direção, como se tivesse se aproximado durante a noite.
Lembrei-me da conversa da noite passada. E, de repente, me senti um pouco nervosa com a proximidade. Não era algo que eu esperava, mas ali estava ele, ao meu lado.
Com cuidado para não o acordar, me sentei no sofá, sentindo um frio na barriga inexplicável. Observando-o dormir, minha mente começou a vagar. E se...? Mas não, era melhor não pensar nisso. Ele era meu cliente, talvez um amigo, e eu não podia misturar as coisas.
Enquanto eu ponderava sobre a noite anterior, o rapaz se mexeu e abriu os olhos, me pegando olhando para ele. Um sorriso sonolento se espalhou por seu rosto, e meu coração deu um salto inesperado.
- Bom dia - ele disse, sua voz rouca pela manhã.
- Bom dia - respondi, um pouco envergonhada.
O ar se tornou pesado por alguns segundos, enquanto nos olhávamos. E então, como se fosse uma resposta ao nosso nervosismo, começamos a rir. Rimos da situação absurda, de como havíamos acabado ali naquela manhã.
- Eu realmente não planejava passar a noite aqui - ele confessou, passando a mão pelos cabelos desarrumados.
- Nem eu - admiti, ainda rindo. - Mas, ei, pelo menos foi divertido, certo? Eu e a Mari geramos entretenimento para a possível noite chata de vocês.
- E quem disse que minha noite estava sendo chata? – Perguntou, enquanto arqueava a sobrancelha.
- Ah, para vai – Dei um tapinha em seu ombros – Está nítido, Kookie, suas noites de famoso devem ser super animadas, com o DJ travesseiro e MC Edredom.
Ele ficou me olhando com um sorriso bobo no rosto. Passei a mão em meu cabelo procurando o erro, e ele continuava aquele olhar de idiota para mim.
- O que... o que foi? – Disse enquanto apontava para minha cara – Estou suja? Tem ramela nos meus olhos? – Busquei pelas cobertas meu celular para me olhar na câmera.
Seu olhar continuava.
- Gosto quando me chama assim – Desviou o olhar.
- Kookie? – Perguntei, minhas bochechas tomando uma tonalidade diferente.
- Sim!
De repente, meu melhor amigo entra na sala, saindo de um enorme corredor, de calça de moletom cinza e um belíssimo tanquinho à mostra, enquanto secava seu cabelo.
- Bom dia, Pinguça – Disse enquanto se escorava com um ombro na parede.
- Vai catar coquinho, Joon – Revirei os olhos. Minha cabeça latejou.
- Aii! – Exclamei.
- Bem-feito! – Ele falou enquanto se desencostava da parede e caminhava até a cozinha. Pude ouvir o riso contido de JK ao meu lado.
Só então me dei conta de que estava faltando alguém naquele espaço, olhei em todos os cantos, me jogando pelo sofá procurando a presença da minha amiga, mas nada dela. Onde será que ela estava? Não era muito difícil de enxergar alguém com o cabelo de fogo. Mas ela estava praticamente invisível para mim. Pelo que eu me lembrava, havíamos dormido juntas, e aí agora, cadê ela?
- É... cadê a Mari?
- Não sei quem é essa... – Joon balançou a cabeça enquanto continuava a mexer em uma chaleira, colocando água para esquentar, enquanto pegava um pote que eu acreditava ser café.
- Para de graça, diz logo – Arregalei os olhos – Meu Deus. Vocês não... Vocês não... – Não pude terminar a frase, pois vi meu amigo arregalando os olhos em descrença, enquanto me encarava friamente de volta, tornando seu olhar para o homem ao meu lado.
- Nunca nessa vida!!! – Apontou o dedo para mim – E nunca mais pense nisso. Impossível!!! Sua amiga passou mal a noite inteira e acabou dormindo abraçada com a privada. Ela está no banheiro... no meu quarto.
- No seu quarto? – JungKook perguntou.
- Sim, mas meu Deus, nãaao. Ela simplesmente invadiu meu quarto, procurando um lugar para botar as tripas para fora, e acho que o mais conveniente para ela foi fazer isso em mim. Só essa madrugada tive que tomar uns três banhos, para me livrar daquele cheiro horrível.
O olhei envergonhada por toda a situação, mas não pude segurar o riso. Era absurdo tudo aquilo.
- Des...desculpa – falei em meio às gargalhadas.
- Não tem graça alguma – deu uma chicotada com o pano de prato no qual estava em seu ombro na bancada de mármore.
- Não, tem razão... – JK gargalhava ao meu lado – Tem muita graça, mano.
A garota que causou o motivo de risada então entrou pela sala coçando a cabeça, com o aspecto horrível, olheiras, os cantos da boca suja, a maquiagem borrada e o cabelo espetado.
- O que foi? – Disse batendo os pés no chão – Pra que todo esse escândalo em? Não podem respeitar uma garota doente?
- Você não está doente, está de ressaca e a partir de hoje proibida de chegar perto de mim – Joon exclamou, virando-se para continuar seus afazeres de maneira exagerada.
- Eu em... – Mari caminhou até o sofá, jogando-se entre mim e Jungkook – Eu estou péssima – Fez biquinho jogando seu rosto na minha direção. A afastei com uma mão enquanto tampava o nariz com a outra.
- E fedida!!! - A risada se espalhou pela sala enquanto Mari tentava fazer uma careta engraçada, o que só aumentou nossa diversão.
- Vamos dar um jeito nisso. Você precisa de um banho urgente - falei, balançando a cabeça com desaprovação.
- Ah, e o que você quer que eu faça? Andar pelo bairro fedendo a ressaca? - Mari respondeu com sarcasmo, mas no fundo, sabia que estava perdida.
JungKook se levantou do sofá e estendeu a mão para ela.
- Vamos lá, eu te ajudo a tomar um banho. Tenho certeza que Joon, tem algumas roupas que você pode usar depois. Meu outro amigo arqueou a sobrancelha.
Mariana olhou para ele com gratidão nos olhos, e aceitou sua ajuda para se levantar. Ela ainda estava um pouco instável devido à ressaca, mas JungKook a apoiou enquanto eles se dirigiram para o banheiro.
Fiquei sozinha na sala com Joon, que estava preparando algo para comermos.
- E então, como você está se sentindo? - Ele perguntou, com um olhar preocupado.
- Melhor do que a Mari, com certeza - respondi com um sorriso. - Mas ainda sinto um pouco de ressaca.
Ele me entregou uma xícara de café e sentou-se ao meu lado no sofá.
- Acho que aprenderam a lição sobre exagerar na bebida - ele disse com uma risada. - E você, o que achou da noite de ontem?
Olhei para ele, pensando em como descrever a noite. Foi inesperada e caótica, mas também divertida.
- Foi uma noite louca, com certeza - respondi. - Mas, de alguma forma, acabou sendo divertida. E, bem, não é todo dia que você passa a noite ao lado de JungKook, certo?
Joon riu e concordou.
- Você tem razão. Foi uma noite que não esqueceremos tão cedo.
Enquanto conversávamos, ouvimos o som da água correndo no banheiro, indicando que Mariana estava no chuveiro. JungKook estava sendo muito gentil em cuidar dela, e eu não pude deixar de admirar sua atitude prestativa.
- Ele é um cara legal - comentei com Joon.
- Sim, ele é - Joon concordou. - Você parece gostar da companhia dele.
Eu dei de ombros, tentando não parecer muito interessada.
- Ele é um cliente, afinal de contas. Mas, sim, ele é legal.
Joon me lançou um olhar curioso, mas não disse mais nada sobre o assunto.
Pouco depois, Mariana saiu do banheiro, parecendo muito mais apresentável do que antes. Ela agradeceu a JungKook pela ajuda e pegou uma xícara de café. Estávamos todos sentados na sala, conversando e rindo, quando percebi que a atmosfera estava mais leve do que nunca.
A ressaca havia passado, e a manhã estava se transformando em uma tarde ensolarada. A situação inusitada da noite anterior nos aproximou de uma maneira estranha.
O dia passou rápido, e antes que percebêssemos, estava anoitecendo novamente. Eu e Mariana já estávamos recuperadas o suficiente para irmos para casa, e acabamos por agradecer a hospitalidade de Joon e a companhia de JK durante o dia.
Assim que saímos pela porta, minha amiga se encaminhou até o portão com o celular em mãos procurando um Uber, deixando-me sozinha com JungKook. Nós nos encaramos por um momento, como se estivéssemos esperando algo. Era óbvio que havia uma tensão entre nós, mas nenhum de nós sabia como abordar o assunto.
- Acho que já está na hora de eu ir embora - Disse, quebrando o silêncio. - Tenho uma reunião importante amanhã, e preciso estar descansada – Ele assentiu, mas havia uma expressão de decepção em seu rosto.
- Claro, entendo - respondeu. - Foi bom passar o dia com você.
Caminhamos juntos até o portão.
- Foi ótimo - admiti. - E quem sabe, talvez possamos nos ver novamente em breve.
Ele sorriu e me deu um beijo na bochecha antes de eu sair. Fiquei pensando naquela troca de olhares e sorrisos enquanto ia para casa, perguntando-me se havia algo mais entre nós do que apenas uma noite maluca.
Ao chegarmos em meu apartamento, uma sensação de cansaço misturada com uma pitada de preocupação começou a surgir. Afinal, eu tinha uma reunião importante no dia seguinte, e minha noite anterior tinha sido tudo, menos tranquila.
Assim que abri a porta, fui recebida com uma surpresa que não estava esperando. Meus pais estavam lá, sentados no sofá, com expressões preocupadas em seus rostos. O fato de encontrá-los ali me deixou atônita por um momento.
- Mãe, pai, o que vocês estão fazendo aqui? - perguntei, tentando parecer calma, apesar da confusão em minha mente.
Minha mãe se levantou e veio até mim, abraçando-me com força.
- Estávamos preocupados com vocês - ela disse, seus olhos cheios de ansiedade.
- Vocês não atenderam nossas chamadas o dia todo, e quando finalmente conseguimos falar com a Mariana, ela nos contou sobre a noite de ontem - meu pai explicou, com um olhar repreensivo em direção a minha amiga.
Mariana parecia encolhida de vergonha, e eu não conseguia culpá-la. Toda a situação era embaraçosa, e eu me sentia péssima por preocupar meus pais daquela forma.
- Desculpa, mãe, pai - murmurei, sentindo-me envergonhada.
- Estão bem agora? - minha mãe perguntou, olhando para mim com preocupação.
- Estamos, sim - respondi. - Apenas tivemos um pouco de ressaca, mas estamos bem.
Minha amiga concordou com a cabeça, parecendo igualmente envergonhada.
- Vou fazer um chá para vocês se sentirem melhor - sugeriu, indo em direção à cozinha.
Enquanto ela estava ocupada, meu pai se aproximou de mim com um olhar sério.
- Alice, você precisa ser mais responsável. Não é a primeira vez que nos deixa preocupados dessa forma – Eu abaixei a cabeça, me sentindo culpada. Sabia que estava certo.
- Eu sei, pai. Eu prometo que vou tomar mais cuidado.
Ele assentiu, parecendo aliviado com minha resposta. Era evidente que ele estava preocupado comigo, e eu não queria fazê-lo sofrer.
Minha mãe voltou com uma bandeja de chá e nos serviu. Sentando-se ao lado de Mari. Ela olhou para minha amiga com ternura, acariciando seu cabelo, e eu pude ver o sentimento que transbordava por seus olhos. Mari estava a tanto tempo na família, que já era considerada como filha por meus pais.
- Eu senti tanto a sua falta filha. Você não mudou nada – disse com seus olhos transbordando em lágrimas.
A ruiva a abraçou com força, afastando o rosto por um momento para olhar para meu pai, no qual se aproximou, se ajoelhando no chão e as abraçando no mesmo momento.
- Eu também senti saudades de vocês – Ela disse entre soluços.
- Eiii, não se esqueçam de mim e da Belinha – Falei, pegando minha cachorra no colo e me juntando ao abraço de família – Estamos unidos de novo. Não quero que isso passe.
- Você ainda vai me ver muito por aqui Alice – Mari confirmou.
A aparição inesperada dos meus pais trouxe à tona uma mistura de emoções. Apesar de todo o constrangimento, era bom estar cercada pela família e pelos amigos mais próximos. Meus pais e Mari estavam realmente felizes em se reunir, e não pude deixar de sorrir com a cena.
Enquanto nos abraçávamos e nos reconectávamos, minha cachorrinha parecia estar se divertindo ao meio de tudo aquilo, pulando e abanando o rabo com entusiasmo. Ela também fazia parte da família, e sua alegria era contagiante.
- Eu ainda vou me vingar de vocês por me deixarem preocupada - minha mãe brincou, dando um leve tapinha no meu ombro.
- É, nós merecemos - Mari concordou, ainda abraçada a ela.
Meu pai soltou um suspiro aliviado e olhou para mim com um sorriso.
- O importante é que vocês estejam bem. Agora, podemos pensar em uma solução para o dia de amanhã.
Lembrei-me da reunião de negócios que eles estavam planejando para o dia seguinte. Eles eram donos de uma empresa imobiliária, na qual eu também trabalhava, e estavam prestes a fechar um grande negócio que poderia impulsionar ainda mais o nosso negócio.
- O que vocês estão pensando? - perguntei, curiosa.
Meu pai explicou que a reunião havia sido marcada com uma empresa importante, e eles precisavam estar lá para finalizar o acordo. No entanto, com a noite anterior, eles estavam preocupados em não estar em suas melhores condições para a reunião.
- Nós não podemos perder essa oportunidade - minha mãe acrescentou. - É um grande passo para a nossa empresa.
Eu sabia o quanto aquilo era importante para eles e para a empresa, e não queria que nada atrapalhasse.
- Eu entendo - respondi. - O que vocês estão pensando em fazer?
Meu pai sugeriu a ideia de passar a noite no meu apartamento, para garantir que estariam descansados e preparados para a reunião. Era uma solução prática, e eu concordei.
- Claro, vocês podem ficar aqui - afirmei. - Eu vou providenciar tudo o que precisam.
E assim, passamos a noite juntos, conversando sobre planos para o dia seguinte e relembrando histórias antigas. Mariana, mesmo ainda se recuperando da ressaca, estava animada para passar mais tempo com minha família.
Por fim, eles acabaram ficando com o quarto dela, e ela como esperado, foi dormir comigo, me deixando com um pequeno espaço na cama, já que ocupou boa parte dela enquanto Belinha ficava em meus pés.

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