1 - Um quase amigo com cabeça de fogo

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Opa, e aí! Tudo certo? Prazer, eu sou o Miguel. Esse cara aí, na ilustração abaixo. Sei, sei... não ficou muito boa, mas a culpa é mais minha do que ilustrador...

O que vou te contar começou há uns três meses, quando fui adotado pelos Sgardis

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O que vou te contar começou há uns três meses, quando fui adotado pelos Sgardis. Exatamente no dia em que os conheci. Mas a culpa não foi deles, foi da menina com lindos olhos verdes e pequenas presas no lábio inferior que invadia meus sonhos.

Calma, vou chegar lá. Primeiro, temos que falar do meu ex quase quem sabe amigo. O Adriano.

Conforme você me conhecer, verá que eu não sou fácil de confiar nas pessoas. Logo você vai entender porque. Então, quando o Adriano chegou no orfanato, há três semanas, e ficou amigo da turma dos caras mais velhos, eu não liguei. Eu ficava bem com meus livros de folclore e mitologia. Porém, por algum motivo, o Adriano se aproximou de mim na última semana. E apesar de todos os alarmes gritando na minha cabeça, eu realmente achei que ele queria ser meu amigo.

Isso até o dia que ele armou pra mim.

Estávamos andando na quadra do orfanato. Alguns garotos e garotas estavam brincando em um campeonato de futebol de botão. Eu até gosto, porque envolve futebol e não precisa ficar suado enquanto brinca. Mas não estava com cabeça para nada. Não conseguia focar. Só me lembrava do sonho estranho que tive com a menina mais linda do mundo. No sonho também tinha uma voz assustadora que vinha de uma parede de escuridão, mas quem fica pensando em vozes malignas quando encontram a mulher da sua vida?

Viramos em direção do barracão do zelador, e o Adriano me empurrou.

- Hei - me queixei -, qualé?

Ele bufou.

- Qualé? Eu tô aqui, falando com você, e nem uma resposta? Você escutou algo que eu disse?

Cocei a cabeça.

- Foi mal, cara. Tava pensando na...

- Na garota dos seus sonhos, entendi. A menina mais linda do mundo, tá. Você não para de falar dela.

Era verdade. Fazia duas semanas que eu sonhava com ela. Com ela e com aquela voz esquisita e familiar. Mas não contei essa parte para o Adriano.

- Desculpa mesmo, cara. Do que você tava falando?

Adriano me encarou com raiva. Seus olhos amarelos me fuzilavam... espera. Olhos amarelos? Pisquei e os olhos dele estavam de volta ao normal. Os mesmos olhos castanhos de sempre. Ele suspirou.

- Disse que ouvi a diretora Pereira falando que um casal viria aqui para ver você.

Foi minha vez de suspirar.

- É, tô ligado. Ela mandou me chamar no refeitório. Eu tô meio que fugindo dela.

Ele me achava um idiota. Sei disso porque Adriano rolou os olhos e me chamou de idiota em libras. Essa é a única palavra que sei em linguagem de sinais, porque Adriano me explicou o que era da primeira vez que fez para mim. Tinha aprendido em uma casa adotiva pela qual ele passou.

Miguel Oliveira e a Árvore de EldoradoWhere stories live. Discover now