17 - Uma quase briga entre ciência e magia

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— Sofia, eu disse não.

Sofia rolou os olhos.

— Não seja um bebê chorão, Miguel. É para o seu bem.

Bufei, cansado daquela discussão.

— Pela última vez, você não sabe o que pode acontecer. Então a resposta é não.

Antes que Sofia pudesse me ofender outra vez (algo que ela vinha fazendo com bastante empenho nos últimos quinze minutos), alguém falou à porta.

— Porque vocês discutem tanto? Dá para ouvir do primeiro piso.

Virei a cabeça para a entrada do meu quarto. Luiza entrava, com um sorriso brincalhão no rosto. Ela levava sua bolsa mágica, um quit de todas as coisas que bruxos adolescentes podem precisar. A bolsa parecia uma bolsa de carteiro, mas era rosa. Nas últimas duas semanas, desde que tive meu primeiro avanço em lições de magia, ao conjurar um escudo, Luiza aparecia com bastante frequência.

— E aí, Lu. Beleza? — perguntei, como uma pessoa educada deveria fazer. O que uma pessoa educada não deveria fazer foi o que Sofia fez. Ela foi até Luiza e começou a sacudi-la pelo braço.

— Luiza, explica para o Miguel que ele precisa aceitar minha ajuda. Só assim ele não vai ser destruído por folclóricos e semideuses.

Um conselho: nunca sacuda um bruxo pelo braço. Caos ele se irrite, pode te transformar em um camundongo.

— Sofia, me larga — ralhou Luiza, dando um puxão no braço. Ela se afastou de Sofia cerrando os olhos. Um alerta soou na minha mente. Ela ia usar magia .

Entrei na frente das duas, pois não queria ver o que a tecnologia de Sofia podia fazer contra a magia de Luiza.

— Porque não nos sentamos e tentamos não balançar ou matar ninguém?

Sofia ajeitou os óculos e me olhou.

— Você vai me deixar fazer o teste?

Ficamos os três nos encarando. Luiza ergueu uma sobrancelha, com uma das mãos dentro da bolsa. Eu não queria explicar para mamãe como sua filha tinha se transformado em um macaco prego com olhos vermelhos. Por isso, suspirei, indo para a sacada.

— Tudo bem, Sofia. Vem Lu, vamos nos sentar. Isso pode ser perigoso.

Luiza não tirou a mão da bolsa de carteira mágica. Que, aliás, ela chamava de Gorfo. Não me pergunte porque.

— Se pode ser perigoso, porque vamos para a sacada?

Sofia rolou os olhos.

— Porque instalei meu sistema de monitoramento em todas as entradas e saídas da casa. Se algo der errado,a casa não será destruída. Podemos se incinerados, afogados ou eletrocutados até a morte, que o quarto do meu irmão ficará intacto.

Os olhos de Luiza encontraram os meus. Tivemos uma breve discussão silenciosa onde, tenho certeza, ela me chamou de louco e idiota por aceitar esse tipo de situação. É incrível como, depois de um tempo, o carinho e o amor entre amigos é expressado através do olhar meigo e companheiro. Um dia, quem sabe, eu veria algo assim, já que o olhar de Luiza era de "mas tu é:". Preencha o espaço depois dos dois pontos com isso mesmo que veio na sua mente. Foi bem isso que ela disse em nossa discussão silenciosa.

As vezes eu me perguntava se não estava viajando nesse lance de imaginar que podia entender Luiza sem que nos falássemos. Mas depois de mais uns xingamentos criativos que ela lançou pela minha mente, bufou e veio para a sacada.

Sofia ajeitou os óculos.

— Sumé, ativar protocolo Proteja o Tonto.

Olhei para ela, enquanto Luiza engasgava tentando (e falhando em) não rir.

Miguel Oliveira e a Árvore de EldoradoWhere stories live. Discover now