18 - Sofia quase duela e causa nossa morte, outra vez

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A parte boa dessa Viagem nas Sombras, como resolvi chamar essa experiência deprimente e assustadora, foi que não sonhei. Nada de árvores com buracos soltando vozes malignas.

E teve a parte ruim, que foi todo o resto. Começando por Thainara não estar lá.

Dessa vez, enquanto estava dentro do portal, eu senti algo diferente. Não sei se foi por causa de começar a fazer magia, mas eu pude sentir a viagem. Não, não é isso. Acho que, o que quero dizer, é que senti a magia do portal que Luara fez. E eu soube, sem dúvida alguma, que era o portal da Thainara.

Não, eu não estava delirando. Eu tinha certeza de que a magia daquele portal era dela. Mesmo que, anteriormente, eu não pudesse sentir isso. E eu sei que a única magia que eu sabia usar era um escudo. O que não me tornava o próximo Harry Houdini. Nem um especialista.

Quando a viagem terminou, eu consegui, a muito custo, não vomitar. Para variar, cai de bunda no chão. Sofia e Luiza ao meu lado, tão atordoadas quanto eu. Estávamos em frente a um arco de pedra. Um portal. Dos lados do portal, floresta fechada. Eu respirei e senti o cheiro da magia. Um cheiro adocicado. Algo leve, que me lembrava algodão doce.

Me levantei quando falaram às minhas costas.

- Bem-vindos à Colônia de Férias Mbaracá.

A voz não era acolhedora. Quando me virei e vi os olhos de Augusto, o diretor de Mbaracá, faiscando de ódio, confesso: não me senti bem-vindo.

Ao lado dele estava Carlos, segurando sua bengala. Ele inclinou a cabeça para mim, segurando o chapéu de palha. Uma mulher forte e de queixo erguido, negra, com cabelos afro pumps, me olhava com uma sobrancelha erguida, ao lado de Carlos. E uma mulher idosa, com traços indígenas, apoiada em um cajado, onde gotículas de água, poeira, folhas, chamas e vento rodopiavam ao redor.

Augusto abriu as narinas. Não queira ver algo assim de barriga cheia.

- Este é o Conselho Supremo. Esta é Pajé Luany - ele falou, apontando para a mulher musculosa -, líder da Oca da Terra, lar dos Lutadores. Pajé Carlos você já conhece, chefe de segurança do aldeia - ele disse chefe de segurança com desprezo, embora Carlinhos tenha piscado um olho. - Ele também é o líder da Oca da Selva, dos semideuses Ferais. A sabia Pajé Maya, segurando a bengala elemental, é a líder da Oca do Vento, onde vivem os Elementares.

Todos nos encaravam com intensidade. Nenhum tentou ser amigável como Carlinhos. Olhei para as meninas. Os nós dos dedos de Luiza estavam brancos de apertar a alça da sua bolsa de carteiros mágica. Eu esperava que eles achassem que ela estava fazendo estágio nos correios, e não com inúmeros objetos místicos que eles não deviam gostar. Ainda mais se fosse feitos de partes de folclóricos. E Sofia, bem... estava sendo ela. Ajeitou os óculos e inclinou a cabeça. Graças aos céus ela não tinha aberto a boca. Nem Luiza.

Atrás de cada conselheiro estava um grupo de pessoas. Humanos e folclóricos. Tinha até uma caipora montada em um porco do mato gigante. Talvez fosse um Tutu. Ou outro ser folclórico. Estava muito preocupado se iria sobreviver aos próximos minutos para lembrar as lendas em detalhes.

Augusto juntou as pontas dos dedos magricelos.

- Como diretor de Mbaracá...

- Diretor da Colônia de Férias, Augusto - falou a anciã dos elementos. Pajé Maya. Ela olhou com certo desprazer para o diretor. - Você não é e nunca será líder de nosso povo.

As narinas de Augusto inflaram. Sério, alguém tinha que dar um toque no cara que aquilo não pegava bem.

- É claro, anciã - ele disse, curvando um pouco a cabeça. - Somos governados pela vontade dos deuses.

Miguel Oliveira e a Árvore de EldoradoWhere stories live. Discover now