10 - Luiza quase conseguiu não causar nossa morte

36 9 24
                                    

Eu não estava pronto para o o que vi. Afinal, a única vez que fui em uma colônia de férias, em uma escola municipal que precisava urgente de pintura e limpeza nos banheiros, sem falar na experiência da piscina. E confesso que, por ser no meio do mato, achei que seria algo parecido com um acampamento. E a única vez em que fui acampar, o lugar era cheio de barracas velhas em um terreno irregular, com muito mato e formigueiros.

Por isso eu não estava preparado para construções futuristas e pessoas usando magia para coisas do dia a dia.

— Esse lugar não pode ser real — falou Luiza, boquiaberta.

— Não mesmo — concordei. — Se isso não é um sonho, me belisquem... Ai!

Olhei para Sofia, que deu de ombros.

— Você quem pediu para te beliscar.

Sofia levava as coisas ao pé da letra demais, para o meu gosto.

— Venham — falou Thainara. — Augusto vai querer falar com vocês.

Ela falou de um jeito que pareceu que o tal Augusto iria querer matar a gente.

Thainara nos guiou pela rua principal. Eu não tinha muita objeção em segui-la, já que não fazia ideia de como agir naquele lugar. Vou tentar descrever a cidade.

As construções eram futuristas. Tipo filmes de ficção científica.  Por outro lado, elas lembravam muito a arquitetura das ocas indígenas e cabanas africanas. Não eram feitas de materiais naturais, como madeira, pedra e palha. O material era sólido, cobreado.

— É éter — falou Thainara.

Olhei para ela. Minha cara devia ter uma interrogação bem grande, porque ela riu e explicou.

— É um elemento divino, da dimensão espiritual. Os nossos engenheiros aprenderam a trabalhar a liga para usá-la em construções e armas.

Olhei uma parede de perto. Era cheia de desenhos tribais ou padrões geométricos. Quando perguntei para Thainara, ela explicou que eram feitiços de proteção. Luiza arfou quando ouviu isso, mas não perguntei. Não estava na vibe de "nossos feitiços são melhores que os seus".

Andamos mais um pouco e percebi que Sofia ficou parada, olhando ao redor.

— Isso tudo... como é possível algo assim no meio do nada?

Thainara olhou por cima do ombro.

— Usamos tecnologia avançada que se baseia no poder dos espíritos ancestrais. As culturas tupi-guarani e iorubá se baseiam na compreensão do poder legado e da compreensão da natureza. Usamos esse entendimento para evoluir como sociedade.

Entendi o que ela disse? Claro que não. Explicou o que aquela cidade fazia no meio do nada? De jeito nenhum. Mas Sofia ficou muito empolgada. Ela ajeitou os óculos e arregalou os olhos. O que devia significar que, se demonstrasse emoções, ela estaria pulando, dando gritinhos histéricos e batendo palmas.

— Então vocês incorporam os elementos místicos com tecnologia avançada, como painéis solares, sistemas de automação residencial e isolamento térmico eficiente, para dar às casas um toque futurista?

Thainara coçou a cabeça.

— Eu não sou muito ligada em tecnologia, mas acho que está certa. Terá que falar com uma das engenheiras.

Eu não sabia quem eram as engenheiras, mas o trabalho delas era incrível. O que eu entendi de tudo que via e ouvia Thainara e Sofia conversando, era que as construções eram redondas e tinham ar futurista.

Thainara foi explicando outras coisas. Disse que em algumas casas só era possível entrar através de painéis que levitavam. Em outras, a entrada só era possível pelo céu, pois as portas eram nos andares superiores. Muitas construções tinham jardins com fauna Amazônica ou da Mata Atlântica brasileira.

Miguel Oliveira e a Árvore de EldoradoWhere stories live. Discover now