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Dia 3 .。.:*✧

Meu estômago roncou alto pela fome que estava sentindo, não saio dessa sala de música desde a manhã do dia seguinte, desde que briguei com Lena por ela querer falar sobre o filho que perdi e eu não permiti. Derrotada pela vontade de meu estômago, sai da sala de música indo direto para cozinha, preparei um sanduíche natural e comi em silêncio.

A casa estava silenciosa como se Lena nem estivesse mais na mesma, ao terminar de lanchar fui para o quarto principal, mas ao passar pela sala pude ver a morena sentada no gramado através da porta de vidro. Tomei um banho calmo, vesti um pijama meu e sai do closet, vendo um caderno repousado na cama.

Aproximei-me da cama que muitas noites amei Lena, peguei o caderno que estava com um bilhete dizendo que era para mim, fui para varanda do quarto, me sentei no chão da mesma e abri o caderno que parecia usado.

“Este caderno pertence a Lena Danvers-Luthor, por favor não mexer.”

Escrito em uma caligrafia curvada perfeita da minha mulher com alguns desenhos espalhados pela folha. Ela sempre gostou muito de desenhar, antigamente para todo lugar que ia, ela levava um caderno de desenho e lápis para poder desenhar ao longo do dia.

“Desde muito nova me expresso através de desenhos, mas desde que tudo começou a desmoronar, eu não consigo desenhar uma única linha. Quando conheci Kara, soube que ela seria a mulher da minha vida, a mulher com quem me casaria e teria filhos, no mínimo uns dois, para que tenham com quem brincar.

Kara sempre foi uma mulher atenciosa comigo, sempre esteve cuidando comigo até quando ela estava doente e eu sempre adorei esse fato nela. Como eu sempre sonhei, nós nos casamos em um campo lindo, ela fez questão que a ornamentação de nosso casamento tivesse lírios, muitos lírios, só porque eu amo essa flor.

Ela estava linda em seu vestido branco com um decote em V na frente, as costas era totalmente coberta, as mangas iam até seus cotovelos. A parte superior do vestido era toda feita de renda, a enorme saia era de tule e sem volume. Ela decretou que nos casaríamos descalças, sentindo a grama macia sob nossos pés, totalmente conectadas a natureza.

Minhas esposa escolheu usar uma coroa de flores no cabelo no lugar de uma tiara, seus medianos fios loiros estavam soltos e ondulados, a maquiagem era leve do jeito que ela sempre gostou e eu mais uma vez me apaixonei por ela naquele dia. As vezes me pergunto se será possível deixar de amar Kara, mas só de lembrar do sorriso dela, eu comprovo que não. Eu nunca irei deixar de amar a minha mulher.

Eu a amo fielmente, minha mulher é o meu mundo e nos últimos tempos eu não tenho sido cem por cento para ela. Sei que a chateio por não chegar para jantar, que a chateio por não ter tanto tempo para ela como tinha antes, por não ser a mulher que eu era. Eu sei que estou a magoando, mas eu tenho tanto medo de que ela me deixe se descobrir, eu não quero morrer sem ela do meu lado.”

Um soluço escapou por entre meus lábios ao ler a última frase escrita, comecei a ler as outras páginas rapidamente para poder entender tudo o que estava acontecendo, para descobrir o que Lena estava me escondendo.

“Tem sido tempos difíceis, sempre que estou deitada com ela adormecida ao meu lado e me sinto mal, fujo para longe do nosso quarto, minha tosse começou a sair com sangue, mesmo eu tendo dado inicio ao tratamento. Eu me sinto exausta, as vezes não consigo nem trabalhar direito, mas mesmo assim não volto para casa para que minha mulher não descubra.

Eu não quero que ela fique mal por minha culpa, eu não quero que ela sofra ao meu lado, mesmo que as vezes eu precise muito dela para ter um pouco mais de esperança, para acreditar que vou vencer mesmo o médico dizendo que as chances são mínimas. Meu cabelo começou a cair devido a quimioterapia, mas não está caindo muito e o médico disse que talvez ele fique um pouco ralo, mas volte a crescer depois de um tempo.

As vezes me pergunto se ela me amaria mesmo eu ficando careca ou se ela me largaria na primeira oportunidade que tivesse. Mas no minuto seguinte me arrependo de ter esse tipo de pensamento sobre ela, porque Kara nunca faria isso comigo, ela é uma mulher de caráter forte e ela não teria coragem de abandonar alguém dessa forma.

Lembro de quando descobri que tenho câncer de pulmão, estava com muita dor no peito esquerdo, fui do trabalho direto para o hospital imaginando que estava para ter um enfarte, mas depois de fazer alguns exames e ver que não era isso, o médico recomendou alguns exames há mais e descobrimos que era um tumor no meu pulmão.

Eu dei inicio ao tratamento no dia seguinte, escolhi não contar a Kara para poupá-la de se preocupar comigo porque sei que ainda não superou a morte do nosso bebê, que ela se culpa por algo que foi culpa minha. Eu estava dirigindo naquele dia, eu não vi o carro vindo quando o sinal estava livre para passarmos, nosso filho morreu por minha culpa.”

Lonely - Karlena Supercorp Where stories live. Discover now