Pet Project | Sevmione

35. Ondulações

Hermione não sabia ao certo por quanto tempo chorou, mas, por fim, a bola de dor em seu peito diminuiu. Ela ainda estava lá, mas agora se resumia a um leve latejar. Ela também estava ciente de que ainda estava fortemente apoiada em Snape, com as mãos curvadas contra a superfície plana do peito dele, enquanto a força dele sustentava os dois. Seus pensamentos se dispersaram, animados pela segurança e pelo conforto que ela sentia. E mesmo que fosse um prazer culpado, ela não se impediu de enterrar o rosto no ombro dele para respirar a mistura reconfortante de ervas, fumaça e Severus. Um pequeno sorriso amargo e doce curvou seus lábios. Em algum momento, ele havia se tornado Severus em sua cabeça e ela duvidava que algum dia pudesse dizer o nome dele em voz alta.

Aos poucos, porém, ela se deu conta de que o homem que a envolvia tão confortavelmente era, ele próprio, tudo menos relaxado. Não era que ele estivesse rígido, mas estava estranhamente imóvel. Até mesmo o peito no qual ela se apoiava mal se movia a cada respiração dele. As mãos que levemente tocavam seus ombros não a empurravam nem a envolviam mais. Se fosse qualquer outra pessoa, Hermione teria dito que não havia nenhum conforto oferecido ali e, no entanto, Hermione ainda sentia aquele cobertor de segurança envolvendo-a enquanto se encostava nele. Ela também sabia que estava sendo totalmente injusta com ele, infligindo-lhe sua paixão quando ele estava tão obviamente mal.

Apertando as mãos uma última vez na lã macia das vestes dele, ela as soltou, dando um passo para trás e se afastando dele. Ela manteve o rosto desviado, sabendo que não era uma donzela delicada com um rosto bonito e manchado de lágrimas. Ela sabia que estava completamente desarrumada, com os fios de cabelo grudados no rosto molhado.

Juntos, eles ficaram em um silêncio tenso até que Hermione o ouviu emitir um som suave que era quase um suspiro. Uma mão grande agarrou seu cotovelo e a levou de volta à cadeira. Quando ele se afastou, ela não pôde deixar de sentir falta do calor da mão dele, mesmo quando se repreendeu por ser três tipos de tola.

Um lenço branco imaculado foi colocado diante dela. "Aqui", disse ele, bruscamente, "fique tranquila".

Ela mordeu o lábio para conter o sorriso diante da dicotomia entre as palavras e a ação dele, e Hermione sentiu-se deslizar um pouco mais pela ladeira escorregadia que era sua atração por Snape... por Severus.

"Desculpe", murmurou ela, enquanto enxugava o rosto, sabendo que não havia nada que a ajudasse a disfarçar os olhos inchados e a tez manchada. Reunindo coragem, ela finalmente levantou a cabeça e lhe deu um sorriso aguado. "Obrigada. Não tive a intenção de..." Ela se afastou e fez um gesto vago na direção dele, sem querer realmente dizer as palavras 'molhar você todo'. "Obrigada", ela repetiu.

Ele lhe devolveu um pequeno sorriso irônico. "Você não é a primeira a chorar no meu ombro, Srta. Granger".

De volta à Srta. Granger, pensou ela, com uma pequena pontada de decepção. Ele não se sentiu à vontade com o contato. A decepção aumentou quando ele começou a restabelecer os limites entre eles, embora ela não pudesse culpá-lo por isso. Inapropriado, uma parte dela sussurrou, e Hermione não podia discordar, mesmo quando desejava.

Inquieta, dobrando e alisando as bordas do lenço de linho, Hermione observou em silêncio enquanto Snape puxava outra cadeira. Sentando-se de modo que houvesse uma distância aceitável entre eles, ele a olhou. "Ouça-me, Srta. Granger. Sei que está sofrendo, mas preciso que se concentre. O Diretor advertiu você e os outros por um motivo. O Profeta de amanhã será uma obra-prima de propaganda do Ministério, criada pelo próprio Lorde das Trevas, para alimentar os medos da população bruxa."

"Como todos eles podem simplesmente aceitar isso? Por que ninguém questiona o que está sendo dito? Como as pessoas do Ministério podem simplesmente concordar com tudo o que um estranho que acabou de aparecer no Ministério está lhes dizendo?"