Capítulo 51

246 22 2
                                    

Joseph não pregou os olhos a noite toda. Era o inferno novamente. Em um instante ele pensou ter a plena felicidade: Venceria a guerra, e logo depois seria livre com Micaela. Mais feliz do que jamais foi. Então um balde de água é jogado em cima de ti, ele teria que matar Micaela. Suri se negava a comer e dizia o odiar. Micaela por sua vez, pensou que teria uma única noite tranquila. Teve lembranças dos dias felizes que teve com ele. Mas o interrogador voltou de madrugada, e tornou a fazer perguntas a ela. Como não sabia responder, voltou a apanhar. Uma vez deitada, ele lhe dava pontapés na região do ventre, lhe dava tapas, esmurrava seu rosto, puxava seus cabelos. Ela já não tinha mais forças.

- Meu filho está no maldito campo de batalha e essa guerra não termina, porque você não abre a boca, sua maldita! – rosnou ele, levantando o rosto dela, pelos cabelos.

- Eu juro, em nome de deus que eu não sei de nada. – disse rouca. A cabeça dela foi jogada com força sob a parede. Sangue fresco saia de sua cabeça, descendo pela parede. Micaela sentiu a visão turva. Estava morrendo? Ela não conseguia puxar folego direito. Joseph, eu te amo.

- Não poderá alegar que eu avisei. – disse a voz cortando o silencio. Micaela quase não ouvia, mas ouviu um barulho de osso quebrando, depois um baque no chão. Era o corpo do guarda, Joseph havia quebrado o pescoço. – Ei – disse, se ajoelhando. Micaela estava se sentindo perdida.

- Não sou... eu não sou a espiã. Eu juro. Eu não sei... – a voz dela falhava – Não sei de nada.

- Shhh, não fale.

- Estou morrendo. – puxava o ar – Não consigo segurar mais... posso pedir algo?

- Micaela... – suspirou.

- Fique comigo. – pediu ainda assim – Está tão frio, eu estou com medo. Não me... não me deixe aqui sozinha, por favor.

Joseph a olhou, os olhos lutavam em lagrimas. Não estava fazendo tanto frio. Ela o sentiu se sentando ao lado dela, pondo sua cabeça em teu colo. E ela sorriu. Joseph tocou o pescoço dela ensanguentado e suspirou. Estava febril. Ele apanhou a capa que trouxe para ela, e a cobriu.

- Obrigada – disse suspirando novamente.

- Posso pedir algo? – agora era ele quem estava chorando. Não quis esconder. – Não morra. – a voz dele falhou no final, mas ela não notou.

- Tentarei porque você pediu. – ela respirou fundo, tinha a visão turva – Se eu não conseguir... me perdoe.

E ela adormeceu. No primeiro instante ele entrou em pânico, achando que ela não teria resistido. Mas ela suspirou. A noite foi longa e dolorosa. Ele não conseguiu fechar os olhos, receoso. Ele queria que ela acordasse. Tê-la daquele jeito não era uma sensação que ele gostasse. Ele só soube que amanheceu quando houve uma movimentação do lado de fora da masmorra. Nicolas, Robert, Zach e Vanessa entraram e ambos observavam a cena.

- Sabíamos que estaria aqui. – Zach estava encostado a porta.

- O que vão fazer com ela? – perguntou na defensiva.

- Nós só queremos a verdade, Joseph. A vida dela não me tem valor, fique tranquilo. – Vanessa passou pelo corpo do guarda morto no chão. – Ela está quase morta. – concluiu, olhando Micaela – Dará tempo?

- Sim – Nicolas se aproximo. Joseph o encarou – Eu somente vou colocá-la na cadeira.

Joseph se moveu, e Nicolas se afastou. Joseph carregou Micaela, levando-a até a cadeira. Micaela acordou com o movimento repentino. Ela gemeu quando ele a sentou, suspirando.

- Eu consegui. – disse satisfeita, olhando para Joseph. Ele assentiu, sorrindo de canto. Nicolas puxou uma cadeira sentando-se de frente a Micaela. Vanessa se aproximou, tirando uma de suas luvas. Micaela sentiu um arrepio e um toque gelado em seu pescoço. Ela olhou para Joseph, estava assustada.

- O que estão fazendo? – estava confuso. Vanessa tocava Micaela, Nicolas observava seu rosto e Robert esperava um pouco afastado, com braços cruzados olhando o chão como se esperasse por uma história.

- Apenas ouça. – Zach instruiu Joseph, Micaela apenas olhava Joseph assustada.

- Olhe para mim. – Nicolas trouxe o olhar de Micaela para ele. A falta de resistência denunciava a fraqueza dela. Havia algo estranho no olhar de Nicolas. – Você vai continuar me olhando, e irá me contar a verdade. – Micaela assentiu. Joseph olhou Zach, incrédulo. – Como é o meu nome?

- Nicolas Alexander. – respondeu encarando-o. O que era aquilo nos olhos dele?

- Qual é o teu nome? – continuou.

- Micaela Clark.

- Você veio aqui nesse castelo com o objetivo de passar informações a Hades?

- Não. – respondeu encarando-o. – Eu fugi para cá. – Robert continuava olhando Vanessa, que parecia alheia.

- Por quê? – insistiu.

- Porque ele iria me prender, me violentar e me matar. – respondeu.

- E por que justamente para cá?

- Eu sabia que aqui era o único lugar no mundo que ele não teria coragem de vir atrás de mim. – Joseph queria perguntar o que diabos era aquilo, mas não interferiu.

- Você nos entregou em Willow creek? – perguntou sério.

- Não. Eu não fiz nada naquele dia.

- O que você fez?

- Eu não queria que Joseph fosse, mas ele foi. Estava com medo, nervosa por ele. Quebrei o retrato de Camila no quarto dele, pois se não fosse por ela, ele não teria ido. – Joseph ergueu a sobrancelha, estava surpreso – Depois limpei tudo, escondi o porta retrato e fui rezar para que ele voltasse. – relatou.

- Micaela, você é a espiã de Hades? – repetiu.

- Não. – negou convicta – Nunca disse nada a ele sobre o que vi e ouvi aqui dentro. Eu nunca sai do castelo desde o dia que cheguei. – Vanessa tirou a mão do pescoço dela.

- Não é ela. – informou passando para o lado do marido.

- Tu sabes que vai morrer. – continuou.

- Eu já estou morrendo. – respondeu calma.

- É sua última chance. – alertou.

- Eu amo tanto o Joseph, que estou renunciando a minha vida em silencio, por ele. Eu jamais o prejudicaria. Eu até tentei matar Hades, somente para que essa guerra acabasse. Não sou a espiã, não sei que é. – Nicolas a encarou em silencio por um instante.

- E por que eu deveria acreditar em você?

- Porque eu posso curar a menina. – respondeu calma. Joseph franziu o cenho, olhando-a. Ninguém soube o que dizer. 

Se entregando ao inimigoWhere stories live. Discover now