Introdução

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"___Às vezes, a tristeza é como uma sombra que nunca nos deixa, mesmo nos dias mais ensolarados___"

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"___Às vezes, a tristeza é como uma sombra que nunca nos deixa, mesmo nos dias mais ensolarados___"

Lucerys Velaryon estava encolhido no canto sombrio de seu pequeno apartamento no Brooklyn, observando o inverno dançar lá fora. O laudo médico, frio como o inverno que assolava Nova York, pesava em suas mãos. Câncer cerebral em estágio terminal. Seus dedos percorriam as linhas do papel, como se tentassem decifrar o enigma da própria morte.

A vida de Lucerys foi uma sucessão de tragédias, começando com a morte misteriosa de seus pais que ele nunca teve a chance de conhecer. Criado em um orfanato duvidoso, onde as sombras sussurravam segredos inquietantes, ele se tornou um jovem ambicioso, determinado a superar as adversidades.

Os cachos escuros caíam sobre sua testa enquanto ele relembrava o passado. Sua estatura baixa não o impediu de alcançar altos voos em sua busca pelo sucesso. Mas agora, diante da sentença de uma doença implacável, suas ambições pareciam pálidas e distantes.

Decidiu sair daquele cubículo sufocante e explorar o novo bar vitoriano que havia aberto no Brooklyn. A promessa de uma fuga temporária das realidades cruéis que o cercavam o impulsionou. A neve começava a cair quando Lucerys atravessou as ruas, seu fôlego visível no ar gelado.

O bar, uma relíquia do passado, recebia Lucerys com uma aura de nostalgia. A luz tremeluzente das velas e os móveis antigos transportaram-no para uma época que só conhecia pelos livros. Mesmo àquela hora tardia, a atmosfera vibrava com uma energia incomum.

Um homem, vestido com elegância antiquada, abordou Lucerys com um sorriso enigmático. A oferta de um drink duvidoso foi aceita, e o diálogo entre eles se desenrolou como uma dança de sombras. O homem, cujos olhos pareciam esconder séculos de conhecimento, desvendou um pouco da mortalidade e imortalidade, lançando Lucerys em um redemoinho de pensamentos.

—Você é um jovem tão bonito, mas com olhos tão vazios— o homem disse com a sua voz rouca e melódica.

—Você flerta de um jeito diferente— a doce voz de Lucerys saiu carregada de desdém, algo que não passou despercebido pelo desconhecido sentando em sua mesa, que o rapaz nem se deu ao trabalho de perguntar o nome.

—Você é, sem dúvidas, uma criatura intrigante—ele sorriu descontraído bebericando sua bebida— Mas dado ao modo arisco de sua pessoa, algo me diz que é a sua primeira vez nesse lugar— o homem deduz.

—Sim…— o moreno diz vagamente enquanto passa os lábios pela borda do copo de whisky— E um lugar bastante interessante devo dizer, e com uma atmosfera intrigante— diz.

—Bem, devo lhe dar razão— o homem sorriu de forma misteriosa— Esse lugar é realmente único— deu um último gole na sua bebida e secou o copo— E exatamente por isso que eu vou te deixar um conselho antes de ir— sua voz descontraída, agora estava num tom mais sério— Nem tudo é oque parece, cuidado com os bons samaritano que encontra por aí, pois nem uma ajuda é totalmente de graça— ele deu uma ultima olhada em Lucerys e saiu da visão periférica do rapaz.

Quando o homem partiu, deixando Lucerys só, o jovem dirigiu-se ao balcão. O barman, de semblante amigável, preparou-lhe outro drink enquanto as palavras sobre a morte pairavam no ar. Uma conversa estranha se desenrolou, puxando Lucerys para o abismo da reflexão existencial.

—Mais uma alma perdida no meu balcão—o barman de aparência amigável disse.

—Oh, você realmente conseguiu me definir em tão poucas palavras— Lucerys disse amigável enquanto admirava as habilidades do homem com os drinks.

—É um dom— disse— O'Que vai escolher para agraciar seus lábios essa noite?— o tom de voz do homem saiu bastante sugestivo, mas o jovem resolveu ignorar.

—Quero algo que combine como, será que você consegue criar esse drinks pra mim?— o tom do moreno saiu desafiador, e o barman não recusou o desafio, e minutos depois ele o entregou a bebida.

—Isso e…— o moreno parecia agraciado— Isso é realmente muito gostoso— deu seu primeiro sorriso sincero da noite— Eu nunca tinha bebido algo que fosse tão amargo, doce e apimentado ao mesmo tempo— falou.

—Você me pediu algo que te representasse, aí está— falou sério — Isso ai e a sua essência, e são coisas assim que nos despertam a vontade de viver, coisas catalogadas como impuras e mundanas— disse.

—Mas não importa o quanto você deseje desesperadamente viver— o efeito com álcool já estava no corpo do moreno— Quando seus dias já estão contados numa folha de papel barata— disse amargo.

—Ai que você se engana meu cliente— o barman sorriu travesso— A morte não é o fim, ela é apenas o começo da verdadeira vida eterna regada de luxúria e prazeres da carne, de riquezas e abundância— disse.

—Desculpe, mas eu não sou religioso— o moreno disse— Pra mim a morte é o fim. E onde a sua carne fria é afundada num buraco de terra e com o tempo apodrece para que o bichos possam se alimenta— ele disse de forma fria— Se tiver família, eles iram chorar por alguns dias sua perda e farão memoriais em sua homenagem, e depois de um tempo o mundo vai evoluir e ninguém vai lembrar de quem você já foi— o barman engoliu em seco com a frieza do belo rapaz a sua frente.

Enquanto os ponteiros do relógio avançavam, Lucerys sentiu a névoa do álcool envolvê-lo. O barman, com um misto de compreensão e melancolia, entregou-lhe um número de celular. "Caso mude de ideia sobre a morte", disse o barman. "Mas lembre-se, demônios e anjos são incapazes de amar algo além de si mesmos."

Embriagado, Lucerys agradeceu ao homem e saiu para enfrentar a noite fria. Com a mão estendida na avenida nevada, ele chamou um táxi para levá-lo de volta ao seu apartamento. As luzes da cidade passavam como fantasmas, e o número misterioso queimava em seu bolso, marcando o início de uma jornada sombria além da compreensão humana.

O táxi o deixou na entrada do prédio, e Lucerys subiu as escadas como se carregasse o peso do mundo. Ao entrar no apartamento iluminado por uma luz fraca, ele se viu refletido na janela, um homem à beira do abismo, pronto para explorar os limites do que significa estar vivo quando a sombra da morte o cerca.

THE DEVILWhere stories live. Discover now