Forever

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                 Lily Narrando 


Silêncio abrupto.

O meu surto de horas atrás parecia tão perdido diante da perda da vovó. Era uma sensação estranha, ninguém nunca tinha morrido na minha família, não diretamente, então, eu nunca tinha passado por esse processo e não sabia muito bem como lidar.

Era horrível. Eu chorei um bocado quando tia Paola me avisou sobre a morte, mas depois me calei e um mar de confusão me invadiu. Era muito triste pensar que nunca mais veria a vovó e o meu coração doía em pensar nisso.

Tia Paola tinha me arrastado para um pub, eu nem sabia que criança poderia entrar nesse ambiente, mas segundo a tia, nada que umas cédulas à mais de dinheiro não mudasse as regras.

Desde então, estávamos aqui. Eu com uma taça de sorvete enorme na minha frente, e ela bebendo cerveja alemã. Ela parecia pensativa e o seu semblante estava um pouco quebrado, eu não entendo muito bem sobre isso, mas ela não deveria estar com a tia Jimm?

Minha única vontade era de correr até as minhas mães e abraçá-las, principalmente a mamãe Freen que deve estar com o coração mais partido que o meu.

— A vida é uma puta que lhe fode em todas posições. — Tia Paola soltou depois de um gole de cerveja.

Arregalei os meus olhos ao ouvi-la.

— Eu não acho que a senhora deveria estar me dizendo essas coisas. — brinquei com a colher do meu sorvete. — Nem acho que deveríamos estar aqui...

Ela me olhou, jogando levemente a cabeleireira.

— Ah, é mesmo? — ela perguntou debochada. — Você não deveria ter tido um ataque de adolescente mimada no hospital e o fez. Que saber? Você é uma egoísta de merda.

— Tia! — exclamei chocada e magoada. — Eu não sou egoísta, só soltei tudo que estava preso dentro de mim.

— E você escolhe fazer isso quando a sua irmã e sua avó estavam à beira da morte e suas mães um poço de nervos? Oh, que menina boa, você. — deu de ombros. — Pelo menos, não precisa se preocupar, com a morte de Tisha o seu drama inesperado ganhou mais proporção.

Suas palavras me assustaram. Ela era tão dura com as palavras. Rapidamente, senti-me culpada e os meus olhos lacrimejaram, o barman me lançou um breve olhar antes de ajeitar as suas bebidas.

— Eu não queria que vovó morresse... — sussurrei. Eu sei que a culpa não era minha da sua morte. — E também não queria aumentar o desgosto das mamães, eu estava com medo e sozinha, eu e meus irmãos, as únicas pessoas que podiam nos confortar e transmitir segurança não estava conosco, eu surtei e me sinto mal por isso.

Tia Paola virou-se para me encarar, não sei o que os seus olhos verdes transmitiam porque não existia nenhuma emoção neles.

— Tudo bem, Lily. —  suspirou, pegando-me de surpresa. — Eu entendo perfeitamente, não foi num lugar apropriado, mas essas coisas nunca são. Por muitas vezes, dizemos e fazemos coisas que não queremos. Ou, guardamos tudo dentro de nós que vai crescendo feito uma bolha e quando estoura atinge muitas pessoas, por isso que é muito importante o diálogo. Leve esse conselho para a sua vida: Sente e converse. Um diálogo sincero e aberto pode evitar muitas mágoas, dores, más impressões e achismos.

Pisquei diversas vezes, sinceramente, eu não esperava essas palavras vindo dela.

— Você ainda é criança e tem muito o que aprender sobre a vida. —  deu um gole de sua cerveja. — Eu sei o que é ter pais viajantes, até porque na minha infância e adolescência os meus pais viviam viajando presos em seus mundos apaixonados. Eu me sentia só também. Eu sei também que Becky e Freen se sobrecarregam de trabalho, ou ás vezes, "foge" para suas viagens, mas uma coisa você nunca pode esquecer: Elas amam você e os seus irmãos.

— Eu sei, não duvido disso...

— Não duvide mesmo. Você e seus irmãos sempre foram o motivo da vida de Becky e Freen, eu achei que elas seriam super protetoras ao extremo depois da morte dos gêmeos, mas elas souberam ponderar isso.

Os gêmeos que mamãe Becky perdeu... Ela não era muito de falar sobre esse assunto, mas sabíamos que tinha acontecido e um tempo depois, milagrosamente, a mamãe Freen conseguiu engravidar do Pierre.

— Elas ás vezes, enchem o saco... — admiti.

— Tá vendo? Quando elas estão em cima, vocês acham ruim, quando elas estão deixando-os viver, vocês também acham ruim. — Tia Paola terminou a sua bebida e pediu outra. — A questão é o seguinte: A vida é feita de momentos, quando não conseguimos apreciar os momentos com as pessoas que amamos sempre achamos que estamos sendo negligenciados. Você aproveita os momentos com suas mães, mesmo que seja estar ao lado delas em casa ou assistindo um filme, ou conversando, etc?

— Bom... — franzi o cenho. — Geralmente, eu fico no celular... Os meninos também, com exceção do Pierre.

— É nesse ponto que eu quero chegar, se existe desleixo de suas mães, também existe de sua parte e dos seus irmãos também, com exceção do Pierre, é claro. — fez uma careta. — A culpa maior sempre será de Becky e Freen porque elas são as maduras nessa história toda, mas vocês também tem culpa no cartório. Aproveite as suas mães, nunca sabe quando ela pode morrer, veja a Tisha, coitada, morreu. — terminou de falar sem tato nenhum.

A fala de tia Paola me da medo. Medo de perder as minhas mães.

— Eu quero as minhas mães. — pedi assustada.

— Só depois de eu terminar a minha cerveja, aquiete o rabo aí, tá sendo egoísta de novo, pirralha? — me lançou um olhar cortante.

Encolhi-me no assento e os meus ombros caíram. Deus me livre contrariar a tia Paola...

True Love - FreenBeckyDonde viven las historias. Descúbrelo ahora