Zuko
Acordei com a cabeça latejando e me sentei na cama de uma vez só, piscando várias vezes até que a luz se tornasse suportável.
Me vi na minha cama naquele mesmo navio, onde os subordinados sempre se bandeavam para o lado de Iroh.
Mas por sorte meus planos com meu tio não eram falados caso não fosse algo que eles pudessem fazer.
Involuntariamente levei minha mão para meu peito e massageei, tirei a camisa e não vi nada ali.
Antes que os pensamentos viessem á tona a porta se abriu e meu tio veio com uma taça de vinho e um prato cheio de carne em uma bandeja.
-Precisa comer, não é por que levou uma flechada e sobreviveu que isso te torna indestrutível. -me apressei pra beber um pouco.
Me sentia frustrado pela noite de ontem mas queria saber o que mais aconteceu.
-Essas memórias me parecem estranhas, eu me lembro perfeitamente de tudo e era pra eu estar morto.
-Ela te salvou e fugiu depois.
Essa notícia quase me fez cuspir o vinho fora, me levantei caminhando de um lado para o outro.
-Tá brincando com a minha cara? -perguntei exasperada me sentando na beira da cama.
-Não. Eu vi tudo sobrinho, ela ainda te ajudou a fugir mesmo inconsciente.
Passei as mãos pelos cabelos tenso, seja qual for o joguinho dela eu não vou cair.
-Eu sei bem o que ela quer, acho que ela deve pensar que se salvasse a minha vida eu ficaria em dívida com ela. Mas isso não vai acontecer, assim que eu tiver a oportunidade irei atacar novamente.
-Francamente, precisamos de um plano mais astuto e de preferência longe da Nação do Fogo. Zuko, deixe de paranóia e relaxe.
-E tem como relaxar? Ela escapou pela segunda vez, fui idiota de ter baixado a guarda. Se eu tivesse...-não consegui terminar de falar, pois me senti frustrado.
-O fato de você a ter tirado de lá deve ter feito ela ter uma consideração por você. Use isso a seu favor! -ele bebeu mais um pouco e eu juro que se ele falasse algo que me irritasse eu iria quebrar essa garrafa na cabeça dele.
Pensei por alguns instantes e saí do quarto, andando pelo navio até chegar no convés e me encostar no parapeito de madeira.
Não bastasse o meu fracasso e ainda tinha que conviver com o fato de que ela me salvou.
Passei a mão em meu peito novamente, não havia um resquício que ali foi cravada uma flecha.
Aquilo me deixava frustrado, não queria ser tão fraco ao ponto de me deixar ser atingido por uma flecha.
Não devo demonstrar fraquezas, sou o príncipe do Fogo que deve provar dignidade e assumir todo o controle no lugar de Iroh só pra ter o gostinho da vitória.
Passo a mão pelo meu rosto, tocando a máscara que esconde metade do meu rosto queimado.
Flashback
As várias vezes em que treinei duro com meu tio Zhao não fizeram tanto progresso quando eu era um adolescente de quase 14 anos.
Meu pai esperava muito de mim por ser o filho mais velho, mas até ali nunca manifestei grandes fascínios por batalhas.
Minha área sempre foi formas de me expressar através da arte, por isso o respeito da minha família por mim se declinava ao desgosto.
Uma nação inteira esperava muito de mim mas ainda nem tinha chegado na adolescência direito, a pressão constante costumava me deixar aflito com noites sem dormir.
Deixo meus desenhos no quarto assim que escuto a voz de Iroh me chamando pra descer no salão principal.
Caminhando até lá vejo algumas espadas, meu irmão dentro de um círculo de fogo enorme e minha irmã Azula observando tudo.
Azula tinha um talento excepcional em ser a pior irmã mais nova com seu deboche e sarcasmo exacerbados herdados pelo meu pai.
-O que é tudo isso? -mas a pergunta foi respondida assim que meu pai me empurrou para dentro do círculo de fogo onde Iroh estava.
-Prove que é um homem de verdade e duele com seu irmão. -sua voz imponente me fez sentir um nó na garganta.
Peguei uma espada com as mãos trêmulas, olhei pra Azula e ela sorria diabólicamente.
-Eu não vou lutar contra meu próprio irmão. -largo a espada no chão, fazendo murmúrios preencherem o salão e meu irmão rir.
-Ah, você vai sim. Há anos espero um resultado convincente de um herdeiro do fogo e você não manifestou nenhuma grandeza. Como quer governar tudo isso aqui?
Respirei fundo, eu tinha uma simples escolha mas sabia que se eu participasse iriam ocorrer mortes.
Na noite passada meus poderes ficaram bem mais fortes, senti dores e uma nescessidade de fugir pra bem longe.
Se eu usasse tudo de mim talvez Iroh nem sobrevivesse.
Não gosto de Iroh, mas também nunca o mataria, ainda mais na presença do meu pai.
-Que foi Zuko? Com medo? -a voz de Iroh fez algo em mim arder.
Ok talvez eu tivesse vontade de dar uma boa lição nele, mas mesmo assim seria arriscado e minha consciência me cobraria depois.
-Não. Eu não quero te machucar.
Nesse momento ele caiu na gargalhada e ouvi alguns passos do meu pai entrando na roda de fogo.
-Você é um covarde. -essas palavras ecoaram em meus ouvidos e paralisei.
Ser chamado de covarde na Nação do Fogo era um dos piores xingamentos, pois a falta de coragem era intolerável ali.
Olhei pra Iroh que se recompôs sentindo uma raiva enorme, minhas mãos exibiram duas bolas de fogo reluzentes.
Meu pai, meu irmão e Azula me encaravam com surpresa.
-Atinja ele. -meu pai ordenou, fazendo com que Iroh largasse a espada de susto e ofegasse.
Olhei pra Iroh com toda a intensidade da minha raiva, meu olhar deveria estar com fogo nas pupilas pelo jeito que ele me olhava.
As chamas se intensificaram, mas logo as fiz apagar e me afastei sentindo um gosto amargo na boca.
-Covarde! -meu pai gritou, logo depois senti meu rosto arder cada vez mais e mais.
Me ajoelhei no chão gritando, a ardência e logo depois o sangue escorrendo pelo meu pescoço até minhas vestes.
Comecei a chorar involuntariamente, depois alguém veio até mim e me cobriu com uma capa, me levando pra longe.
Zhao se tornou meu guardião até minha maioridade e me manteve longe do palácio.
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Penumbra - Os Quatro Elementos
FantasyEleonor Clearwather sempre se destacou em muitas das coisas que fazia, mal fazia idéia de que esses destaques tinham algo a mais do que inteligência.