🌊Capítulo 1🔥

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Meus olhos não obedecem áquela claridade absurda, parece que tudo naquele lugar me faz ter dor de cabeça e um humor nada tolerável.

Fazem duas semanas que fui parar aqui, em um reformatório para garotas em algum lugar perto de Longe Island.

Meu uniforme é dois tamanhos acima e por isso tenho que dobrar as barras da calça e as mangas do blusão laranja.

A notícia que eu supostamente matei meu padrasto foi parar na mídia, minha mãe nem sequer veio me visitar e aparentemente ela sente desgosto.

Não a culpo, mas ao mesmo tempo ter dependência emocional naquele babaca me faz questionar a estupidez dela.

Os acontecimentos de duas semanas atrás me fez questionar minha saúde mental, talvez aquele idiota tenha colocado algumas drogas no suco na hora do jantar.

A coordenadora daquela maldita penitenciária marcou uma psiquiatra pra mim, as outras garotas tiram proveito disso para me chamarem de louquinha ou pirada.

Mas não é como se eu fosse a única que passava em psiquiatra, Katie era uma garota acima do peso e dentuça com sérios problemas de psicopatia e atentou contra a vida do próprio irmão.

Não fiz amizade alguma mas aparentemente as inimizades são bem fáceis de se fazer quando acidentalmente derramei o suco de uva em Katie.

Por mais que eu dissesse que alguém havia colocado o pé na minha frente, ela simplesmente ignorou e me asfixiou na parede suja do refeitório.

Eu e mais algumas garotas estávamos sentadas em cadeiras duras, eu era a próxima da fila e quando a porta se abriu e uma voz chamou meu nome eu quis me enterrar em um buraco.

Notei que a decoração daquela pequena sala se remetia igual a dos filmes que sempre vi, uma iluminação amarelada e muitas plantas, principalmente a poltrona e um sofá reclinável de couro marrom.

-Se deite no sofá e me conte o que exatamente você sente.

Não sei o que sinto, nem ao menos parei pra refletir sobre minhas emoções com tanta coisa na cabeça.

-Eu não sei.

-Compreensível, dada ás circunstâncias você ainda não deve saber assimilar o que fez e suas emoções estão bloqueadas com o choque.

-Alguém te passou uma ficha completa sobre meus "problemas mentais"?

-As aspas são relativamente usadas para supor algo, mas sim, tenho seus dados aqui. Eleonor Clearwather, daqui dois dias completará a maioridade certo?

-Acho que sim.

-Sabe o que vai acontecer quando completar a maioridade certo? -ela me encarou através dos óculos meia lua.

-Não sei.

-Irá para a prisão se não alegar sérios problemas mentais, o que suponho que tenha negado até agora.

-Eu não tenho problemas mentais.

Falei secamente já pensando em me levantar, mas pensei melhor e lembrei que tinham seguranças lá fora.

Dobrei a manga da camisa pra mostrar a cicatriz, mas não havia mais nada ali.

Procurei pela cicatriz e notei que ela escrevia em seu bloco de notas.

-Não sei o que tá escrevendo aí mas eu não tenho problemas mentais.

-Mesmo que não tenha, querida, isso pode te salvar no seu julgamento amanhã.

-Eu não tenho, se tá aí nessa porra dessa folha o que eu disse, eu posso falar denovo, alguém matou ele e depois tentou me sequestrar. Não sei de onde diabos ele surgiu mas aí um cara de cabelo azul apareceu e uma luz verde...

-Quando seu padrasto tentou abusar de você, você bateu a cabeça em algum lugar? -ela me cortou e senti meu sangue ferver.

Me sentei novamente e a encarei, uma parte de mim queria quebrar aqueles óculos e fazer ela engolir caco por caco.

-Não. -minha voz agora se tornou intimidadora.

-Ele usava drogas, não usava? E se acidentalmente você...

-Que tipo de psiquiatra você é?! Eu nunca sequer usei algo em minha vida! -me levantei e nesse instante dois seguranças entraram.

Agarraram meus braços e ombros e me levaram para fora da sala, as outras garotas olhavam para mim surpresas e algumas riram.

Passei o resto do dia até o início da noite no isolamento, que consistia em um chão duro, uma privada e algumas garrafas de água.

Sem luz nem aberturas senão as grades embaixo da porta.

Se eu falasse sobre minha claustrofobia talvez nem ligassem, por isso sofri sozinha com falta de ar e uma ansiedade crescente.

Bem que ouvi que a sala de isolamento muda as detentas, porém Katie, a mais problemática delas ainda continua um pé no saco.

Uma das garotas me falaram que ela gosta de pegar no pé das recém chegadas mas depois de um tempo se cansa e vai atrás de outras, mas já fazem duas semanas nesse esquema.

Fui acompanhada por uma segurança até no refeitório, olhares me seguiram enquanto tomei um lugar entre as outras recém chegadas com uma bandeja e um suco.

Não olhei diretamente para elas, a ansiedade crescente ainda me dominava e por mais que eu estivesse em um local menos fechado, ainda me sentia sufocada.

Penumbra - Os Quatro ElementosOnde histórias criam vida. Descubra agora