Como se livrar de um moleque apaixonado

Capítulo 26 - Vazio.

— Você vai mesmo fazer isso? — A voz de Rajesh não tentava esconder a sua discordância em relação à decisão tomada pelo amigo, embora desde a última discussão, ambos tivessem feito uma promessa solene: não interferir nas escolhas um do outro.

Dylan respirou fundo, pegando a caixa de transporte com Dorothy, a última coisa que restou em seu apartamento, e entregando-a ao amigo. Com um gesto lento, retirou as chaves do bolso e deixou para trás o vazio do lugar que um dia chamou de lar. Seus erros, haviam sido muitos, mas um se destacava entre todos: sua persistência em carregar consigo as dores do passado.

Enquanto permanecesse ali, naquele ambiente carregado de memórias dolorosas, nunca seria capaz de seguir em frente. Dylan se agarrou ao luto pela perda de sua mãe por tempo demais, permitindo que essa dor se tornasse sua única companhia. E então veio Brian... como ele se apegou a Brian. Cada momento feliz era um bálsamo para sua alma ferida, mas também se prendeu às lembranças tristes de uma maneira que sufocava qualquer nova tentativa de seguir em frente.

Agora, enquanto deixava para trás as paredes que testemunharam seu sofrimento, Dylan compreendia que precisava liberar-se do peso do passado para poder construir um futuro verdadeiramente novo.

A decisão foi tomada no momento em que Dylan viu Brian deitado naquela cama de hospital. Desde então, não ousou visitá-lo. Hoje marcava uma semana desde o acidente, um tempo que Dylan dedicou meticulosamente à organização de seus poucos pertences e à busca por um novo apartamento.

Se não fosse por ele, nada daquilo teria acontecido. Reconhecia agora que não havia atitude mais egoísta do que querer Brian para si. Matthew o amava, tanto quanto Dylan, e seria capaz de oferecer uma vida muito mais estável e feliz. Ao contrário de Dylan, eles não começaram errado. Não havia uma diferença de idade absurda, não estavam envoltos na mesma teia de confusão e arrependimentos.

Ao chegar ao novo apartamento, acompanhado pelo caminhão que transportava seus móveis, Dylan sentiu uma sensação de alívio. Em apenas uma hora, ele já havia organizado o essencial para sua estadia ali. Apesar de não estar longe do lugar anterior, sua intenção não era fugir. Era recomeçar.

Xxx

Naquela manhã, após sete dias de internação, Brian finalmente recebera alta hospitalar. Mesmo com uma lista extensa de contraindicações, ele mal podia esperar para deixar aquele ambiente clínico para trás. Matthew, esteve ao seu lado todos os dias, intercalando poucas horas com sua mãe. Brandon também apareceu com sua esposa e filho em algumas ocasiões. No entanto, Dylan, não apareceu novamente. Cada abertura da porta do quarto era acompanhada por uma ponta de esperança de ver o rosto de Dylan, mas acabava em decepção.

— Matthew... — começou Brian, enquanto calçava os sapatos para deixar aquele quarto de hospital. Durante todo o período da internação, ele tentara conversar com Matthew sobre a situação, mas ele insistiu que aguardasse sua alta antes de abordar o assunto. A constante presença de Matthew ali todos os dias, tentando animá-lo e aliviar sua dor, deixava Brian ainda mais ansioso.

— Ainda estamos no hospital. — foi a resposta que recebeu, enquanto Matthew o apoiava, ajudando-o a sair do quarto. Com dificuldade, Brian entrou no carro, e com Matthew assumindo a direção, partiram em direção ao apartamento de sua mãe.

Ao chegarem ao prédio e subirem até seu andar, Brian encarou a porta ao lado imaginando se Dylan estaria ali o ouvindo chegar, enquanto sua mãe se aproximava para abri-la. Com um abraço cuidadoso, ela o recebeu, seus olhos vermelhos denunciando as lágrimas derramadas.

— Você vai ficar no quarto do Brandon — disse sua mãe, deixando Brian confuso. — É mais próximo do banheiro — explicou. Brian concordou e, com a ajuda de Matthew, dirigiu-se ao local.

Sentou-se com dificuldade na cama e observou enquanto Matthew guardava suas coisas sem pressa

— Matthew... — chamou Brian, e o moreno virou sua atenção para ele, seus olhos marejados quebrando ainda mais o coração de Brian.

— Eu sei — foi tudo que Matthew conseguiu dizer, sua voz embargada lutando para conter as lágrimas. Ele não queria tornar aquilo mais difícil do que necessário. Caminhou em direção ao loiro e sentou-se gentilmente ao seu lado na cama, acariciando seu braço.

— Matt, eu... — começou Brian, mas foi interrompido.

— Você sabe que merece muito mais, não sabe? — perguntou Matthew retoricamente, enquanto as lágrimas escapavam silenciosamente por seu rosto. Brian sentiu o ardor em suas feridas aumentar ao perceber que também chorava. Era um momento de vulnerabilidade compartilhada entre eles, onde as emoções transbordavam, reforçando a conexão profunda que existia entre os dois. Brian assentiu com a cabeça, sua certeza inabalável de que Matthew não merecia passar por aquilo era como uma punhalada em seu coração. A dor em suas costelas não se comparava ao que sentia ao ver o quanto estava magoando o moreno.

— Eu te amo — admitiu, recebendo uma risada triste em resposta. — Espero que possamos ser amigos — confessou.

— É... — Matthew concordou, tentando um abraço no loiro com cuidado e delicadeza, como se estivesse tentando guardar aquele momento para sempre. Ficaram ali por alguns minutos, até Matthew ter coragem para se afastar. — Você sempre poderá contar comigo — disse, com uma mistura de tristeza e carinho em sua voz.

— Eu sei — Brian respondeu com um sorriso triste.

Ele realmente sabia. Não conhecia ninguém no mundo em quem pudesse confiar mais do que em Matthew. Tudo com o moreno parecia fácil, até mesmo aquele momento, por mais doloroso que fosse, era de certa forma fácil. Matthew era perfeito para ele, sinceramente, Brian achava que ele era perfeito apenas. Para ele ou para qualquer pessoa que tivesse a sorte de tê-lo. Não havia ninguém mais gentil. Desde o primeiro dia no hospital, ele sabia, e mesmo assim nada mudou. Brian desesperadamente queria escolhê-lo. Seria mais leve, mais tranquilo. Mas não podia fazer isso. Matthew merecia mais, muito mais. Matthew merecia certeza, algo que Brian não podia dar. Ele o amava, como o amava, e mesmo assim não era suficiente.

O dia passou dolorosamente para Brian. Matthew ainda lhe mandou uma mensagem avisando quando chegou em casa, trazendo certo conforto ao medo de nunca mais vê-lo. Mas as horas continuaram a passar, deixando a aflição crescer no coração do loiro. Onde estava Dylan? Eventualmente, sua ansiedade superou as demais emoções e, com passos muito lentos e cheios de dificuldade, ele decidiu que não iria mais esperar.

Esperou alguns minutos, batendo na porta e tocando a campainha, mas não obteve resposta. Estranhando a falta de retorno, buscou pela chave reserva que sabia onde Dylan escondia, apenas para abrir a porta e se deparar com o vazio. Um vazio que ecoava em seu peito, acelerando seu coração e fazendo-o sentir o ar quente saindo pelas suas narinas.

— Que porra é essa? — perguntou ao apartamento vazio, sua voz carregada de raiva e frustração. Não fazia ideia de onde Dylan estava, mas estava determinado a encontrá-lo.

E matá-lo.