Capítulo 8 - Mentiroso.

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Dylan não soube dizer por quanto tempo permaneceu naquela cama ao lado do loiro, que acabou adormecendo em algum momento. Ele só retornou à realidade quando ouviu a porta da frente se fechar. Com cuidado, Dylan saiu da cama, tentando ao máximo não acordar o jovem ao seu lado, que agora parecia calmo e sereno, uma imagem totalmente diferente daquela que estava gravada em sua mente momentos antes. A conversa com Brian o deixou sentindo-se encurralado e extremamente desconfortável. Conhecia o loiro desde que tinha uns cinco anos de idade, usava chupeta e pronunciava as palavras incorretamente. Não era propositalmente que ainda associava o jovem com a criança de anos atrás, para ele era impossível não o fazer. Ele sempre foi para si o irmãozinho chato e inconveniente do seu melhor amigo. Repassou inúmeras vezes as palavras do mais jovem e não pode evitar em imagina-lo transando. Ele havia insinuado ter ido além com seus antigos parceiros, e isso causava uma sensação incômoda em seu estômago. Brian era menor, mais novo e, de certa forma, até mesmo angelical. Dylan não podia deixar de associá-lo à pureza. No entanto, a atitude do mais novo e sua habilidade ao tocá-lo, mesmo que brevemente, o fez questionar se ele era realmente possuidor de tal inocência.

— Boa tarde, senhora Hammer. — Dylan cumprimentou a mãe do namorado ao chegar na cozinha, anunciando sua presença.

— Dylan, querido. Que surpresa lhe ver aqui. — A senhora de cabelos loiros como os dos seus filhos se aproximou do homem e lhe depositou um breve beijo nas bochechas. — O Brian está com você? —

— Ele está dormindo. — Explicou.

— Já? Ele havia comentado que iria a praia com você. Não posso negar que fiquei bastante surpreendida. —

— Eu também. Ele pisou em uma concha e machucou o pé, por isso voltamos mais cedo, eu o trouxe para casa e cuidamos do ferimento. — Falou rapidamente para evitar causar uma preocupação desnecessária.

— Meu garoto é mesmo um desastrado. Obrigada por cuidar dele, Dylan. — A mulher agradeceu com um sorriso delicado em seus lábios.

— Não foi nada, apenas limpei o machucado. —

— Não falo apenas disso. Ele se sente sozinho desde que o Brandon se mudou e ficar com você tem sido uma boa distração. Só espero que ele não esteja exagerando na estadia. Brian não é muito de limites. — Comentou entre risos.

— Tem sido bom para mim também, também sinto falta do Brandon. — Assumiu.

— Fico feliz. Você sabe Dylan que eu o vejo como um filho. E sempre que precisar, quiser um café ou se sentir solitário você pode contar comigo. A porta está sempre aberta. —

— Agradeço, também tenho muito carinho pela senhora. — Normalmente Dylan ficaria desconfortável com esse tipo de conversa, mas desde o falecimento da sua mãe, a proximidade com a família do amigo cresceu muito e ele se sentia quase da família.

— O tempo passa tão rápido, meu jovem. Semana que vem o Brian estará completando dezessete anos. Dezessete anos, acredita? Meu bebê... — Suspirou pesadamente, como se o envelhecimento do caçula lhe causasse uma dor, refletida em seu suspiro carregado de nostalgia e preocupação.

— Verdade... —Dylan concordou não sabendo como opinar e tentando esconder a leve surpresa ao saber que o aniversario do Brian se aproximava.

— Tem sido difícil controlar o coração. Primeiro o Brandon se casa, não me leve a mal eu gosto muito da minha nora, mas eles precisavam ir para uma cidade tão distante? E agora o Brian vem com essa bolsa... Eu fiquei muito orgulhosa, sabe? Mas é tão distante. —

— Que bolsa? — Dylan se surpreendeu pela curiosidade que sentiu.

— Brian não comentou com você? — Indagou surpresa. — Semana passada ele recebeu uma carta da Universidade lá na capital. Eles estão oferecendo uma bolsa integral para quando ele terminar o ensino médio esse ano. —

— Nossa! Bolsa por conta do futebol? —

— Não, apesar de ter certeza que vão aparecer algumas propostas das universidades mais atléticas, essa bolsa é um programa de ciências. Ele ganhou depois da competição dos Matletas. —

— Matletas? — Dylan estava confuso com as informações que a mulher lhe dava.

— É, acho que foi na primeira semana do verão. Ele foi para uma competição nacional. É algo bem concorrido, sabe? Ninguém deste estado jamais tinha sido aprovado. Cálculo avançado, física quântica... Confesso que não entendi nada enquanto assistia da plateia. — Dylan explicou, relembrando o evento com uma mistura de orgulho e perplexidade pela complexidade dos temas abordados.

— Pensei que ele tivesse sido reprovado em matemática. — Dylan comentou mais para si mesmo do que para a mulher à sua frente, enquanto fazia um cálculo mental e constatava que o campeonato havia ocorrido exatamente na semana em que o mais novo desaparecera por estar supostamente de castigo.

— Reprovado? — Ela riu. — Aquele menino é um gênio.Não sei como fui ter dois filhos tão inteligentes. Quer dizer, três. — Se corrigiu alisando o ombro do moreno em sua frente.

— Senhora Hammer, eu preciso ir. Desde que chegamos ainda não tomei banho. —

— Claro, meu querido, mas pare de me chamar assim. Eu sou a Sophie. — A mulher repetiu, já havia perdido as contas de quantas vezes havia pedido ao rapaz para lhe chamar pelo nome, mas sempre era ignorada.

— Até logo, Senhora Hammer. — Dylan ignorou novamente o pedido da mulher e deixou o apartamento após um breve beijo na bochecha dela.

Ele estava estupefato com as informações que acabara de receber. Ao entrar em sua casa, caminhou automaticamente até o banheiro. Sua cabeça estava uma confusão com as informações contraditórias. Será que Brian havia mentido para ele o tempo todo? Isso significava que ele teria planejado toda a história da aposta apenas para enganar o mais velho e satisfazer seus próprios desejos? O garoto não poderia ser tão astuto assim, poderia? A água da ducha começou a cair sobre seu corpo, e as gotas geladas pareciam arder em contato com sua pele quente. O menino que ele conhecia, o moleque com dentes de leite e dificuldade em matemática, não existia mais. 

Desde quando? Brian havia crescido e mudado em algum momento de sua trajetória, um momento que passara despercebido pelo mais velho. Será que ele ao menos conhecia o jovem que vinha passando a maior parte do seu tempo nos últimos quatro meses? Sentia-se trapaceado por um pirralho e estúpido por ter sido tão facilmente manipulado. O irmão caçula de seu melhor amigo revelava-se um gênio pervertido e manipulador. 

Não fazia ideia do que pensar. Apesar da pouca proximidade, sempre imaginara que o garoto fosse uma boa pessoa, mas agora já não tinha mais tanta certeza. Será que Brandon sabia disso e apenas ele era ingênuo ao ponto de achar que o loiro continuava a mesma criança que conheceu tantos anos atrás? Dylan tentou buscar em suas memórias sinais de que o garoto havia mudado, mas se repreendeu ao perceber que jamais havia prestado atenção suficiente nele para perceber qualquer mudança de comportamento. Inclusive, em relação às antigas relações que o mais novo afirmou ter. Não lembrava de tê-lo visto com garotas, nem com garotos. Na verdade, não lembrava de nada em relação ao menino.

Dylan sempre soube que se isolava do mundo, mas será que havia se isolado tanto ao ponto de não perceber coisas tão importantes em uma pessoa com quem tinha contato desde sempre? Tudo bem, nunca foram amigos próximos, mas a convivência era considerável, já que passava muito tempo na casa que Brian dividia com o irmão. Lembrava-se da Senhora Hammer com alguns namorados e amigas, saindo para encontros e festas, mas em relação ao jovem, nada. Ele era como um rastro de fumaça que passava despercebido por Dylan. Sempre presente, mas nunca pautável.

Ao término do banho, enquanto se enxugava, Dylan sentiu a cabeça latejar. Inclinou-se para frente, os olhos se apertaram momentaneamente, e um som agudo escapou de suas narinas, enquanto seu corpo se sacudia em um espirro vigoroso.

— Droga! — Exclamou Dylan, irritado. — Ótimo, estou adoecendo. —

Como se livrar de um moleque apaixonadoKde žijí příběhy. Začni objevovat