Capítulo 2 - Pela estrada de tijolos amarelos

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Dylan estava surpreso. Não imaginava que o moleque iria sumir depois daquele dia, mas foi exatamente o que aconteceu. Hoje completava uma semana desde que aquele "relacionamento" havia começado e, desde então, nunca mais vira Brian. Nem mesmo se esbarraram nos corredores como ocorria com frequência, já que Brian fazia questão de sair nos mesmos horários que Dylan. A ausência abrupta de Brian deixava Dylan intrigado e, de certa forma, aliviado.

Dylan não pensou que seria tão fácil assim. Bastou ceder ao que Brian queria para que o garoto deixasse de insistir. Sorriu involuntariamente no metrô, a caminho de sua casa, sentindo um peso sendo tirado de seus ombros. Além disso, ele não havia mais conversado com Brandon sobre o assunto, pois o amigo estava ocupado demais com sua nova vida: casamento, trabalho, mudança de cidade e adaptação à nova casa. Tudo isso de uma só vez poderia enlouquecer qualquer pessoa. Dylan entendia que seu amigo estava passando por um momento de grande transição e preferiu não sobrecarregá-lo com seus próprios dilemas.

Já conseguia imaginar sua cama. Estava exausto. Devido a um grande corte no orçamento da empresa em que trabalhava, muitas pessoas estavam sendo demitidas. Dylan se sentia seguro, pois sabia que era muito bom em seu emprego, mas a atmosfera pesada e desagradável causada pelas demissões afetava o ambiente de trabalho. Ele não tinha nenhum grande amigo na empresa, na verdade não tinha grandes amigos em lugar algum. Com exceção de Brandon, que conheceu ainda na escola, Dylan não havia feito amizade com mais ninguém. Não tinha paciência para as pessoas e elas não tinham para ele. Era um sentimento mútuo de desprezo.

Dylan não entendia por que deveria elogiar uma criança se ela parecia ter cara de joelho, ou por que deveria ceder lugar a uma mulher se ele estava tão cansado quanto ela. Ele não perguntava como as pessoas estavam, pois não poderia se importar menos com a resposta. Gostava da sua vida assim. Apenas dele.

Dylan foi surpreendido quando as portas do elevador se abriram. Brian estava sentado em frente à sua porta, batucando algum ritmo acelerado com os dedos e usando fones de ouvido tão altos que Dylan tinha certeza de que, se forçasse a audição, conseguiria identificar a música que tocava. O garoto estava tão entretido em seu som que nem percebeu a chegada do homem. Foi somente quando Dylan o chutou delicadamente que seus olhos se levantaram para encontrá-lo, abrindo automaticamente um largo sorriso que não passou despercebido pelo mais velho.

— Oi! — Brian cumprimentou animado, levantando-se rapidamente e retirando os fones de seus ouvidos, enfiando-os de qualquer jeito no bolso traseiro de sua calça jeans.

— Não sabia que você tinha tirado os aparelhos. — Comentou Dylan retirando a chaves do seu paletó e abrindo a porta da sua casa.

— Tirei ano passado. — Respondeu Brian, visivelmente irritado pela falta de atenção que o mais velho tinha nele. Seguiu Dylan para dentro do apartamento como sempre fazia. Brian não esperava por um convite, pois sabia que morreria esperando. Ele apenas entrava, mas dessa vez ficou um tanto quanto receoso, afinal ainda não sabia muito bem como agir diante da atual situação.

— O que faz aqui? Pensei que havia morrido. — Comentou Dylan casualmente, já se repreendendo mentalmente por sua falta de gentileza. Lembrando da promessa que fez a Brandon, ele tentou suavizar seu tom. Afrouxou a gravata em torno de seu pescoço e colocou sua maleta em cima da mesa ao lado da porta.

— Desculpe por ter sumido. Reprovei uma matéria e minha mãe me prendeu em casa no estilo século XV. — Respondeu Brian, já tirando seus tênis pretos e deixando-os jogados de qualquer forma perto da porta.

— Século XV? — Dylan respirou fundo, pegando os tênis e arrumando-os perfeitamente no tapete. Ele odiava bagunça e não conseguia evitar a necessidade de manter as coisas organizadas, mesmo que fosse um gesto pequeno como arrumar os sapatos de outra pessoa.

Como se livrar de um moleque apaixonadoWhere stories live. Discover now