Capítulo 12: Uma floresta viva

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Os Natirios eram um povo proveniente da natureza, os seus corpos eram feitos inteiramente de madeira e pedra, não tinham cabelo ou qualquer coisa que tapa-se a cabeça, os seus membros eram raízes entrelaçadas umas nas outras, e a maioria tinha musgo agarrado às costas ou ao peito, alguns chegavam mesmo a carregar flores e fungos. Os seus rostos eram vagamente humanos com duas pequenas pedras pretas reluzentes a fazer de olhos, dois orifícios a fazer de nariz, as orelhas limitavam a dois pequenos buracos um de cada lado. Por aquilo que os dois analisaram tanto havia machos como fêmeas uns maiores que os outros mas todos bem maiores que eles. Os Natirios machos eram quase todos desprovidos de musgo ou plantas no seu corpo mas estavam cheios de uma expressão severa e desconfiada enquanto que as fêmeas usavam a natureza como um vestido e encaravam os três com olhares meigos e curioso, os machos eram quase todos de cor castanha enquanto que as fêmeas adquiriam um tom verde igual a cor das folhas. No final eram um outro povo completamente diferentes dos humanos mas tão ou mais capazes que eles.

-Apresento vos os Natirios - Sussurrou Crainer aos irmãos, contente por eles finalmente terem parado de se comportar como crianças pequenas.

Bell soltou um "Uau" mudo enquanto via cada vez mais Natirios a revelar a sua presença. Assim como os irmãos também Crainer se distraiu com os Natirios, oferecendo a Bell a chance de se libertar. Crainer desistiu mesmo antes de começar a perseguir Bell, a euforia do rapaz juntamente com o seu dom de nunca se cansar tornavam-no num alvo difícil de perseguir. Os Natirios eram um povo pacífico e Crainer duvidava que lhe fizessem algum mal e não viu nenhum mal em deixá-lo correr por ali, afinal era uma criança que tinha vivido sempre dentro de enormes paredes, longe do mundo exterior, privado de conhecer o mundo onde nascera. Não era capaz de o privar do conhecimento que o próprio Bell julgou ser muitas vezes incansável.

Bill por sua vez tentou manter-se afastado deles pelo menos até ter a certeza que não representavam nenhum perigo. Tentou chamar pelo irmão várias vezes, algumas delas até gritou no entanto Bell estava demasiado distante para o ouvir. Bill conformou-se que nada de mal poderia acontecer ao irmão enquanto Crainer lá estivesse e sem mais delongas desistiu de o chamar e foi explorar um pouco da floresta que estava ao seu redor. Bill não podia dar um passos sem que primeiro tropeça-se em duas ou mais raízes de árvores, o piso era muito irregular, quase tudo coberto com galhos ou raízes traiçoeiras, e foi ao tropeçar que Bill sentiu ter encontrado algo bastante interessante. Uma árvore como tantas outras, porém havia algo nela que captava a sua atenção aproximou-se a passos largos estudando-a á distância. Ao contrário das outras árvore, que se esticavam vários metros acima da sua cabeça, sempre acompanhadas dos seus ramos que abanavam a mínima brisa. Esta chamou-lhe a atenção por causa dos seus inúmeros ramos irregulares e do seu reduzido tamanho, só depois de se aproximar é que Bill reparou que não era uma árvore mas sim uma escultura em madeira. Sem se aperceber Bill entrou numa pequena clareira onde a luz do sol iluminava a escultura e fazia reluzir tudo o seu esplendor.

A escultura em si representava um Natirio de braços esticados para o céus e com a cabeça inclinada para trás, dos seus braços e das suas mãos provinham várias raízes, esculpidas com enorme mestria, as raízes em si pareciam mais correntes do que raízes, estavam fortemente presas ao solo e aos pulsos da escultura os membros de madeira tinham sido esculpidos tão detalhadamente que Bill duvidava se aquilo era mesmo uma escultura.

Não conteve a curiosidade e estendendo as mãos tocou no rosto, era áspero ao toque contudo notava-se a suavidade com que tinha sido esculpido depois de analisar a cabeça passou aos braços, raízes cuidadosamente detalhadas enroscadas umas nas outras assemelhando-se bastante a pele humana. Tal como no interior da floresta também havia raízes espalhadas pelo chão mas cada raiz estava direcionada a uma árvore, seguiu as raízes que pareciam ter sido esculpidas através do seu corpo e trabalhadas de forma a que se ligassem a outras esculturas. Mas ao contrário daquela que Bill estivera a analisar as outras esculturas pareciam não ter sido acabadas ou pelo menos assim parecia. Outros corpos, de outros Natirios que aparentavam estar presos em outras árvores todos presos da cintura para baixo, esticavam os braços enraizados em direção ao outro Natirio como se vissem nele a liberdade e ignorarem as correntes que o prendiam.

Portadores de sonhosWhere stories live. Discover now