Capítulo 14: Desacatos noturnos

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Catria deu a conhecer a Bell o melhor da sua cidade começando pelas barraquinhas de comida, onde Bell chorava ao comer o que quer que fosse afirmando que nunca comera nada tão bom em toda a sua vida. Seguiram-se visitas a algumas lojas onde nunca ficavam muito tempo com o receio de que os donos começassem a reclamar e a chamá-los a atenção. Catria guiou Bell por todos os cantos e recantos da cidade com a esperança de o alegrar antes que os seus sonhos fossem esmigalhados e atirados para um enorme e profundo caixote do lixo. Mas no fundo sabia que mesmo que lhe apresentasse as mais incríveis maravilhas do mundo nada iria apagar a dor de ter os seus sonhos destruídos, e ela sabia-o muito bem.

Já estava para anoitecer quando Bell se deu conta que o dia estava quase a acabar e ainda não tinha visitado o velho Bonzai. Ainda pediu a Catria que o levasse até ele mas esta recusou, uma vez que os pais não a deixavam andar pela cidade à noite.

-Desculpa Bell mas ainda tenho de ajudar a minha mãe a fazer o jantar.

-Acho que não posso fazer nada quanto a isso - Admitiu já a preparar-se para acrescentar algo - Mas suponho que amanhã não haja problema?

-Acho que é o mínimo por te ter distraído hoje - Desculpou-se fazendo uma careta cômica.

-Distraído? eu tenho é de te agradecer por me teres mostrado estas coisas - Respondeu Bell com um enorme sorriso - Se não posso ir ter com o Bonzai ao menos acompanho-te a casa, deve ser uma seca fazer este caminho tudo sozinha.

Catria aceitou com gosto a companhia de Bell e depois de algumas passadas já os dois voltavam a conversar alegremente, sobre os mais diversificados assuntos.

-É verdade Bell já ouviste falar do incêndio que ocorreu alguns dias atrás?

-Incêndio?

-Sim, ontem á noite chegou um nobre à cidade dizendo que uma das Esquecidas começou a arder misteriosamente.

-A sério não ouvi nada por aí? - Uma voz desconhecida dirigiu-se a rapariga, vinha de um rapaz sentado na borda do telhado de uma casa - Podes contar um pouco mais sobre isso.

-Olá Bill, desculpa não ter esperado por ti, mas não acreditas na quantidade de coisas magníficas que há nesta cidade - Disse Bell reconhecendo de imediato a voz do irmão.

-Não há problema - Respondeu Bill depois de descer do telhado da casa e de ter cumprimentado Bell – eu também dei uma vista de olhos por ai.

-Então é este o teu irmão, Bell? - Perguntou vendo as parecenças mas concentrando-se também nas suas evidentes diferenças.

-Sim, desculpa pela entrada sinistra, mas ele às vezes é assim.

-A quem é que estás a chamar sinistro - Defendeu-se Bill olhando para o irmão como se o comentário não fosse apropriado - Esquece, e quanto a esse nobre?

-Há sim ele disse que enquanto viajava para a nossa cidade viu que a cidade estava a arder e que decidiu pôr as diferenças de parte e ajudar aquelas pobres pessoas - Era óbvio pela maneira como Catria contava a história que não acreditava no que ouvia - Contou que ao chegar à cidade viu que ela tinha sido invadida por lagartos de fogo quase do tamanho de carroças e que os teve de derrotar a todos.

-E as pessoas acreditaram? - Perguntou Bell curioso.

-Que nem crianças, receberam-no como um herói até fizeram um banquete em sua honra - soltou um suspiro - Então depois de uns copos nem imaginam o que ele contou, para se vangloriar ainda mais disse que lhe foi tão fácil derrotar aquelas criaturas que nem precisou de chamar o seu familiar.

-Realmente ele deve ter um poder inimaginável - Comentava Bell como se ele não soubesse que nada daquilo tinha acontecido.

-E depois de contar as suas incríveis facetas, ainda acrescentou que apareceu uma salamandra gigante que queimou tudo o que estava no seu caminho, incluindo os cidadãos que ele se esforçou tanto para protegê-los - Disse fingindo um ar triste - e que para vingá-los usou uma magia tão poderosa que nem o corpo ficou para trás para comprovar a sua história.

Portadores de sonhosWhere stories live. Discover now