01- Cansaço.

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Naquela manhã, pela milésima vez, se olhou no espelho tentando fortemente encontrar a pessoa que uma vez já foi. Tentando encontrar a Andrómeda alegre que queria compor músicas alegres sobre a vida e as coisas, e que pretendia percorrer o mundo num show.

Por ela procurava, mas nada encontrava.

Seus pés descalços eram afetados pelo frio transmitido pelo piso branco do banheiro, as madeixas em tom negro, caiam livres por suas costas. Trajava um conjunto de pijama de ceda em tons cinza... Aquele havia sido um presente da última marca para a qual modelou.

Já havia passado do meio dia, e  ainda não tinha visto o sol, ou quem fosse... Não que tivesse vontade de  ver ou ouvir alguém, já que com eles ainda parecia sozinha demais. Então só queria continuar com seu monólogo interior.

Nada mais lhe parecia tão proveitoso.

Em que momento Andrómeda, você se corrompeu e esqueceu quem era...Ou então se tornou tão solitária. É esse o preço da fama?

Pensou quando uma lágrima escorreu por seu rosto. Era a quinta em menos de sete minutos.

Estava em seu apartamento, no centro da agitada cidade de Ventana, sozinha, tentando entender quando havia se tornado uma pessoa tão vazia. E mais importante, como se livraria daquele fardo?

- Aí está você, por que não está atendendo o telefone? - Wilma, sua agente perguntou lhe surpreendendo. Tinha uma chave reserva do apartamento, era para emergências... Wilma considerou uma ela não estar atendendo o telefone.

- Decide desligar. - Admitiu sentindo a mão da outra em seu ombro.

- Por que está chorando, estrelas não choram. - Wilma repetiu o mantra que seu pai havia lhe ensinado secando o rosto da outra.

- Nem se elas estiverem quebradas? - Andrómeda perguntou cautelosa. A mulher ao seu lado, era fria, e raramente demonstrava uma emoção diferente da frieza habitual.

- Pare de falar em códigos e me diga logo o que é? - Wilma pediu de forma impaciente. Andrómeda saiu do espaçoso banheiro e foi se sentar em sua cama.

- Alguma vez já se sentiu vazia, como se não do que fizesse fosse o suficiente para lhe satisfazer? - A morena perguntou dobrando os pés na altura do rosto. Wilma suspirou solidária antes de se sentar com ela.

- Talvez, mas não dê muita importância para isso... Daqui a pouco passa. - Falou a mulher. - Se recomponha, consegui um show para você fora da cidade, vai gostar de lá estar.- Wilma avisou se colocando em pé.

- Não quero cantar, na verdade não quero fazer nada. - Contou a jovem moça.

- Ah, não fique assim. Sei que estão falando coisas ruins sobre você, mas não pode deixar que te afetem tanto. - Wilma pediu colocando a mão em seu ombro.

- Não são só essas pessoas, eu também me tratei tão mal. - Andrómeda falou com pesar.

- Por isso estou falando, o  trabalho vai te fazer bem. - Wilma argumentou.

- Não, não vai. - A morena disse sentindo novamente os olhos marejarem. - Não enquanto ele ditar as regras da minha vida... Estou cansada de ter que fazer isso e aquilo porque é o que cantores fazem, ou não fazer isso e aquilo porque cantores não o fazem. Quem eu sou, o que penso? Parece tudo tão subjectivo quando tem que agradar a sociedade... Por que é isso que sinto, que preciso fazer pelos outros, para que não me apontem o dedo, mas acabam fazendo na mesma, e depois só resta essa insegurança - Desabafou.

- O que quer dizer com isso? - Sua agente a questionou assustada. Já Havia notado a mudança na morena, mas não pensou que fosse pela pressão que faziam as vozes sem rosto na multidão.

- Quer dizer que estou cansada. - Andrómeda falou se levantando. O closet foi seu destino. - Estou cansada dessas roupas extravagantes e pouco decentes, dessas maquilhagens para combinar com tudo, cansada desses saltos exagerados, de ter meu rosto fixo em algum cartaz... Estou cansada dos cortes de cabelo pelas  publicidades... Cansada de ser um padrão Wilma, eu só quero poder sentir alegria com a minha vida ou trabalho. Me amar por isso e sentir satisfação. Eu não quero toda essa pressão ou atenção desnecessária. Eu só queria não me sentir só em meio a multidão. - Andrómeda desabafou jogando tudo o conseguiu no chão.

Roupas, bolsas, calçados, maquiagens, perfumes... Tudo o que lhe fizesse sentir vazia e depois também foi ao chão.

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Parece drama demais para uma pessoa, né?

Mas não é não... As vezes as pessoas se perdem mesmo.

Vamos torcer para que ela se encontre (•‿•).

Andrómeda.Where stories live. Discover now