12- Eda.

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Após três meses sem qualquer contacto com a internet, imprensa ou qualquer alma vivente de fora de Ur, e um tempo sossegado buscando seu melhor amigo,  Andrómeda ligou o telefone na pretenção de se comunicar com a família e também com Wilma. Na sua cabeça, era uma boa idea. Avisar que já estava bem, que voltaria em breve para casa, mas tão logo ligou a rede móvel, recebeu notificações que fizeram seu coração doer.

"Andrómeda não foi embora por que precisava, ela fugiu das barbaridades que cometeu."

"Sim, eu ouvi dizer que ela tinha um caso com o dono das empresas Miller. Vadia desgraçada"

"Preta maldita, como se atreve a recusar todo o amor que lhe demos? Está cansada, talvez devesse parar de frequentar tantas baladas "

"Falsa desgraçada, tudo o que tem, fomos nos que demos. Por que se sente no direito de fugir?"

"Nos enganou com seu rosto bonitinho, mas afinal é uma destruidora de lares"

Eram tantas, umas mais ofensivas que as outras. Era tanto ódio gratuito em cima dela. E naquele momento se perguntou o que poderia ter feito para chatear todas aquelas vozes sem rosto. Justo quando achava que havia conseguido, se via afundando no mundo.

Se encolheu sobre o conforto do sofá de Helena, e chorou até que as lágrimas secassem. Demoraram, mas acabaram secando. Ela inspirou e expirou várias vezes, mas não conseguia mandar embora a onda de negatividade.

Pegou o telefone da casa e discou o número que lembrava de cabeça.

- Tem tempo, podemos falar agora? - Perguntou com a voz chorosa. Já não tinha uma franja, e nem as marcas de sono no rosto.

- Eu sempre tenho tempo para você Eda
- Miguel respondeu sério. O que ele era para ela? Um bom amigo, tão bom que lhe reapresentou ao melhor de todos.  - Estava chorando? - Perguntou buscando em sua memória o que lhe parecia ser aquele tremor na voz.

- Liguei meu telefone hoje, e nunca foi tão difícil. - Desabafou. Uma mão segurava o telefone junto a orelha, e a outra, segurando os pés dobrados até a altura do rosto. - Eu não entendo porquê as pessoas estão sendo tão más? Eu não fiz mais nada de errado. Você sabe, eu até estou tentando não fazer. - Disse em desespero.

- Mas não é contra você que elas sente raiva, é contra elas mesmas. - Miguel falou.

- Não faz sentido. - Andrómeda sussurou.

- Faz sim. Essas pessoas que estão te acusando, provavelmente estão mais vazias do que alguma vez você esteve. É que você era de um jeito ou outro, a fonte de entretenimento delas. E quando se desligou, foi como se suas vidas perdesse sentido. Então quem culpar por isso? - Rebateu.

- Eu. - Eda respondeu entendendo onde ele queria chegar.

- É o que falei antes sobre viver seguindo as massas, você se sente realizado em cada coisa. Só que não é real, porque não é o que vem de você, é uma coisa em conjunta. Não que haja problema nisso, mas até onde você se realiza quando os desejos não partem de você? Ainda mais se os desejos são tão superficiais? - Perguntou.

- É como se estivesse incompleto.  - Raciocinou Andrómeda.

- Exatamente, por isso não viva despejando toda sua energia e aspirações em humanos. Tenha alguma coisa sólida para se agarrar, honre a si mesmo e seja feliz. - Alertou.

- Entendi, nunca deveria ter me anulado de tal forma que precisei me procurar em festas e bares. Não ao ponto de esquecer meus objectivos e princípios... E quanto a essas pessoas, não tem nada que possa fazer. Acho que apenas seguir vivendo. Agora com meus pés e as escolhas que vou fazer. - Repetiu o que havia decidido desde a primeira vez que se falaram. Já haviam se passado três meses, e ela já havia encontrado, embora ainda não soubesse bem o que era, aquilo que estava lhe faltando. Mas era puro, singelo e brilhante. A cobria com ternura, e não sentia precisar de nada mais.

Em algum momento foi difícil, muito mesmo.
Chorou, gritou, de envergonhou. Mas depois levantou, tinha quem lhe estendesse a mão. Sentiu medo de como seria recebida pelo mundo, quando se cansasse de o agradar, mas estava pronta. E ainda que lhe arrancassem os braços e pernas, não desistiria da maneira que agora, decidiu viver.

- É, e sabe que tem Ele parara se refugiar. - Sorrindo alegre, Miguel concordou.  Andrómeda também sorriu, fazia um tempo que havia se encontrado com Ele, e não podia se sentir mais segura.

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Faltam poucos passos para o fim, e so tenho a dizer que estou feliz pela Eda.

Andrómeda.Where stories live. Discover now