O Príncipe Dragão

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Eu sei o que isso parece... Apenas mais um conto fantasioso.

Quem contou-me essa história foi minha bisavó, que sabia falar a antiga língua dos Dragões. Alguns dizem que ela viu com os próprios olhos a história que vou contar... Deixarei para você decidir sobre isso...

***

Estava um verão intenso, dificultando o trabalho nas minas do Rei Andharius. Infelizmente aquele não era um bom rei e explorava seus homens até ver seus corpos empilhados nas fogueiras.

O problema começou quando essa fumaça maldita alcançou os céus, perturbando o lar dos Dragões. Seres com corpo humano, com traços animalescos como asas poderosas, unhas fortes, quase como garras. Chifres pontiagudos sobre suas testas nos mais velhos.

- Inferno! - bradava um dos soldados mais jovens - Por que ainda temos que dividir nosso ar com os humanos? Olhem! Olhem como estragam tudo!

Gesticulava intensamente, revoltado. Seu general ria. O velho astuto sabia bem como controlar esse ódio dentro dos novatos:

- Acalme-se. Chegará o dia que nosso Grande Rei tomará as devidas providências. Já ouvi o próprio príncipe reclamar das atitudes humanas. - arrancou uma enorme coxa da ave recém caçada, ainda sangrando - Ele desceu para buscar frutas para a Rainha e encontrou somente os tocos das árvores.

Os sorrisos brotavam. Sabiam que não precisariam se esforçar para conseguirem atiçar uma nova guerra entre todos os seres viventes. Eles sabiam, é claro, que os dragões eram os mais fortes, portanto fadas, espíritos da natureza e outros diversos seres explorados pelos humanos se juntariam a eles numa imensa aliança... indestrutível.

Como que para confirmar esse pensamento, um unicórnio desceu das mais raras nuvens num arco-íris defasado. O animal tossia e se revirava.

- Lá vem, mais um morrendo. Os humanos matam um a um e depois dizem que as criaturas não existem!

Um enfermeiro ajeitou o animal, que se contorcia de tossir, e forneceu-lhe medicina espiritual. Porém...

- Pelas barbas do Rei, vejam só isso!

O unicórnio tossiu ainda mais, espalhando seu sangue multicolorido no pátio. Todos sabem que é um ato profano agredir tal animal. Desesperado, o enfermeiro ainda continuou tentando cura-lo... mas a morte chegou primeiro.

Somente naquele ano morreram mais unicórnios do que em toda uma Dinastia pré-humanos.

- Diga ao rei. Relate exatamente como aconteceu - dizia o enfermeiro cabisbaixo - Isso precisa acabar.

O fogo do ódio crepitava, trazendo chamas altas aos corações draconianos. Maiores do que nunca.

...

- Outro? - o rei perdeu o sono ao ouvir o relatório do mensageiro - Quanto morreram só esta semana?

O menino baixou a cabeça e falou como lhe ordenaram - incitando o ódio no rei:

- Mais do que nos últimos 500 anos, meu Lorde.

O rugido feroz ecoou por todo o palácio.

O Rei Utheros era um draconiano de grande coração. Ainda que os reis humanos o repudiassem, ele jamais lhes enviara o caos. Ainda que soubesse de atrocidades cometidas contra a natureza, a qual ficou encarregado de cuidar, ele nunca tentou tirar um humano de suas terras. Ele vivia no Castelo Celestial, onde uma imensa ilha flutuava. Rica em ouro, abundante em tudo que se possa imaginar. Esse era o reino dos dragões.

Tudo, porém, tem seu limite.

Utheros convocou 5 dos seus generais e ordenou-lhes que fossem até os grandes reinos e anunciassem sua ordem: Os humanos deveriam medir sua ganância. Que parassem de explorar a natureza como vinham fazendo. Que parassem as matanças... ou seriam terrivelmente castigados.

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