O Sacrifício

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Sacrifício é uma palavra que assusta. Ninguém quer fazer sacrifícios. Mas...mas a Lucy fez. E fez com todo amor. Deixe-me contar a história da Lucy.

Lucy é uma fada. Alguns acham que somos Fadas Madrinhas. Outros acham que é somos espíritos guardiões. E ainda há quem nos chame de Anjos da Guarda. Não importa. Lucy teve um trabalhão.

No começo, eu não sei medir o tempo humano, mas acho que foram muitas luas atrás... Lucy ouviu um barulho de sino, e depois um canto. Alguém invocava a antiga magia das fadas! Ela foi a primeira a voar pela floresta, indo direto para os humanos. Sempre destemida. Ousada! Lucy era nossa... maior inspiração.

Eles diziam:

Fadas! Nós pedimos a volta da comunicação, por meio da Grande Mãe! Pedimos que nos ouçam, que nos deem as mãos! Apareçam! Nós agradecemos!

As palavras eram muito parecidas com as das velhas senhoras de outrora. Aquilo foi lindo. Nos trouxe tanto amor... porém, ficamos na floresta. Exceto Lucy. Aos poucos, conforme eles conseguiam se concentrar, ela ia conseguindo conectar-se. E aos poucos... eles viram Lucy. Alguns ficaram assustados, mas não fizeram nada demais. Eles cultuaram e agradeceram. Antes de irem embora, ainda deixaram doces!

Quando todos sumiram, buscamos os doces e comemos, juntas. Lucy era toda sorrisos. Passaram-se os dias e ela só falava daqueles humanos.

Não passou muito tempo, ouvimos os sinos novamente. A música. O cheirinho de doce. Ah!

Desta vez cultuaram e pediram prosperidade em suas vidas. Alguns ainda estavam apreensivos, contudo, não vi nem um deles deixar de pedir.

E pediram naquela noite. E depois de algumas luas. E depois... quase toda noite havia pelo menos uma oração, de seus lares. As visitas foram rareando, os agradecimentos também. Nunca mais vimos doces.

Mas os pedidos? Diários.

Lucy dizia que eles eram uma geração nova.

Fazia sentido... afinal, o mundo dos humanos parecia muito, mas muito, muito diferente mesmo. Só tinha um jeito de saber se isso era verdadeiro: indo visitar essas pessoas.

Primeiro enviamos Prima, que é uma contadora de histórias nata. Sabe descrever qualquer coisa, apenas vendo uma só vez. Prima visitou cada um dos humanos, em suas casas. Voltou exausta. Contou-nos pouca coisa e caiu num sono longo. Curiosas, e achando que Prima ficara fraca pela viagem, mandamos outras. Joy e Ayana. Foram juntas fazer o mesmo trabalho de Prima. Voltaram igualmente cansadas, e pedindo que não enviássemos mais ninguém.

Ainda me lembro da expressão grave de Joy: eles são humanos, mas acho que é só na aparência.

Na época não tínhamos entendido aquilo, e nem deu tempo de entender, já que as duas também caíram no sono. Adivinhe quem não se aguentou de curiosidade? Isso mesmo. Lucy. Eu jamais a deixaria ir, pois é uma das mais jovens de nossa floresta... acabei indo junto.

Visitamos todos eles, numa única noite, enquanto dormiam. Pareciam anjos. O lar era muito diferente dos que costumávamos visitar no passado, mas não tinha perdido de todo o charme: avistamos caldeirões, cristais, velas... alguma tradição ainda existia.

Pela manhã, ouvimos as orações e buscamos visitar, de pertinho, sem fazer alarde.

E fomos levando os dias, observando. Eles se chamavam de bruxos modernos. Eram algo chamado coven. Pareciam uma tribo, como nós. Interessante! Ficamos ainda mais curiosas!

O inevitável aconteceu. Lucy disse que as fadas que se cansaram foram atacas por algo desconhecido, pois os humanos eram normais. Eu preferi o silêncio, ajudar sem aparecer... como sempre. Mas Lucy.... ai, Lucy! Ele apareceu novamente!

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