4 - SAMANTHA

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Voltei para casa no fim da tarde. Tomei um banho, terminei de arrumar minhas coisas e desci. Me despedi de Dora, e foi uma difícil despedida.

— Estou pronta. – digo entrando na sala. — Vamos logo ou vamos deixar para o ano que vem?

— Filha...– meu pai começou. — Isso é para o seu bem.

— É sempre a mesma ladainha de "É para o seu bem". – lhe imitei. — Mas tudo bem, eu vou fingir que acredito e dizer: "Obrigada papai, estou realmente grata pelo senhor me mandar para morar com um estranho do outro lado do mundo." – digo fazendo uma voz fina em provocação.

— Um dia você ainda vai me agradecer e perceber que eu não estava errado. – ele diz convicto.

— Nem vou dizer mais nada. – dou de ombros.

Me despedi de Alexandra e de Pedro e segui junto ao meu pai para o aeroporto. 

Chegando lá, fui fazer o check-in. Meu vôo não demorou a ser chamado. Me despedi de meu pai e fui em direção ao portão de embarque, entrei no avião e coloquei meus fones. Assim que o avião decolou eu já esta sonhando com hienas voadoras.

Algumas horas mais tarde, fui acordada pela voz da aeromoça. Desembarquei do avião e fui pegar minhas malas. Essas que nem eram tantas, apenas uma mochila grande e uma menor.

Vejo um cara trajado de terno e gravata segurando uma placa com meu nome escrito. Não seria ele o tal amigo do meu pai, seria? Parecia muito jovem.

— Acho que sou eu. – digo parando em sua frente e apontando para o cartaz.

— Seja bem vinda senhorita Campbell, sou Martín, o motorista do Sr. Miller. Irei levá-la para a casa. – ele diz todo formal, parecia que tinha sido programado para isso.

— Hm, tudo bem. – ele pegou minhas malas e começou a andar a caminho da saída.

O segui e paramos em frente a um carrão de luxo. Ele guardou as malas e abriu a porta traseira para que eu entrasse.

Durante o trajeto, vi uma cafeteria do Starbucks e pedi para ele parar. Ainda com receio ele parou e desceu comigo. Com certeza meu pai tinha dito a esse tal amigo dele que me falta alguns parafusos, com certeza ele me acha uma maluca. E ele tem razão de achar isso.

Pedi um cappuccino e um muffin de chocolate e voltei para o carro.

Em poucos minutos ele parou em frente a uma super mansão. Abriram os portões automáticos e entramos com o carro. Era uma super, tipo, SUPER mansão.  Talvez até maior que a do meu pai, e olha que a dele é grande.

Assim que ele parou em frente a entrada, eu pulei para fora do carro. Olhei tudo em volta e realmente era tudo bem extenso.

Subo os degraus da entrada e aperto a campainha, em poucos minutos um homem abre a porta. Ele era baixinho, careca e parecia aqueles personagens de desenho. Ele me olha de cima a baixo e da espaço para que eu entre.

Já não gostei desse cara.

Entrei na casa e ela realmente era imensa. Só que era sem graça, não tinha cor, não tinha nada de chamativo lá. Talvez fosse o estilo das casas americanas, não sei. Mas que merecia algumas mudanças, merecia. Olhei para o projeto de pinguim ao meu lado e ele me olhava de cima a baixo.

— Qual é o seu problema comigo? – questionei lhe chamando a atenção.

— Nenhum. – engoliu a seco. — O Sr. Miller já irá recebê-la!

— Tá.

Faz tanto tempo que eu não falo inglês que tudo parecia muito estranho para mim. Talvez eu só precisasse me acostumar com isso.

Continuando a olhar em volta, a casa até era bonita. Os móveis eram de luxo mas não pareciam ser atuais. Mas é claro, o dono deve ser um velho tampinha que usa um dente de ouro e óculos do Harry Potter e que todo domingo paga uma garota para ficar de acompanhante no xadrez.

Escuto passos no andar de cima e rapidamente encaro o topo da escada. Meu queixo quase atravessa o chão.

Um homem bonito está descendo as escadas. Quando eu digo bonito, é tipo MUITO bonito mesmo. Me diz que é o filho dele ou eu me jogo da primeira janela que eu encontrar. O cara era forte, tinha uns músculos quase para fora do terno que usava. Merda!

Ele termina de descer e para bem na minha frente.

— Senhorita Campbell? – pergunta com um sorriso um tanto fechado.

— Não. Quer dizer, sim mas... –  por que diabos eu estou gaguejando? — Só Samantha está de bom tamanho. – ele arqueia uma sobrancelha e dá um sorriso de lado bem fechado.

— Tudo bem, Samantha. – enfatizou meu nome. — Seja bem vinda, e muito prazer! – estendeu sua mão em cumprimento e a apertei no mesmo instante sentindo um arrepiozinho na espinha com tal contato. — Sou Peter Miller.

— Você é o Peter, amigo do meu pai? – questionei em choque.

— Sim.

Mil vezes merda!

— Ah tá. Hm, então, só vai morar nós dois aqui? Sua namorada não vai achar ruim? Se sim, não tem problema, eu posso ir para um hotel.

— Não se preocupe, não namoro. É a primeira vez que recebo um hóspede em casa, e se tratando do meu amigo Heitor eu não podia negar. – diz com um certo brilho nos olhos.

— Você é gay?

Por que Samantha não pensa antes de falar as coisas?

Ele me olhou indignado.

— Gay? Claro que não!

— Desculpe se te ofendi mas o modo como falou do meu pai...  – dei de ombros.

— Não sou afim do seu pai! – disse agora sério.

— É que não é qualquer um que aceita Samantha Campbell morar em sua casa, principalmente sabendo que ela é maluca, impulsiva, rebelde e irresponsável.

— Não quer dizer que eu esteja apaixonado pelo seu pai! – diz ríspido. — Seu pai me disse tudo sobre você, principalmente essas características que acabou de citar.

— Eu já esperava! – suspirei.

— Ele me deu a responsabilidade sobre você. Terei de acompanhar seu desempenho na faculdade para que não a abandone. Não poderá sair sozinha, pois não posso correr o risco de você fugir, por tanto você terá seguranças a todo tempo. – o encarei. Era algum tipo de piada, não é mesmo? — Terá que seguir as minhas regras e tudo o que eu mandar. – o encarei e soltei uma gargalhada.

— Acho que meu pai não te contou exatamente tudo sobre mim. – digo me aproximando de alguns vasos caros em uma estante. — Eu não gosto que me controlem. Regras? – sorrio. — Essa palavra não existe no meu dicionário. – lhe encarei.

— Se o seu pai me deu a responsabilidade de cuidar de você, eu vou fazer isso. Você voltará completamente diferente para o Brasil. – diz me dando um olhar decidido. Eu posso até ter me arrepiado mas não foi de medo.

— Você fala com tanta confiança e convicção que chego até a me emocionar. Não sonhe tal alto, pode cair. Vá sonhando que irá me mudar, pois isso não vai acontecer.

— Isso é o que vamos ver! – me encarou novamente. — Andrew, leve a senhorita Campbell para seu quarto.

— Sim senhor. – o pinguim disse pegando minhas malas que brotaram ali sem que eu percebesse. 

— Estou de castigo? – questionei em provocação. — Talvez eu esteja com medo.

— Garota, não teste minha paciência! – disse com total seriedade.

— Vou pensar no seu caso! – lhe mandei um beijo no ar e segui o pinguim que no caso, se encontrava perplexo.

Pode ser que seja interessante essa minha estadia na mansão do senhor Chatonilson Miller.

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