Part. 1

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- Qual sua história? Por que você está aqui?

- Você quer saber qual a minha história? Mesmo?

- Sim.

- Tudo bem... Quando eu era criança meus pais me falavam que eu era diferente, conforme eu fui crescendo eles perceberam que eu fazia coisas que os outros meninos da minha idade geralmente não faziam, eu não entendia o que havia de errado em ficar quieto no quarto olhando pra parede, me arranhando, quando eu finalmente fui brincar com outras crianças, como eles tanto queriam, eles me separaram delas, porque eu as deixei com medo, acho que na verdade isso tem mais a ver com o fato de eu ter empurrado uma menina de uma casinha na praça... Mas eles nunca falaram nada a respeito disso, só falaram que eu assustava as crianças, porque elas não me entendiam, eu era especial, então voltei a ficar no meu quarto olhando para a parede e me arranhando sempre que meus pais não estavam por perto. Um dia quando eles voltavam de uma festa, eles encontraram a babá jogada no chão, sangrando. Eles me perguntaram o que aconteceu e eu lhes disse a verdade:

- Ela não parava de gritar, quando eu perguntei pra ela o que tinha acontecido, ela disse que o namorado dela tinha traído ela, depois ela começou a chorar e ficava dizendo que queria morrer, então eu coloquei o veneno de rato no copo de água dela. Ela tomou e seu desejo se realizou.

- Você matou ela? - minha mãe perguntou chocada, ela já estava tremendo.

- Ela disse que queria morrer, eu só fiz um favor pra ela. - respondi e andei pro quarto.

Meu pai entrou no quarto e começou a conversar comigo, disse que eu era especial, que não tinha problema no que eu havia feito, mas que quando eu fosse mais velho eu teria que ir pra um lugar apropriado pra mim, porque eu não fazia bem pras pessoas. Eu concordei.

Eu gostava muito do meu pai, eu tinha ciúmes dele, ele sempre me tratou melhor do que qualquer outra pessoa, ele sempre me defendia, minha mãe me batia às vezes. Ele nunca levantou um dedo pra mim, acho que foi por isso que eu a matei quando tinha 15 anos. Meu pai estava viajando na época, minha mãe começou a gritar comigo, a me xingar e me bateu com a cinta do meu pai, como meu pai não estava ali pra me defender ou pra me ajudar, como ele fazia quando não conseguia me defender, quando minha mãe estava dormindo eu peguei uma navalha e cortei sua garganta. Meu pai, é claro, voltou de viajem assim que me ouviu falar pelo telefone: mamãe está morta.

Quando ele chegou em casa, me perguntou se eu tinha falado pra mais alguém isso, eu falei que não, que só tinha falado pra ele, ele disse que estava tudo bem e me pediu para explica-lhe o que tinha acontecido. Eu expliquei. Depois disso ele me abraçou e disse que tudo ficaria bem, então enrolou minha mãe no lençol, colocou mais coisas para tapá-la e me pediu para ajudá-lo a colocar o corpo de minha mãe no porta-malas do carro.

- O que você vai fazer com a mãe? - perguntei. Ele me olhou e disse.

- Sua mãe uma vez que seu lugar favorito da cidade era o Rio de Bohlar, porque ninguém nunca ia lá e tudo era calmo, que se ela pudesse escolher o lugar de sua morte, seria lá.

- Então você vai levá-la para lá?

- Sim, vamos colocar seu corpo no rio, assim ela vai poder descansar.

Eu assenti, meu pai se levantou, fechou o porta-malas do carro e disse que eu não podia ir junto, porque já estava meio tarde, que era melhor eu ir dormir, então eu fui para o meu quarto, não consegui dormir naquela noite. Meu pai voltou tarde, bêbado, foi para meu quarto e perguntou porque eu ainda estava acordado e eu disse que não conseguia dormir, então ele se deitou na minha cama e me abraçou, disse pra eu me acalmar, que minha mãe já estava em paz e eu disse:

- Eu não estou preocupado com a mãe.

- Está preocupado com o que, então?

- Logo eu vou fazer 16 anos e você vai me levar para aquele hospício.

- É o melhor pra você, Diego.

- Eu não quero ficar longe de você pai. Eu te amo, pai.

- Eu também te amo, Diego, por isso vou te levar pra lá.

Meu pai disse, então eu o beijei. Meu pai me empurrou, me olhou nervoso.

- O que você está fazendo, Diego?

- Eu te amo, pai. Deixa eu te ajudar a superar a perda da minha mãe.

Eu disse aquilo e o beijei novamente, peguei no seu pau e comecei a masturbar ele, então ele cedeu. Nós transamos. Foi assim até o meu aniversário, então quando eu fiz 16 anos ele me trouxe pra cá, disse que me amava, por isso que estava me colocando ali, disse que me visitaria, mas nunca me visitou... Essa é a minha história, Pedro. Qual é a sua?

- Entendi... Eu vim pra cá porque eu tentei me suicidar, por causa da depressão... Minha mãe acha que é o melhor.

- Qual sua idade? - perguntei.

- 17 e a sua?

- Também... Esse lugar não é tão ruim, Pedro.

- Não?

- Não... Depende do que tu faz aqui, os enfermeiros não dão a mínima para o que fazemos aqui, eles só querem transar, por isso que às vezes eles acabam estuprando algumas pessoas aqui dentro. Ninguém tem voz. Mas o lado bom é que a gente pode fazer o que quisermos, ninguém se importa.

- Você já foi estuprado por algum enfermeiro?

- Sim, por dois ao mesmo tempo, mas superei rápido.

- Como?

- Segui eles escondido quando eles foram ao porão e dei uma pedrada na nuca de um, o outro conseguiu correr por um tempo, mas eu consegui alcançar ele e o enforquei até ele desmaiar, depois peguei os corpos e joguei nos rios que tinham aqui perto.

- Você fez tudo isso e ninguém viu?

- Era de noite, o segundo gritou por socorro, mas não adiantou, porque muitos pacientes gritam de noite e como estávamos no porão, não tinha chance de alguém nos ouvir.

- Ninguém procurou por eles?

- Os policiais procuraram os corpos, encontraram, mas nada me aconteceu, porque segundo os médicos eu sou louco e não posso ser preso.

- Quais outras coisas acontecem aqui?

- Além de estupro e dos pacientes não terem voz, tem pacientes que transam com os médicos, isso aqui mais parece um puteiro, do que um hospício, tem tratamento de choque pra algumas pessoas...

- Achei que isso era proíbido - disse Pedro, me interrompendo.

- E é, mas isso não faz diferença aqui, como eu ia dizendo... Estupros, sexo, tratamento de choque e suicídios são as coisas que mais acontecem aqui. Mas se você ficar comigo nada vai acontecer, por algum motivo, os médicos tem medo de mim e os outros enfermeiros tem medo de mim, já tentaram me levar pro tratamento de choque, mas infelizmente, naquela noite, os enfermeiros tentaram me estuprar antes de me dar choque... Não deu muito certo.

- O que aconteceu?

- Eu enfiquei meus dedos em seus olhos, cegando-os, ai eles tiveram um tratamento de choque. - disse sorrindo. Pedro me olhou sem reação, depois sorriu e segurou minha mão. Não entendi aquilo, quando fui perguntar pra ele o porque daquilo, ele se aproximou e falou no meu ouvido: Gostei de você.

Então me beijou.


SanatoriumWhere stories live. Discover now