Part. 9

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Pedro saiu da solitária parecendo estar atormentado, eu estava em pé ao lado da porta quando abriram, ele me abraçou com força e sussurrou no meu ouvido.

- Obrigado.

Eu soltei ele, peguei sua mão e o levei para o quarto.

- Por que você estava chorando ontem, Pedro?

- Nada.

- Me diz, Pedro.

- Nada, eu só não estava me sentindo bem, às vezes quando eu fico sozinho, eu penso numa amiga que eu perdi há algum tempo.

- O que aconteceu com ela?

- Câncer.

- Sinto muito.- ele assentiu.- Lembra do David?

- Do quarto do medo?

- Isso. Quer falar com ele? Saber o que aconteceu...

- Quero sim, a noite de ontem ainda está na minha cabeça, mas pelo menos não tenho só lembranças ruins. - ele disse e sorriu pra mim, eu fiz o mesmo

Nos levantamos e fomos atrás de David, ele estava na sala de recreação, nos sentamos ao lado dele, Pedro se abraçou em mim, como da última vez.

- David - chamei-o, ele me olhou.- O que aconteceu com você aquele dia na solitária?

- Eu já te contei essa história.

- Eu esqueci. Pode contar de novo?

- É você ou o seu namorado que quer saber?

- Nós dois, na verdade.

- Por quê?

- Curiosidade.

David suspirou, olhou para Pedro de cima a baixo e falou:

- Minha mãe engravidou ainda jovem e o meu pai não quis assumir, mas mesmo assim ela nunca pensou em fazer aborto, ela me cuidou com todo amor que ela tinha, desde sempre, sempre foi uma ótima mãe. Fazia de tudo pra me fazer sorrir, ficava triste quando não podia me dar algo, nunca me bateu, nem quando eu fazia algo errado. Ela sempre foi uma ótima mãe, mas eu nem sempre fui um bom filho, eu cresci, conheci pessoas que me apresentaram a outras pessoas, tudo começou a dar errado a partir daí, alguns deles eram traficantes, outros eram viciados, mas amigos desses traficantes. É claro que eles tentaram fazer eu provar, eles conseguiram e eu acabei me viciando, comecei com maconha e indo pro crack, eu roubava pessoas pra poder sustentar o meu vício, nunca dentro de casa, eu dentro de casa eu sempre parecia são, eu conseguia me controlar, mas eu queria aquilo cada vez mais, mas uma vez uma vez eu acabei roubando de casa, aproveitei porque minha mãe estava no trabalho, era o que eu achava, ela saiu do quarto e me viu roubando o dinheiro que ela guardava na gaveta. Ela já sabia que eu estava viciado em algo, mas não sabia o que era, me chamou pra conversar e eu expliquei a situação, ela ficou louca e começou a gritar comigo, então eu dei um tapa na cara dela, disse que ela era uma vagabunda e que eu não aguentava mais ela, aquilo não era verdade, mas nada passava na minha cabeça naquele momento, então eu saí de casa com o dinheiro que tinha roubado e fui, mais uma vez, sustentar o meu vício. Quando voltei pra casa, tinha uma carta dela na mesa, ainda me lembro perfeitamente o que tinha naquela carta, lá ela dizia:

"Ter um filho sempre foi o meu sonho, eu fiquei muito, mas muito triste mesmo, quando seu pai disse que não assumiria o filho, que não tinha chances daquilo acontecer, eu poderia ter te abertado, minha mãe tinha até se oferecido a me levar à casa de uma amiga dela, caso eu quisesse, mas eu recusei, eu fiquei com você, eu dei a luz a você, te tratei com todo o amor que eu tinha, a sua vida inteira, eu te dei amor, eu te dei presentes mesmo quando eu não podia pagar, te dava coisas pra não te ver chorar, te levava para parques, cinema, teatro e todos os outros lugares que eu podia, tudo para que você tivesse uma infância boa, coisa que eu nunca tive, eu paguei uma escola particular pra você, eu nunca encostei um dedo em você, nunca bati em você, porque não achava certo e porque não queria te ver chorar e acredite em mim, eu já quis muito bater em você, mas eu não bati. Então agora eu descubro que meu filho, o meu bebê, é viciado em crack, que você roubava pra sustentar esse vício horrível, que eu sou uma vagabunda, que você não me aguentava mais. Eu queria poder saber onde foi que eu errei, porque eu realmente não sei, mas agora já é tarde, espero que você seja feliz. Adeus, David."

- Quando me dei conta, eu estava chorando, me levantei, procurei por todos os lugares da casa dela, então percebi que não tinha ido ao seu quarto ainda, então fui pra lá, não a encontrei, ela só podia estar no banheiro e ela estava, aquela foi a pior coisa que eu vi, minha mãe tinha se matado, ela amarrou uma corda no teto, depois amarrou em volta de seu pescoço e aconteceu... Eu fiquei louco com aquilo, eu poderia ver corpos mutilados no chão, animais com os órgãos pra fora, qualquer coisa que eu visse não poderia ser pior do que ver a minha mãe morta e só piorava saber que eu era o motivo de sua morte. Liguei pra minha vó e expliquei a situação, ela foi correndo pra minha casa, conversou comigo, fez tudo que devia e me internou aqui, eu só saí daqui uma vez desde que vim pra cá e foi para o seu funeral, depois do funeral eu voltei pra cá, tive alguns ataques de nervosismo porque lembrava da minha mãe, então me levaram para o quarto do medo, onde, mesmo sedado, eu fiquei vendo minha mãe por todo lado, morta e ouvindo vozes dizendo que a culpa era minha. - David já estava chorando.

- Foi por isso que você matou a psicóloga? Porque ela fez você se lembrar de sua mãe? - Pedro perguntou.

- Sim, eu me arrependo de ter matado ela, mas eu perdi o controle, foi por ter matado ela, que eu fui para o quarto do medo e tive uma das piores noites da minha vida.

Pedro assentiu e disse que sentia muito, ainda abraçado em mim, tentou confortá-lo, dizendo que sua mãe estava num lugar melhor, que estava descansando, mas David balançou a cabeça negativamente, limpou suas lágrias e saiu da sala.


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