Part. 16

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Acordei às seis da manhã porque tinha sonhado com Rodrigo estuprando o Pedro, não pensei que aquilo tinha mexido com a minha cabeça tanto assim. Não consegui mais dormir, então me levantei, deixando Pedro dormir e fui para o meu quarto escovar os dentes e comecei a andar em direção à recepção, a esta hora só Olga estaria acordada, eu não queria ficar sozinho e gostava de conversar com ela. Quando cheguei à recepção vi dois caras carregando um tapente enrolado em alguma coisa, tinha sangue escorrendo pelo chão, imaginei que era o corpo de Pablo, porque ele foi o único que morreu por aqui ontem, Rodrigo estava lá em baixo, então não tinha encontrarem ele, eu acho. Olga apareceu na recepção, olhou para mim e depois para os homens que a esperavam na porta.

- Joguem ele no rio. - disse Olga, ela estava com a expressão séria, os homens obedeceram e saíram dali, Olga olhou pra mim séria e depois sorriu.- Bom dia, Pedro.

- Bom dia... Olga - eu disse meio inquieto, eu sabia que Pablo estava morto, mas não esperava ver e ouvir aquilo.

- Acho que lhe devo explicações, não é?

- O que aconteceu?

- Vamos para a minha sala e eu lhe explico tudo. Acho que você vai entender.

Caminhamos até seu escritório, eu adorava aquele lugar, tinham quadros de pessoas, mas nenhum mostravam o rosto, todos os quadros eram um tanto obscuros e depressivos, o que fazia ser lindo, atrás de sua mesa tinha uma estante cheia de livros, desde livros de literatura antiga, até infanto juvenil, ela emprestava os livros que tinha ali quando algum paciente pedia. Ela mandou que eu sentasse, obedeci, ela me ofereceu uma xícara de café e eu aceitei. Depois de servir duas xícaras, ela sentou em sua cadeira, tomou um gole e falou.

- Quando eu chego aqui eu sempre passo pelos quartos dos enfermeiros para ver se eles já chegaram, eu costumo ser a primeira a chegar, mas gosto de checar, alguns enfermeiros vão para casa, Pablo era um desses enfermeiros. Mas alguma coisa aconteceu ontem, você sabe o que foi?

- Se era o corpo dele enrolado no tapete que você mandou jogar no rio, então eu sei. - disse e comecei a tomar meu café

- É... O que aconteceu foi que ele foi mutilado e assassinado, ele foi encontrado amarrado e amordaçado, jogado ao chão, com um corte grande na barriga e seu pênis estava perto de sua cama, ao invés de estar no corpo dele. Ele morreu de hemorragia, eu sei que foi algum paciente com muita raiva dele que fez isso, até porque os enfermeiros se dão bem uns com os outros, o problema deles é com vocês. Eu vejo ele tratar vocês com frieza, ao contrário do que eu faço, mas não sei de nada além disso... Enfim, não é a primeira vez que isso acontece e toda vez que alguém morre aqui dentro, que não é um paciente, eu mando jogar o corpo no rio. Quando é um paciente, eu mando enterrar num lugar aqui perto.

- Você não devia chamar a polícia pra eles averiguarem o caso?

- Você perdeu a sanidade que você costumava ter, Diego? - ela disse rindo, aquela pergunta era um tanto irônica, mas ela sabe que todo paciente aqui não é completamente insano, que cada um tem sua história e ela parece entender o que há por trás dessa histórias e vícios, como se pudesse ler nossa alma e saber o porque de fazermos as coisas que nos trouxeram até aqui.- Se eu chamasse a polícia toda vez que acontecesse algo aqui, vocês seriam massacrados. Eu amo trabalhar aqui, amo cuidar de vocês. Eu amo todos vocês e é justamente pra evitar que algo aconteça com vocês que eu não chamo a polícia, não deixo a situação se tornar pública porque eu quero preservar este internato e cuidar de vocês.

- Mas e a família dos enfermeiros? Eles não vem procurar?

- Isso já aconteceu uma vez, por isso eu conversei com o dono deste internato e disse que deveríamos contratar apenas pessoas que não tivessem famílias pra cuidar, porque já fomos processados pela esposa de um dos enfermeiros que foi assassinado aqui e quase fechamos. Mas de alguma forma, o Senhor Collins conseguiu provar que o assassinato foi provocado pelo próprio enfermeiro e que o paciente não tinha intenção de matar. O Senhor Collins concordou e disse que os contratos ficariam por minha conta, mandei meu advogado colocar no contrato de que não deveriam ter família, pois teriam que dormir aqui, qualquer pessoa sã saberia que tem algo errado no local que pede por isto, mas todos os enfermeiros que vieram pra cá não viram nada de errado, menos Pablo, ele achou estranho, até comentou isso com um dos enfermeiros, mas disse que só tinha aceitado trabalhar aqui porque viu que não teria muito o que fazer e teria comida de graça. Entendeu?

- Sim, entendi. Mas por que você aceita essas coisas? Você não vai atrás de quem matou pra saber o que aconteceu?

- Não, porque ninguém admitiria e não é isso que eu quero saber, eu sinto como se eu fosse mãe de vocês e sei que se algo aconteceu provavelmente foi pra preservar vocês. Todos aqui pareciam ter medo de Pablo e de Rodrigo, então não fariam nada com eles a menos que fosse por vingança. Pedro, você sabe de alguma coisa que ele possa ter feito pra provocar isso?

- Bom... Eu já ouvi pelos corredores que os enfermeiros Pablo e Rodrigo bateram e estupraram alguns pacientes...

- Deve ser por isso que Pablo morreu... Se isso tudo for verdade, e deve ser, então espero que Pablo não tenha sido o único a morrer.

Estranhei ao ouvir aquilo, mas ao mesmo tempo me senti feliz. Olga agiu de forma totalmente diferente do que as outras pessoas geralmente agiriam.

- Por que diz isso? - pergunto.

- Porque eu não quero que as pessoas que machucam meus filhos não paguem pelo que fizeram. Se alguém tivesse me contado algum caso de estupro ou algo assim, eu mesma teria tomado pé da situação, mas gosto de ver que vocês conseguem resolver seus próprios problemas.

- Não quero parecer mal educado, nem nada, mas você é tão doente quanto nós.

- É doença querer proteger as pessoas que você ama?

- Por que você nos ama?

- Porque eu sou uma de vocês. Eu sou formada em psiquiatria, por isso sou diretora deste internato?! Nunca ouviu falar que pra uma pessoa ser psiquiatra ela tem que ser mais louca que o paciente? Pois então, a única diferença é que eu sei me controlar e não preciso de medicamentos ou internação.

- O que aconteceu com você para ser mais louca que nós?

- Quando eu era pequena eu morei dois meses com meus tios, porque meus pais viajaram para a lua-de-mel. Ficar na casa deles mexeu bastante com a minha cabeça, porque era gritaria o tempo todo, meus tios estavam sempre brigando, minha prima se cortava na minha frente e os filhos apanhavam dos pais, eles nunca tocaram um dedo em mim, por respeito à minha mãe. Depois de um tempo vi meu pai transar com sua amante, mas aquilo não fazia diferença pra mim, porque eu não entendia o que estava acontecendo e depois vi a mesma amante do meu pai matar a minha mãe. Tudo isso entre meus sete e dez anos. Então eu acabei ficando bastante perturbada, quando eu cresci e entendi o que havia acontecido, eu passei a odiar meu pai, contei pra ele que a culpa da minha mãe ter morrido era dele e da vadia com quem ele transava, é claro que ele não acreditou, mas eu consegui fazer ela se confessar pra mim durante uma briga, meu pai estava por perto na hora da confissão e ouviu tudo. Ele terminou com ela, só não bateu, nem fez nada além disso, porque ele não era capaz. Então eu entendi que a culpa não era dele, mas dela, que ele estava sendo sincero quando dizia que amava minha mãe, apesar de ter traído ela. Depois ele começou a me trazer pra esses lugares e foi então que eu encontrei o que eu queria fazer da minha vida, queria isso porque me identifiquei com toda essa confusão e obscuirdade.

- Sinto muito.

- Não sinta, eu gosto de estar aqui e de cuidar de vocês... - nós ficamos quietos por uns minutos e então ela disse.- Sabe o que eu gostaria de saber?

- O quê?

- Onde está o Rodrigo, se ele está morto gostaria de saber onde está seu corpo, mas se ele está vivo, gostaria de saber o porque de ele não estar aqui até agora...

- Por que você não procura por ele?

- E onde eu poderia procurar?

- Não sei. Você conhece este lugar melhor do que eu.

- É, mas não vou fazer isso... Se ele não aparecer até às 8 e não ligar pra avisar, então eu vou deduzir que ele está morto.

Assenti, pedi licença pra ela e fui em direção à porta, antes de eu sair passar pela porta ela disse para eu avisar ela, se eu descobrisse alguma coisa, eu disse que faria. Mas não fiz, porque apesar de confiar na Olga, não sei se posso confiar o suficiente pra dizer à ela que eu e Letícia matamos dois de seus enfermeiros. Passei no refeitório, peguei um biscoito e fui para o meu quarto, me sentei na cama e comecei a ler um livro de contos de terror que Olga me emprestara antes de Pedro aparecer.

SanatoriumWhere stories live. Discover now