Capítulo (5)

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- Você não vai embora até me contar tudo o que sabe! - Disse para Fernando, lançando meu melhor olhar autoritário. Mas ele desatou a rir, o que me deixou bastante furiosa.

- Desculpa Bela, é que você fica muito engraçada com essa carinha de brava.

- Não tem graça Fernando. Dá pra me contar logo! - Cruzei os braços.

- Tá bom... mas vou contar no caminho para sua casa. Pode ser?!

   Me dei enfim por vencida.

Quando estávamos na lata velha de Fernando, - nossa que bom que ele não pode escutar meus pensamentos, esse carro é o xodó dele - notei que ele se mexia de forma desconfortável no acento.

- Vai Fê, desembucha!

- Não tem muito o que contar... - Disse sem tirar os olhos da pista.

- Como assim? Lógico que tem. Porque todo mundo acha ele perigoso?

- Presta atenção! Dizem que Miguel se casou com uma mulher muito bonita. Todos a desejavam. Passado algum tempo eles tiveram um bebê. Seu ciúme estava ficando  incontrolável e do nada eles resolveram viajar. Foram só os dois e deixaram o bebê em casa. Dizem que eles já saíram de casa discutindo, ele achava que ela estava o traindo, e em um momento de fúria, jogou o carro contra um barranco. A mulher dele morreu na hora. Depois disso ele não foi mais o mesmo, se fechou para o mundo. Outras mulheres entraram em sua vida, mas todas apareceram mortas depois de um mês de relacionamento. A cidade toda começou a ficar assustada, Miguel então parou de se envolver a sério com elas, agora vive de casos, sexo casual..  Mesmo com o perigo que o cerca as mulheres continuam loucas por ele, afinal têm dinheiro, status e...

- E é lindo! - Completei pensativa e recebi em troca um olhar estranho de Fernando.

- Eu iria dizer bem afeiçoado, mas tudo bem.

   Será que Miguel matou todas essas mulheres? Ele mesmo disse que não tem coração, isso é bem provável então. Que horror!!

Cheguei em casa, e todos já dormiam. Fui fazer o mesmo.

Me joguei na cama e fiquei encarando o teto de meu quarto deixando meus pensamentos voarem livres.

Apesar do que escutei, tinha no peito uma sensação boa. Era como se eu estivesse... apaixonada?
Não sei ao certo, mas meu coração estava daquele jeitinho, ligeiramente acelerado.
Logo escutei o barulhinho das dobradiças, olhei para a porta e vi Miguel.
Meu Deus!! O que ele estava fazendo aqui?
Ao encontrar seus olhos, meu coração disparou ainda mais. Eu estava apaixonada por ele? Acho que sim. Levantei da cama sorrindo e fui no intuito de abraçá-lo, ele  estava com os braços abertos em minha direção, esperando o momento de nos tocarmos. Mas a cada passo que eu dava, ia notando sua expressão mudando de doce para ameaçadora. Agora era como se estivesse ali só para me causar algum mal.
Resolvi recuar.
Miguel notando isso começou a se mexer.
Eu não tinha saída estava encurralada em um canto e ele estava cada vez mais perto...

   Acordei assustada e ofegante. Tinha sido só um sonho, acho que fiquei um pouco impressionada com a história que Fernando me contou.

Olho o calendário ao lado do relógio e meu coração se apertou. Faltam treze dias agora e ainda não encontramos nenhuma solução para o problema.

  Tomei café com meu pai, levei Duda para a escola e segui para o trabalho.

  Estava difícil me concentrar com tantos problemas na cabeça.
Derrubei duas bandejas, entornei água em um senhor e anotei um pedido errado. Sinto que minha demissão está perto de acontecer...

Agradeci mentalmente quando meu primeiro turno acabou. Como sempre fui buscar minha irmã. E ela parecia ligada no 220, cobrando minha promessa de levá-la até o parquinho perto da empresa de Miguel.
Eu não queria ir, mas acabei cedendo.

A chuva tinha dado uma trégua, depois de quase uma semana. Crianças aproveitavam o dia para gangorrar e fazer alguma coisa ao ar livre, depois de  vários dias presos dentro de suas casas. Duda logo se enturmou com um garotinho de cabelos pretos.
Me sentei em um banquinho e fiquei os vigiando brincar.

O tal garotinho se dependurou em um dos brinquedos, aquilo não ia terminar bem. Me levantei indo em sua direção, mas antes de conseguir chegar, sua pequena mão escorregou e ele caiu. Corri para ajudá-lo.

- Ei, machucou? - Perguntei.

Seus olhinhos lindos que me lembravam alguém transbordavam de lágrimas.

- Meu tornozelo tá doendo muito. - Disse entre soluços.

- O que aconteceu Henrique? - Uma moça perguntou. Talvez seja a babá dele.

- Acho que ele torceu o tornozelo. Tem uma lanchonete do outro lado da rua, vê se consegue um gelo lá. - Disse para ela que se levantou sem pestanejar.

- Henrique, sou a Bela. Vou dessamarar e tirar seu tênis, pode doer um pouquinho, mas você é um garoto forte não é?

- Sou sim Bela.

- Pode aperta minha mão se você sentir dor! - Disse minha irmã agarrando a mão do garotinho. 

Sorri orgulhosa de seu gesto.

Tirei o tênis com cuidado, mas ele voltou a chorar e foi aí que senti uma mão forte em meu ombro.

- O que você fez com meu filho? - Olhei para cima e dei de cara com Miguel.

Oh não! Filho?

- Ela não fez nada papai. - Henrique me defendeu.

- Seu filho caiu e só estou tentando ajudar. - Respondi receosa.

Ele me fitou por um instante e foi acariciar os cabelos de Henrique. A moça voltou com o gelo e colocou no tornozelo do menino. Pelo jeito que Miguel a olhou, ela vai tomar uma bronca daquelas.

Henrique foi se acalmando aos poucos com o carinho do pai, e logo já não estava mais chorando.

- Beatriz leve Henrique para o carro, vamos levá-lo até o hospital daqui a pouco. Primeiro quero dar uma palavrinha com a senhorita Isabela. - Disse Miguel para a moça.

Eengoli seco ao escutar isso.

A babá pegou Henrique no colo e seguiu para o carro. Ele olhou por cima do ombro dela e sorriu para mim.

- Tchau Bela!

- Tchau Henrique! - Sorri para o menino, que tinha as bochechas e os olhinhos vermelhos.

- Então... Isabela. Obrigado por ajudar meu filho... - Miguel começou dizendo.

- Não foi nada.

- E queria dizer que não engoli aquele bilhete. Não comprei um blusa nova para mostrar que tenho dinheiro, vou mandar meu motorista levar outra vez para você e espero que dessa vez aceite.

- Seu motorista vai perder tempo. Eu não quero. - Disse e me virei.

Peguei a mão de Duda e saí andando, mas ele foi rápido e segurou meu braço.

- Não gosto que me contrariem. Você vai aceitar o presente e pronto. Ouviu garota? - Perguntou de forma ameaçadora.

- Ouvi, mas não vou aceitar. Agora me solta. - Puxei meu braço e sai andando novamente.

Dessa vez ele não me seguiu, e agradeci por isso. Fiquei com um pouco de medo do olhar que ele me lançou.

Seu perfume exala perigo. Sei que devo me afastar, mas algo me puxa, me atraía. Talvez seja o mistério por trás daqueles olhos...

Bela e  FeraNơi câu chuyện tồn tại. Hãy khám phá bây giờ