Capítulo (6)

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Deixei minha irmã em casa e voltei para o serviço. Estava tudo tranquilo, e Fernando estava dando conta de anotar sozinho os pedidos, mas à partir das oito e meia, o movimento aumentou consideravelmente, e eu fui ajudar.

Martín mais uma vez estava aqui.
Ele sempre vêm até aqui para me ver, mesmo podendo pagar para jantar em um restaurante melhor.

- Oi Martín! - Disse sorrindo.

- Oi Bela, isso aqui está animado hoje hein?!

- Sim, sinal de mais gorjetas. - Sorri tirando o bloquinho de anotações do bolso do avental.

- Está precisando de dinheiro Bela? Posso aumentar as gorjetas. E tudo que você pedir eu faço, compro qualquer coisa que você precisar... - Disse ele arregalando os olhos.

Ele sempre quer ajudar a mim e minha família. Admiro isso, mas não posso aceitar.

- Está tudo bem Martín. Não precisa aumentar suas gorjetas, elas já são altas o suficiente. Obrigada.

- Você merece muito mais Bela. Você sabe, que se casasse comigo não iria passar nenhuma dificuldade, sua família teria tudo do bom e do melhor e não iria precisar trabalhar aqui.

De novo esse discurso. Ele sempre arruma um jeito de falar esse tipo de coisa. Um lado meu queria aceitar sua proposta, mas minha mãe e meu pai tiveram um casamento repleto de amor  e me ensinaram que só devo me casar com aquele que realmente amo, e Martín não é esse homem.

Sem graça me preparava para dar mais uma desculpa, mas alguém limpando a garganta na mesa ao lado me chamou a atenção. Me virei e um par de olhos azuis me fitava atentamente.

Miguel.

Ele fez sinal para que me aproximasse, e eu pedi um segundo.

- Martín, o que deseja comer? - Perguntei empunhando minha caneta sobre o bloquinho.

- O que esse homem está fazendo aqui? - Ele perguntou olhando para Miguel, que devolveu o olhar na mesma moeda.

- Jantar, eu acho. - Respondi sem jeito.

-  Quero a especialidade do dia. E vinho branco. - Ele falou olhando novamente para mim.

Anotei e segui para a mesa ao lado. Meu coração batia forte.

- Boa noite. - Desejei, enquanto ele me olhava intensamente e passava a mão pelo queixo.

Um tremor percorreu minha espinha. O que está acontecendo comigo?

- Boa noite Isabela. - Disse ele.

Que saco, é Bela. B-E-L-A. Qual a dificuldade em dizer meu apelido?

- Seu filho está bem? - Desviei os olhos dele.

- Sim. Foi só uma torção, logo já estará pronto pra voltar a fazer bagunça.

- Que bom.. - murmurei. - O que deseja?

- Desejo que você aceite meu presente. - Engoli seco. Não vou aceitar nada.

- Não, obrigada. - Sua expressão ficou tensa. Acho que é melhor eu me afastar dele. - Vou chamar outra pessoa para atendê-lo.

Dei as costas. Eu precisava respirar. Ficar perto dele depois do que eu soube me faz ficar nervosa. Segui para o corredor que levava aos banheiros, quando notei passos atrás de mim. Meu coração acelerou, tenho certeza que é ele.

Antes que pudesse me virar para checar, meu corpo foi empurrado contra as paredes cor de vinho. Miguel se posicionou em minha frente, colando seu corpo bruto ao meu. Senti uma tensão em meu ventre. O perfume dele me deixou desnorteada. Algo grita dentro de mim: Perigo. Perigo.

- Ah Isabela, você não sabe como me irrita essas suas atitudes. - Baixou o rosto até meu pescoço. Seu nariz roçou em minha pele. - Vou dizer uma coisa, você vai aceitar a merda da jaqueta. Escutou? - Falou bem baixinho em meu ouvido.

- N-não. - Respondi. E ele sorriu contra minha pele.

- Você precisa desse emprego, não me faça ir ter uma conversinha com seus chefes. Só pegue essa sacola, e pronto.

Meu sangue ferveu. Ele sabe que vou perder minha casa, e ainda me ameaça por causa de um presente idiota.
Ele é um cretino.
Saio do transe e da deliciosa sensação de tê-lo tão perto e empurro seu corpo.

- Você é muito baixo. - Pego a sacola de suas mãos e saio correndo para a cozinha.

Fernando estava lá entregando um papel com seus pedidos anotados, e assim que coloca os olhos em mim, vê que algo não está certo.

- O que aconteceu? - Perguntou.

Não posso contar que Miguel me chantageou só para aceitar um presente. Ele é um louco.

- Nada Fê. Só uma dor de cabeça chata. Se importa de ir atender o Miguel Alcântara no meu lugar?

- Não. - Ele deu um beijinho em minha testa e voltou ao trabalho.

Destaquei as folhas de pedido e coloquei para que o chefe providenciasse. Estava arrumando a bandeja com o pedido da mesa 3, quando escutei a voz de Roberto.

- Doce Bela... - Disse me olhando de cima a baixo. - Vá atender a mesa cinco. Miguel só quer ser atendido por você, mais um que não resistiu a seus encantos. - Disse passando ao meu redor, olhando com mais atenção para certas partes do meu corpo. Segurei minha onda e saí de perto. Entreguei o pedido ao cliente e fui até Miguel.

- Pois não? - Evitei o olhar nos olhos.

- Quero a especialidade do dia por favor... - Falou como se não tivesse me ameaçado pouco tempo atrás. - A propósito, seu perfume é muito bom. Me remete a pureza.

Abri a boca para falar algo, mas não consegui. Martín olhava para nós dois e sua expressão era de raiva.
Quero que esse dia termine logo.

Pensando na possível demissão, trabalhei com minha melhor expressão profissional e escondi todos meus sentimentos e problemas.

- Bela? - Um casal me chamou próximo a saída. Eu os atendi a noite toda, e são muito simpáticos.

- Pois não? - Sorri.

- Só queremos agradecer pelo atendimento essa noite. Você é muito gentil, e belíssima. - Disse a mulher.

Agradeci, e os dois foram embora. Me virei para ir atender mais uma mesa, mas brequei com Miguel.

- Me desculpe.

- Tudo bem. Estou indo embora. - Olhou para baixo buscando meu olhar. Eu não deveria, mas estou atraída por ele. - Boa noite. - Pegou minha mão e levou até os lábios.

O que foi isso? Em um minuto ele está me ameaçando, e no outro está colando seus lábios quentes e macios em minha mão.
Estou confusa.
Fico olhando seus ombros largos e seu modo elegante de andar até atravessar a porta.

Parte do restaurante está me olhando. Minhas bochechas começam a queimar, aposto que estão pensando que sou a próxima vítima dele.

Bela e  FeraWhere stories live. Discover now