Capítulo (27)

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   Encarei a porta por alguns segundos com medo que Martin a abrisse novamente, como isso não aconteceu comecei a me mexer mais e mais. A corda ficou um pouco mais frouxa, mas eu precisava de algo mais eficiente.
 
O que por exemplo ?

Olhei ao meu redor e minha única opção era o vaso de flores encima da mesa. Com o corpo arrastei a cadeira para mais perto ainda. Meu braço direito estava quase solto , o estiquei o máximo que pude. Mas a corda limitava bastante meus movimentos.
   Com as pontas dos dedos trouxe o vaso mais para perto. O tombei e segurei onde minha mão conseguia fazer a volta. Bati ele com força contra a quina e vários cacos se espalharam , mas por sorte o mais forte ficou em minha mão.
Comecei a passa-lo contra a corda, usando toda minha força. Por sorte o material não era resistente. Aos poucos meus braços estavam livres e então soltei o nó que que prendia minhas pernas.
  Me levantei, e ao mesmo tempo fiquei tonta. Tive de respirar fundo. Não tinha tempo para passar mal, eu precisava salvar Miguel.
   Abri a porta e me deparei com várias árvores. Agora eu estava lembrando. Já tinha vindo uma vez nessa casa. Era almoço de aniversário de Martin, lembro até que meu pai me mostrou um pequeno caminho atrás da casa que dava direto para uma estrada bastante movimentada.
Era disso que eu precisava , de um atalho. Dei a volta na residência e vi o caminho repleto de galhos.
   Um lado meu ficou com um pouco de medo, mas até alguns minutos atrás eu estava frente a frente com um assassino, então alguns arranhões e teias de aranhas seriam moleza.
   Fui arrastando as folhas, e os galhos. Ao longe já dava pra escutar barulhos de carro, isso era ótimo. Apertei o passo e ao empurrar mais um galho me deparei com o asfalto.
   Alguns carros passavam devagar, era um risco pegar carona com um completo  desconhecido, mas era minha única opção. Fiz sinal e um senhor com uma picape parou.
- Carona moça? - Ele gritou da janela. Sua expressão era amistosa e eu não pude negar.
- Sim. É urgente. - Respondi.
Entrei e ele me olhou preocupado.
- É urgente? Caso de vida ou morte?
- Sim. Acelera.
  O senhor pisou no acelerador com fúria e eu fui jogada contra o banco. Saímos cantando pneu.
- É só a senhorita ir me dizendo o caminho. Mas quem está em perigo ? - O senhor perguntou. Nossa eu nem sabia qual era o nome dele.
- O pai do meu filho está em perigo. Preciso chegar em casa antes que o pior aconteça.
   Meu coração estava disparado e o medo corria por minhas veias. Eu precisava chegar a tempo.
- Você deveria ligar pra polícia.
- Eu sei. Mas eu estou sem celular. O senhor tem um aí ?
- Infelizmente não.
   Droga.
  Um silêncio se instalou e eu pedia mentalmente que eu conseguisse chegar a tempo. Eu ainda nem sabia o que iria fazer, mas precisava tentar.
- Então você tá grávida ? Nem parece. Tão nova também .
- Eu descobri hoje. Vira a direita. - Falei. Eu estava grata de ter encontrado alguém que não pedisse uma explicação completa do que esta acontecendo, mas não estava afim de conversar.
  Agradeci quando avistei o ponto de ônibus que ficava no início da estrada que levava até a casa de Miguel.
- Para aqui por favor. Muito obrigada.
- Você quer que eu vá junto com você?  - Se dispôs todo preocupado.
- Não. Preciso que o senhor vá até a polícia e os mande aqui. Tem que ser rápido.
   Sem esperar a resposta sai correndo. Minha cabeça estava tonta e eu tinha vontade de vomitar. Agora não. Agora não.
   Cheguei ao portão e vi o carro de Martin. Eu tinha de ir pelos fundos.
A porta estava destrancada e eu fui entrando cautelosamente. Ouvi vozes vindas da sala. E foi pra lá que eu fui. Me escondi atrás de uma das pilastra. Daquele lugar eu conseguia ver tudo.
   Miguel estava todo desalinhado, de um jeito que nunca vi antes. Cabelos bagunçados, a camisa com alguns botões abertos e a expressão assustada.
  Em sua frente Martin segurava um revolver e tinha um sorriso maldoso no rosto.
- Ah Miguel essa expressão no seu rosto está impagável. - Ele gargalhou.
- Você é louco. Nunca aceitou ser o número dois. Tanto nos negócios, quanto na vida das Mulheres.
- Fui o número dois porque você sempre roubou tudo de mim. Roubou meu bem maior. A Bianca.
- Por sua culpa ela morreu. Você matou seu bem maior. - A voz de Miguel estava repleta de ódio.
- Eu sei! - Martin gritou e atirou contra um espelho que ficava na parede da sala. O barulho foi terrível, tive me segurar para não gritar e revelar meu esconderijo.
Eles permaneceram em silêncio por um tempo, até que Martin começou a rir.
- Qual a graça? - Miguel praticamente rosnou.
- A graça é que eu fui sempre o número dois, mas assim que eu acabar com sua vida serei o número um na vida de Bela.
- Você nunca vai ser importante na vida de Bela.
- Não? Por que? - Martin fez um tom de voz sarcástico.
- Porque assim como meu coração a pertence, o dela pertence a mim também. E nada vai mudar isso.
- Ah mais vai mudar sim. Mas é uma pena que você não estará aqui pra ver isso acontecer. Adeus Miguel Alcântara.
  Ele apontou a arma. Ele ia matar Miguel.
   Uma adrenalina sobrenatural percorreu meu corpo e eu sai de trás da pilastra. Peguei o vaso de flores que estava encima de um móvel e bati com muita força contra a cabeça de Martin. Antes de desmaiar ele ainda conseguiu apertar o gatilho. Quando tirei os olhos dele vi que Miguel também tinha caido.
  Meu coração pareceu pulsar dentro da minha cabeça.
- Miguel!! - Gritei indo até ele. Sua camisa branca tinha uma enorme mancha vermelha.
Seus olhos estavam fechados e o medo me invadiu.
- Miguel. Acorda. Fica comigo .- Balancei seu corpo. Eu não podia perde- lo. Meus olhos começaram a ficar embassados de lágrimas.
- Fica comigo. Fica comigo e com o filho que estou esperando. - Disse me debruçando sobre seu peito e chorando. Eu não podia ficar sem ele. Sem o amor da minha vida.
- O que foi que você disse minha Bela? - Escutei aquela voz que eu tanto amava. Levantei minha cabeça e vi os lindos olhos de Miguel me olhando.
- Oh meu Deus.. Vou te levar pro hospital.
- Não. Eu tô bem, foi só um susto. Pegou de raspão no meu braço. Agora me fala o que você disse.
   Engoli em seco.
- Eu estou grávida. - Sussurrei sem graça e com medo.
Pela primeira vez vi lágrimas nos olhos de Miguel.
- Eu amo você Bela....
- Ah que cena mais linda! - Escutei uma voz meio enrolada.
  Martin já estava de pé, segurava a arma com a mão frouxa. Eu fui muito burra, tinha que ter pego a arma enquanto podia, mas quando vi Miguel caindo não consegui pensar em mais nada. Ele estava tonto, mas ainda era uma ameaça enorme.
  Fechei os olhos pedindo mentalmente que um milagre acontecesse e que Martin não atirasse em nós.
E logo minhas preces foram atendidas. Escutei um barulho e vi o senhor que me deu carona junto da polícia indo para cima de Martin. A pancada foi tão forte que ele não conseguiu reagir e nem atirar. Logo os policiais o prenderam. Ali era o fim de um pesadelo.
  Ali era o fim de Martin, da culpa que Miguel carregava e o inicio de uma história de amor sem complicações e sem ninguém para atrapalhar.
    
                                           FIM

   

Bela e  FeraWaar verhalen tot leven komen. Ontdek het nu