4 - Frank

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 Mikey deveria ser amaldiçoado por sua existência, definitivamente. Ele estava cansado de saber que eu não sabia andar por NY direito, mesmo vivendo na cidade há certo tempo, e tinha essa necessidade absurda de me ver sofrendo pelas ruas, sem rumo e tendo que pedir informações para pessoas bastante esquisitas, homens que mais pareciam estupradores em potencial.

Havia me encontrado com ele, há algumas horas, para que me desse a chave extra do apartamento do irmão e pudesse levar minhas coisas para o meu mais novo "lar". Mikey havia me buscado na casa de Timothy e fomos de mala e cuia até aquela parte desconhecida da cidade, completamente cercada de prédios monstruosos, riquinhos e socialites metidas a besta.

Mikey estava todo pomposo, de terno e gravata, cabelo engomado e parecendo gente, quando eu entrei no carro e desatei a rir. Foi uma das coisas mais bizarras que eu já tinha visto na vida, desde que Mikey era conhecido por viver com a sua camisa do Anthrax, jeans justas e cabelo sempre escondido por uma touca ou boné. E lá estava ele: parecendo um mauricinho de primeira.

Ele estava atrasado, o irmão casaria em poucas horas e ele precisava despachar o amiguinho aqui em um ponto muito distante do apartamento de seu irmão. E eu havia demorado, precisamente, quarenta e seis minutos para achar o enorme prédio de arquitetura moderna e bem localizado. É claro que eu não precisava nem mencionar que quase todas as pessoas na rua olhavam para o garoto estranho aqui, mal conseguindo carregar três malas enormes e as cases de seu violão e de sua guitarra (além de uma mochila gigantesca nas costas), vestindo jeans rasgados e camisa surrada do Misfits, tênis mais sujos do que as ruas de NY e cabelo completamente despenteado, como se eu houvesse recém saído do olho de um furacão.

Era meio óbvio que, assim que eu entrasse no prédio bem arrumado, metade dos moradores e o porteiro iriam me olhar como um extraterrestre e foi o que aconteceu. O porteiro demorou longos minutos para me deixar entrar e seguir até o elevador, me fazendo responder um questionário desnecessário e eu tive que fazê-lo ligar para Michael para confirmar que eu estaria passando uma temporada ali. Depois de deixar meu amigo extremamente irritado, o homem me deixou entrar no elevador, sem nem ao menos me ajudar a colocar as malas e minhas mil coisas dentro daquela merda.

Irritado, segui até o décimo terceiro andar, pacientemente, já me conformando que aquele tipo de vida cheia de frescuras não era para mim. Eu não sabia lidar com aquela gente, eu nem ao menos sabia mexer no elevador e ainda demorei uma eternidade para conseguir abrir a porta, largar minhas coisas no interior do apartamento, fechá-la e ligar o interruptor, a fim de dar uma olhada no que seria o meu teto provisório.

E puta que pariu! Aquele cara tinha mesmo dinheiro!

Por tratar-se de um loft, o apartamento era extremamente arquitetônico e quadrangular. O piso era de tabaco, assim como a maioria dos móveis, dando um aspecto escurecido á casa, contrastando com as paredes impecavelmente brancas.

O primeiro andar era tomado por uma gigantesca sala, onde dois sofás de couro preto estavam dispostos. Um deles possuía uma vista maravilhosa para as janelas gigantescas e nada discretas do apartamento, tendo uma das vistas mais incríveis que eu já vi em minha vida. Ao que me aproximei do vidro, eu me senti ainda menor. Eu poderia ver quase toda NY, as luzes invadindo a sala e enchendo-a de cores, assim como as dezenas de carros que passavam praticamente sob meus pés. As pessoas passando para lá e para cá, me fazendo ter até uma breve vertigem e me afastar dali, antes que meu medo de altura falasse mais alto do que a admiração por uma vista como aquelas.

Em um canto da sala havia uma estante praticamente vazia, com alguns objetos desconhecidos por mim (pareciam miniaturas de alguns personagens de história em quadrinhos) e uma tímida pequena pilha de CDs em uma das prateleiras. No centro da estante, um quadrado gigantesco destacava a TV de LCD e me fez ficar de boca aberta por longos minutos. Aquela porra era dez vezes maior do que aquela coisa que eu chamava de televisão que eu utilizava para ver alguns filmes na casa de Timothy.

Burn Bright || Frerard versionWhere stories live. Discover now