19 - Frank

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Eu adoraria dizer que o resto da semana havia passado às mil maravilhas. Que eu e Gerard havíamos nos resolvidos e eu podia beijar os lábios dele quando eu bem entendesse. Que ele estava com um ótimo humor e que havia parado com toda a mania de limpeza e arrumação. Mas isso era o de menos. Eu podia lidar com isso, eu podia superar essas coisas e deixar de lado aquele drama todo.

Eu só não era capaz de lidar com Gerard triste.

Mais algumas horas daquilo e eu iria surtar.

Desde a última visita que fiz, a mãe de Gerard e Mikey piorou.

Naquela noite, ele recebeu uma ligação do pai lhe informando que ela havia voltado ao coma induzido e não tinham previsão para sua melhora. Nós dois ficamos horas na sala, sem dizer uma palavra sequer. Eu o fitava, ele encarava o chão e eu não tinha coragem de passar meus braços ao seu redor e ampará-lo. Eu não sabia como Gerard responderia e antes que eu realmente tentasse algo, ele foi direto para sua sala de desenho e lá ficou.

Na manhã seguinte, ele permanecia quase monossilábico, mas ainda conversamos um pouco antes de trabalharmos. No intervalo, eu o encontrei fumando e consegui distraí-lo um pouco perguntando a respeito do lançamento de seu quadrinho, até que ele voltasse para o trabalho e apenas nos víssemos a noite. Consegui sair um pouco mais cedo da faculdade, lhe preparei um lanche simples à noite e nós comemos assistindo a um filme de ficção científica que ele gostava. Star Wars pareceu não animá-lo muito, mas foi o bastante para que conversássemos um pouco sobre cinema e alguns filmes que havíamos visto. E eu acreditava que ele iria melhorar, quando, na outra manhã, Mikey o ligou e lhe disse que ela iria passar por uma cirurgia.

Ele não foi ao trabalho, foi direto para o hospital e eu não me irritei por ter me deixado por conta própria naquela manhã. Consegui me virar de metrô, o que foi quase um desastre, mas ainda sim cheguei a tempo no trabalho. Não o encontrei durante o intervalo, mas decidi ligar para saber se estava tudo bem. Ele respondeu pouco, mas parecia um pouco mais calmo, já que estava com Mikey. Naquela noite, ele demorou consideravelmente para chegar e, mesmo que mal tivesse falado comigo quando chegou, eu só fui deitar em minha cama quando tive certeza de que ele havia se alimentado e subido para tomar seu banho e descansar.

O terceiro dia foi mais tumultuado. A cirurgia havia sido normal, mas ela ainda não estava acordada e parecia não responder muito bem aos remédios para estabilizá-la. Gerard parecia cada vez mais infeliz, até Mikey lhe ligar a noite e falar que ela havia repentinamente acordado. Mesmo ainda ocupado com tudo o que tinha que resolver sobre o tal lançamento de seu quadrinho, ele foi e eu recebi uma mensagem, ainda quando estava na faculdade, onde dizia que ele iria demorar novamente. O respondi que tudo ficaria bem e não me importei de esperar mais uma vez naquela noite.

Ele só apareceu quase de madrugada e com um sorriso nos lábios. Ela estava melhor, haviam conversado e ele parecia aquele Gerard do começo da semana, o que havia me buscado na biblioteca e se motivava a ser menos implicante comigo. Ele estava alegre, de quase bom humor, mas ainda sim preocupado, quando foi dormir, agora nervoso pela estreia do seu quadrinho.

E agora, lá estava eu, parado diante do espelho do banheiro, os cabelos molhados pelo banho recente, sozinho naquele apartamento. Gerard havia saído cedo no sábado, passaria no hospital antes de seguir para uma grande livraria no centro, onde o evento se realizaria. Eu já havia almoçado, arrumado um pouco a casa (eu tentava, mas ainda gostava da ligeira desarrumação que eu causava) e me encontrava estático, naquele momento, encarando meu reflexo e decidindo se eu deveria sair daquele apartamento para encontrar Gerard naquele evento.

Burn Bright || Frerard versionWhere stories live. Discover now