20 - Gerard

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Frank era lindo.

E eu havia demorado um tanto para perceber isso. Eu fiquei mais focado em seus defeitos e manias, do que olhá-lo de verdade. Mas eu estava o fazendo naquele instante, ao que ele estava parado a alguns centímetros de mim, no meio daquele salão movimentado e barulhento do terceiro andar da boate. Eu estava caindo em mim e notando que Frank não era uma folha de rascunho amassada e jogada no lixo.

Ele era uma tela bem trabalhada, desenhada e colorida cuidadosamente. Ele era um objeto único, talvez chamá-lo de obra de arte seria clichê demais, mas cada detalhe dele constituía uma figura que, a cada dia, tinha ainda mais a minha atenção.

Frank ainda era a mesma criatura que eu havia encontrado em meu apartamento algumas semanas atrás. A blusa xadrez era um pouco diferente do que ele vestia, um tanto quanto formal, mas desde que adentramos aquele salão, os botões da mesma já estavam entreabertos, revelando sua pele amorenada, e as mangas arregaçadas, dando-lhe aquele ar mais desleixado. A calça era extremamente justa e eu não sabia como ele andava com aquilo, mas não reclamei... Se ele soubesse o quanto as coxas dele chamavam atenção com aquele tecido praticamente colado no corpo, ele tiraria vantagem daquilo... Ainda mais se soubesse que eu tentava, veementemente, não fitar aquela parte de seu corpo ou sua bunda. Se a calça já chamava atenção para suas coxas, não queira nem imaginar o estrago que ela fazia com a minha imaginação, quando Frank se virava de costas para mim. Eu tinha que reunir forças do fundo do meu ser para não puxá-lo e me encaixar tão bem àquela parte de seu corpo.

Naquela noite ele não usava delineador, nem nada que fosse de rebite ou que remetesse o quão punk rock ele era. Frank parecia comum e eu poderia dizer que gostava de vê-lo daquele jeito, a não ser pelo fato de sentir falta de suas roupas esquisitas, do como ele se comportava impropriamente e parecia recém ter saído de um show de rock. Naquele instante, Frank parecia sim alguém saído de um show de rock, mas era diferente... Ele parecia um rockstar, não mais aquele garoto que sonhava em se tornar um.

Eu não conseguia desprender meu olhar dele e obviamente ele havia reparado, ele também não conseguia desprender o olhar de mim. Aquelas sobrancelhas, antes esquisitas para mim e que, agora, realçavam mais aquele olhar aprofundado que lançava a mim, mantinham-se arqueadas a cada vez que me pegava encarando ou suas tatuagens expostas, ou o sorriso distraído que ele esboçava. Ele parecia se divertir, por mais que eu não fosse a pessoa que mais estimulasse diversão ali, e eu agradeci por tê-lo ao meu lado naquele instante. Havia sido a melhor ideia que eu havia tido.

Eu detestava aquele tipo de festas, eu não tinha o menor jeito para dançar e, por mais que as músicas que tocassem ali fossem rocks mais antigos (meu pedido, claro), eu preferia ficar calado em meu canto, tomando uma boa cerveja e esperando a hora se arrastar, até que eu pudesse ir embora. Mas era diferente com ele ali.

Não precisava da cerveja para me distrair, ele o fazia por conta própria. Algumas vezes, Frank me puxava pela camisa e apontava alguma criatura esquisita no meio da multidão, rindo daquele jeito mais exagerado e tão próximo de mim. Inicialmente, eu havia reclamado, mas a cada vez que ele o fazia e sussurrava algo em meu ouvido, eu me pegava abrindo um sorriso quase confidente e concordava com algum comentário que ele fazia. Por mais que a música alta nos impedisse de conversar, nós insistíamos.

E eu sabia muito bem o porquê.

Para que eu o escutasse e ele me escutasse, nós precisávamos nos curvar, sussurrar próximo ao ouvido e nos afastar minimamente, apenas para encarar a face um do outro. E eu não podia negar que eu estava gostando daquilo. Eu gostava da forma com que Frank tentava me chamar atenção me puxando pela camisa ou por uma das mãos, sempre me tocando distraidamente e logo se aproximando perigosamente de mim. Como a alguns minutos, no estacionamento.

Burn Bright || Frerard versionWhere stories live. Discover now