10 - Frank

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Estava acordado há mais de duas horas, zanzando por meu quarto, enquanto arrumava minhas coisas para a faculdade e o trabalho. Mal havia dormido direito, revirei na cama por algumas boas horas, até dormir por menos de duas e acordar, ainda tão inquieto quanto antes, pois eu simplesmente não conseguia esquecer o fato de que Gerard Way, o arrogante desenhista e cara mais certinho que eu conhecia, esteve prestes a me beijar a algumas horas atrás. E também esteve muito próximo de deixar-me molestá-lo sem nem ao menos reclamar. Por simplesmente querer que eu tocasse.

Era demais para uma noite só. E eu não sabia se conseguiria superar.

Toquei meus lábios, algumas vezes, com a ponta dos dedos, descrente de que eles estiveram tão próximos dos dele naquela noite. Por um tempo, fiquei apenas extasiado, sentado em minha cama e fitando a parede, como se estivesse em quase estado vegetativo onde eu tinha a imagem de Gerard tão próximo de mim fixa em minha mente a todo segundo. Até, claro, passar a achar-me um idiota, um grande imbecil, por não tê-lo puxado para um beijo, ter encaixado minhas mãos naqueles fios macios e ser uma fera selvagem e descontrolada. Ataquei meu travesseiro, afundando o rosto contra tal e grunhindo, antes de chegar à terceira fase do meu estágio de surto: eu sorri. E fiquei sorrindo durante minutos, a cabeça repousada sobre o travesseiro, sentindo-me uma adolescentezinha recém-saída de seu primeiro encontro. O que, tecnicamente, era verdade.

Eu nunca havia tido encontro com os caras que eu saía, muito menos conversei com eles por tanto tempo... E eu poderia não ter o beijado, puxado e molestado como eu queria, mas havia valido a pena. Talvez ainda mais do que simplesmente ficar o agarrando no canto de um bar ou no banheiro do mesmo. Porque, aos poucos, eu passava a conhecer o Gerard de verdade. O que ele tanto trabalhava em esconder e que comigo facilmente deixava transparecer. Eu não sabia o poder que eu tinha sobre ele, mas era significativo... E eu não sabia o que fazer quanto aquilo.

Pois eu estive a ponto de beijá-lo e eu repetiria isso um milhão de vezes seguidas, como um completo retardado, até me acostumar com a ideia. Os meus dedos ainda formigavam, não só pela vontade que eu tinha de voltar no tempo e deixá-los viajar em puxões pelos fios escuros dele, mas, sim, por eu ter me aproximado tanto do volume da calça de Gerard que, só de voltar a pensar, eu provavelmente ficaria tão duro, que nem um banho frio iria resolver o meu problema.

Porque eu nunca havia desejado ninguém como eu desejava Gerard naquele instante.

E eu não sabia mais dizer se era por carência ou por simplesmente acontecer. Por ele ser aquela incógnita completamente agradável. Por sim, ser chato e ter todos aqueles defeitos, mas, ainda sim, ser muito além daquilo... E eu podia ver, eu podia sentir que Gerard não era alguém sem sal. Ele só precisava de um empurrãozinho.

E, sinceramente, eu estava motivado a dar mais do que um empurrãozinho nele.

Enfim. Já estava pronto, vestindo uma de minhas camisas comuns e o moletom da noite anterior, uma calça jeans menos justa e o meu par de all star mais limpo, quando saí do quarto e notei que Gerard se encontrava em sua sala de desenho.

A porta entreaberta me deu a visão de sua pele pálida exposta, as costas tensionadas, enquanto ele desenhava avidamente, apenas vestindo aquela velha calça de pijama extremamente broxante. E que, a cada vez que eu o olhava usar, tornava-se menos broxante ainda. Abri um pouco mais a porta e, deixando minha mochila contra o portal da mesma, adentrei o quarto lentamente, sem conseguir entender muito bem o porquê.

Eu pretendia manter distância, havia enfiado aquilo em minha mente durante a noite mal dormida, a fim de tentar entender o que diabos havia acontecido. Eu achava que Gerard não gostava de homens, me odiava e provavelmente estava arrasado por causa da mãe e me mataria na minha primeira tentativa de ser engraçado/atrevido. Mas eu estava parcialmente errado e não sabia lidar com isso. Porque talvez Gerard fosse algo grande demais para que eu pudesse lidar.

Burn Bright || Frerard versionWhere stories live. Discover now