13 - Gerard

1.4K 135 230
                                    










                  

Meus olhos percorreram toda a extensão do pátio de entrada do centro empresarial, fingindo desinteresse, enquanto minha mente emitia sinais desesperados já que eu não encontrava o que buscava ali. Mais de cinco dias naquilo e eu teria absoluta certeza de que eu não estava bem.

Pois eu procurava Frank constantemente.

Em todos os lugares. A toda hora.

Como se eu fosse capaz de fazer alguma coisa assim que o encontrasse. E eu me via agoniado, já que, em meio àqueles engravatados e tão apressados executivos, a figura excêntrica de Frank não aparecia sob meus olhos durante aqueles torturantes dias desde que eu havia cometido o erro de expulsá-lo de meu apartamento.

Durante os dois primeiros dias, eu estive bem... Eu retomei minha rotina e continuei com meus afazeres entediantes. Até perceber que eu ocupava minha mente com cada uma de minhas chatices para não me lembrar.

Para esquecer que eu sentia falta da voz alta, escandalosa e animada dele. Das manhãs com cafés e sanduíches prontos, tão saborosos, que eu passei a me irritar ao longo dos dias, ao perceber que eu não sabia me virar praticamente em nada. De como Frank vinha me bisbilhotar e, sem ele, eu me pegava encarando a porta da sala de desenho, na esperança de que Frank aparecesse e me perturbasse como tão bem fazia. Das provocações, das infantilidades e do jeito espevitado, mas ao mesmo tempo tão cuidadoso com que ele lidava com as coisas. De cada paradoxo que girava ao redor de Frank, em como ele era sutil e cuidadoso quando queria, mas agia tão inquieto e desastrado por algumas vezes, que eu me perguntava por que eu insistia em tentar não gostar dele.

Eu sentia falta de Frank... E, como ele diria, sentia falta pra caralho. Porque eu não havia me dado conta de que, durante cinco dias, eu não havia sido o Gerard solitário de sempre. Eu tinha aquele garoto irritante para me distrair dos meus problemas, até mesmo me escutar desabafar, e eu havia jogado tudo fora. Porque eu só conseguia pensar em meu trabalho acima de tudo, deixando os sentimentos dos outros de lado, importando-me mais com os meus. Também havia percebido que, com Frank por perto, eu estava encontrando uma saída, me tornando mais "eu mesmo" como antes e aliviando cada peso na consciência que surgia para me atrapalhar com aquela minha vida cada vez mais ferrada.

E, sem Frank, eu havia retornado à estaca zero novamente.

Eu estava no mesmo ponto onde estava antes, como se tivesse retrocedido drasticamente em minha vida. A monotonia, lidar com minha mãe ainda no hospital, a repercussão irritante da mídia ainda a respeito do meu casamento, o projeto do filme baseado em meu quadrinho, o lançamento de minha HQ nova, minha sexualidade e a quase certeza de que Frank era o real móvito pelo qual eu me sentia ainda mais solitário durante aqueles dias... Tudo isso estava me estagnando novamente. Porque aquela solidão não era como a anterior. Porque eu havia provado do pouco que Frank poderia me oferecer durante aqueles dias e era desesperador saber que, todas as vezes que eu fosse voltar para casa e me largar no sofá, eu não teria com quem gritar ou reclamar da bagunça. Porque não havia mais bagunça, não havia mais gritos ou sorrisos fáceis. Não havia mais Frank e aquilo era agonizante.

E eu não sabia o que fazer, a não ser ficar ali: sentado naquele banco diante do chafariz, esperando Ray para almoçar, enquanto, na verdade, eu vigiava cada centímetro da calçada da biblioteca e esperava que Frank aparecesse. E, se o fizesse, eu tinha certeza de que não faria nada. Eu queria apenas ver se estava bem, onde ele estava morando e porque não havia me procurado mais. Porque eu havia quase cedido desde a última vez em que nos encontramos e ele me pareceu tão doce, ainda que extremamente magoado, preocupado comigo, que eu comecei a realmente me arrepender dos meus atos. Ainda mais quando reparei que Frank vestia as mesmas roupas, naquela manhã, que utilizava quando havia saído de minha casa. E que ele também havia acertado em cheio a respeito de eu não me alimentar direito pela manhã, livre dos lanches que preparava e irritado demais com a minha própria burrice para colocar alguma coisa para dentro do estômago. E eu passei a repetir essa estupidez durante aqueles três dias. Mas eu tinha motivos.

Burn Bright || Frerard versionजहाँ कहानियाँ रहती हैं। अभी खोजें