Realidade

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As gotas batiam constantemente sobre o asfalto, minha janela estava aberta e em frente a ele meu corpo sentia a fresca brisa, assim como o quente abraço da chuva sobre meu rosto.

Tremi. Não sei se pelo frio de fevereiro ou talvez porque a voz de meu locutor favorito explodiu resvalando entre as quatro paredes de meu apartamento. Fechei a janela e me sentei ao lado do radio, o qual estava colocado ao lado de minha cama, em uma pequena mesa de madeira cor ocre.

Junto a mim descansava meus instrumentos. Escuto sua voz suave enquanto levanto a manga de meu suéter cinza.


" Boa noite, bem vindos a Romance a meia noite, sou Louis Tomlinson e desta vez teremos um programa cheio de amor; amor doce e correspondido...

'Amor, te amo, e com que pouco se conforma. Com duas simples palavras seus olhos se iluminam e sua boca se transforma num sorriso. Amor, te chamo amor, e com que pouco me pressentia o elixir da felicidade em um beijo terno. Amor, te conto meu sonho, onde sempre está você, e com que simplicidade te faço suspirar. Amor, horas lhe faltam a noite, dias lhe faltam em minha vida para lhe agradar, para me encher de você.

Amor, que palavra mais patética. Não explica, não complementa, não reduz o que as borboletas em meu interior querem dizer. Te amo. Que frase mais banal, mas o senti no preciso instante em que te vi..."

Sorriu e coro ao mesmo tempo. Me lembro de seus olhos brilhando cada vez que lê uma de suas criações, e a forma que segura com suavidade o microfone.

"Só umas horas ao seu lado e já aprendi suas frações, já reconheço suas manias e posso prever suas reações".


Quero descobrir mais. Descobrir o verdadeiro Louis Tomlinson...


"Para você, doce amor, Bryan Adams, Everything I do I do it for you..."


Volto a sorrir antes de colocar, com a ajuda de minha boca, o torniquete ao redor de meu braço, fazendo uma ligeira pressão.

Sei que é estúpido pensa-lo. Sei que é ainda mais estúpido deseja-lo. Mas sou estúpido, é minha natureza e minha realidade. Sou um estúpido porque acredito que havia dedicado essa musica para mim.

Inverto cada instante de consciência em pensamentos dedicados a você. É estúpido, mas sonhar me mantém com vida...

A dose está na seringa. Ainda tenho medo de agulhas e enterra-la em meu braço é uma clara amostra de masoquismo, mas não há outro modo.

O liquido transparente termina e minha mão que treme retira com lentidão a água de meu interior. Sinto o frio, ao mesmo tempo em que o ardor provocado pela substancia que agora percorre minhas veias. Gemo com suavidade perante minha triste realidade...


You know it's true

Everything I do I do it for you... (*)


A música continua sendo escutada, e acompanhado pelo soar da guitarra, retiro com pressa o elástico para em seguida colocar uma bolinha de algodão molhada com álcool. A prendo com um esparadrapo e dobro meu braço contra o peito.

F R A G I L E » larryOnde as histórias ganham vida. Descobre agora