XIV - Do afogamento à Salvador

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I

A água se elevou

O mar não se acalmou

E até onde foi possível

O afogamento do qual fui passível,

Deixou minha boca ficar presa,

E meu corpo, levou-se pela correnteza.


Sem poder respirar

Comecei a me desesperar

Mas lavei minh'alma com o sabor da morte

E percebi, que tudo não passava de sorte

De ser aviventado

Pelas águas ser levado


Naquele momento

E em todo sofrimento

Sobretudo nada era

Assim como de fato se espera

Mais sagrado que o ar,

Que deus insistia em não me dar


Me empurrava para baixo

E eu ia caindo ao meu despacho

Sem nem ao menos imaginar

Que alguém pudesse me salvar

Algo aconteceu ao fim de minha esperança

D'uma sombra tomou forma a mudança


Que me ergueu do fundo do mar

E me pôs na areia a vomitar

Que visão horrível tinha tido eu

Nada conseguira ver além do breu


Exceto pelo breu azul marinho

Que para minha alma fora de grande carinho

Assim como a visão que tinha agora

Um homem com a face da flora.


II

Meu corpo estendido sobre a areia branca

Tuas mãos sobre o meu peito a morte estanca

Amedrontados, teus olhos me encaram

Tentando repor a mim os ares que escaparam

Estou consciente, equanto tudo sombreia

Ao meu redor, uma multidão nos rodeia


O cansaço e o impedimento

De repente se transformaram em tosses de sofrimento

E eu me ergo atordoado

Com aquela multidão assustado

Tento me levantar e ir embora

Enquanto Salvador com as mãos implora


-Por favor, esperes, você está mesmo bem?

-Sim, aquele ato foi só da vida desdém

Preciso ir embora

Permanecerei vivo por hora

Até que meu espírito novamente venha a se sujar

E eu nas águas precise-o lavar



A Filosofia da MorteWhere stories live. Discover now