Júlia estava em sua cama, afundava nos mantos
Ela tinha decerto todas belezas, e todos os encantos
Enquanto lá fora o vento rugia na janela
Dentro do quarto quem rugia era ela
E o vento, batia com força nos carvalhos da rua
E as folhas caiam sobre os carros estacionados na lua.
A luz delicada entrava pelo vidro invisível
Mesmo delicada, incomodava a garota sensível
Então ela voltou-se para o outro lado
E tentou no escuro cultivar um sonho pesado
Caiu ainda mais fundo sobre seus próprios pensamentos
Enquanto relembrava lindos e adorados momentos
Lembrava de um pássaro azul brilhante
Da qual desejara ser amante
Vira sua figura no zoológico há uma semana
Era uma ave de origem africana
Aquela espécie fora capturada num cruzeiro
Quando sem sucesso tentava chegar a algum paradeiro
Caiu sobre o convés do navio ave tão primária
E fora ali que recebeu cuidados, na cidade portuária
O guia fazia questão de contar
Para toda gente se alegrar
Com a atitude do capitão do navio
Que fizera boa ação durante o estio
Após ser cuidado e bem tratado
O pássaro foi ao zoológico levado
E os visitantes se encantaram com a beleza
Daquele pássaro originário da realeza
Dos animais, certamente uma obra prima
Que agora em dor se exprima
Queria de novo a liberdade
Estava pronto para o voo sobre a cidade
Iria em direção ao mar
E ao seu continente retornar
Para então com uma manada de outros semelhantes
Voar, e no céu, e emitir luzes, azuis brilhantes
Aquele azul parecia tão intenso,
E o céu parecia tão imenso
Os dois começaram a se misturar
Júlia estava nas asas a voar
Com as mãos agarradas ao pássaro gigante
Que parecera crescer em um instante
Agora levava ela por cima das nuvens
E por baixo, grandiosas paisagens
Passavam-lhe ao olhar
Grandes vales, rios a escoar
Por sobre arvores e arvoredos
Por sobre terras e casaredos
Alguns minutos depois
Estavam os dois
Sobre um oceano imenso
De um azul também intenso
Que contrastava com o pássaro e com a cobertura
Que no azul, se fazia tão pura
Foram parar mais gloriosamente
Em uma ilha no meio do oceano eminente
Sobre areias brancas e brilhantes
Sobre desertos e ventos escalantes
Que os pousaram com gentileza
Então Júlia pôs o pé com firmeza
Por mas que fosse um sonho incerto
De fato era firme aquele deserto
E a garota percebeu que a criatura
Tinha pequena envergadura
Era pequena novamente
E batia asas num voo ascendente
Deixara ela ali, sem mais ninguém
Não havia nem se quer um alguém
Naquele sonho bonito
Naquele pesadelo infinito
E não havia uma saída
O que vinha em seguida?
O sol começou a se pôr por obrigação
E a partir daquele momento acabou a iluminação
"Adeus sol, vai a outro a quem deves
Mas não esquece de minha alma, leves!
Nunca se esquece, o sol, que aqui estou
E, na verdade, nenhum dia me faltou
Mas as vezes as noites
São tão fortes açoites
E tão escuro é o breu
Que penso que se esqueceu
Nessa longa andança
Da frágil criança"
Felizmente abre os olhos para o dia
E a esperança renasce como uma sinfonia
Na qual os violinos são o sol
E os ouvintes, num anzol
Fisgados pelo renascer
Uma forma de também crescer
Para Júlia não havia nada melhor
Que dormir grande e acordar menor
Poder sentir-se liberta
Novamente uma criança esperta
Que sobre as asas gigantes e azuis de um pássaro do mar
Conseguiu encontrar, o que nos braços e nas palavras não conseguiria achar
Não importa o quão imaginário esse pássaro é
E nem de que mente ele é fruto ou se nem é
O que importa mesmo é que os sonhos são
Uma terra onde não existe razão
E que bom, pois estamos cansados
De se atormentar pelos passados
E noutra noite Júlia vai continuar
Sendo a garota que prefere sonhar
Pois nos sonhos pode construir um mundo
Bem escondido, guardado lá no fundo
Em que ninguém pode entrar
E só suas ideias podem habitar
YOU ARE READING
A Filosofia da Morte
PoetryEssa obra é sobre a pequenez do ser humano, as sensações que abalam nossa existência, os amores, os desperdícios e os pensamentos que nos impedem de dormir. Sobretudo é uma confissão da minha existência, sobre a qual passa a narrar os meus dias mais...