XVII - O Pássaro Azul

18 1 0
                                    

Júlia estava em sua cama, afundava nos mantos

Ela tinha decerto todas belezas, e todos os encantos

Enquanto lá fora o vento rugia na janela

Dentro do quarto quem rugia era ela

E o vento, batia com força nos carvalhos da rua

E as folhas caiam sobre os carros estacionados na lua.

A luz delicada entrava pelo vidro invisível

Mesmo delicada, incomodava a garota sensível

Então ela voltou-se para o outro lado

E tentou no escuro cultivar um sonho pesado

Caiu ainda mais fundo sobre seus próprios pensamentos

Enquanto relembrava lindos e adorados momentos

Lembrava de um pássaro azul brilhante

Da qual desejara ser amante

Vira sua figura no zoológico há uma semana

Era uma ave de origem africana

Aquela espécie fora capturada num cruzeiro

Quando sem sucesso tentava chegar a algum paradeiro

Caiu sobre o convés do navio ave tão primária

E fora ali que recebeu cuidados, na cidade portuária

O guia fazia questão de contar

Para toda gente se alegrar

Com a atitude do capitão do navio

Que fizera boa ação durante o estio

Após ser cuidado e bem tratado

O pássaro foi ao zoológico levado

E os visitantes se encantaram com a beleza

Daquele pássaro originário da realeza

Dos animais, certamente uma obra prima

Que agora em dor se exprima

Queria de novo a liberdade

Estava pronto para o voo sobre a cidade

Iria em direção ao mar

E ao seu continente retornar

Para então com uma manada de outros semelhantes

Voar, e no céu, e emitir luzes, azuis brilhantes

Aquele azul parecia tão intenso,

E o céu parecia tão imenso

Os dois começaram a se misturar

Júlia estava nas asas a voar

Com as mãos agarradas ao pássaro gigante

Que parecera crescer em um instante

Agora levava ela por cima das nuvens

E por baixo, grandiosas paisagens

Passavam-lhe ao olhar

Grandes vales, rios a escoar

Por sobre arvores e arvoredos

Por sobre terras e casaredos

Alguns minutos depois

Estavam os dois

Sobre um oceano imenso

De um azul também intenso

Que contrastava com o pássaro e com a cobertura

Que no azul, se fazia tão pura

Foram parar mais gloriosamente

Em uma ilha no meio do oceano eminente

Sobre areias brancas e brilhantes

Sobre desertos e ventos escalantes

Que os pousaram com gentileza

Então Júlia pôs o pé com firmeza

Por mas que fosse um sonho incerto

De fato era firme aquele deserto

E a garota percebeu que a criatura

Tinha pequena envergadura

Era pequena novamente

E batia asas num voo ascendente

Deixara ela ali, sem mais ninguém

Não havia nem se quer um alguém

Naquele sonho bonito

Naquele pesadelo infinito

E não havia uma saída

O que vinha em seguida?

O sol começou a se pôr por obrigação

E a partir daquele momento acabou a iluminação

"Adeus sol, vai a outro a quem deves

Mas não esquece de minha alma, leves!

Nunca se esquece, o sol, que aqui estou

E, na verdade, nenhum dia me faltou

Mas as vezes as noites

São tão fortes açoites

E tão escuro é o breu

Que penso que se esqueceu

Nessa longa andança

Da frágil criança"

Felizmente abre os olhos para o dia

E a esperança renasce como uma sinfonia

Na qual os violinos são o sol

E os ouvintes, num anzol

Fisgados pelo renascer

Uma forma de também crescer

Para Júlia não havia nada melhor

Que dormir grande e acordar menor

Poder sentir-se liberta

Novamente uma criança esperta

Que sobre as asas gigantes e azuis de um pássaro do mar

Conseguiu encontrar, o que nos braços e nas palavras não conseguiria achar

Não importa o quão imaginário esse pássaro é

E nem de que mente ele é fruto ou se nem é

O que importa mesmo é que os sonhos são

Uma terra onde não existe razão

E que bom, pois estamos cansados

De se atormentar pelos passados

E noutra noite Júlia vai continuar

Sendo a garota que prefere sonhar

Pois nos sonhos pode construir um mundo

Bem escondido, guardado lá no fundo

Em que ninguém pode entrar

E só suas ideias podem habitar

A Filosofia da MorteWhere stories live. Discover now