01. Obsceno

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Antes de mais nada, vamos exercitar a empatia, ok? Nada de julgar as pessoas sem antes as conhecerem a fundo. E nada de julgá-las depois disso também.

Mas risca tudo o que eu acabei de dizer se a pessoa estiver combinando estampas de diferentes animais, pois esse ser inescrupuloso certamente não é digno de respeito e precisa ser atropelado por um navio.

Dito isso, vamos ao fatos:

— Castigo de novo, Jaqueline?!

Afastei o telefone do ouvido. Pobre telefone do outro lado. Ele não mereceria os berros da minha mãe.

— Não posso acreditar que tenha feito algo tão nojento! Desta vez você foi longe demais! Quando chegar em casa vamos conversar! No mínimo, um ano de castigo!

Não me abalei com as palavras dela. Eu estava acostumada com ameaças mais interessantes.

— Claro, mami. Nos falamos quando você tiver tempo, tá? Beijo! — Até eu fiquei enjoada com a quantidade de doce na minha voz.

Devolvi o telefone para a diretora, interrompendo alguma coisa que a minha mãe começou a gritar. Ao receber de volta, ela manteve o telefone a uma distância segura. Viu, só? Eu não era a única preocupada com a saúde dos tímpanos.

— Certamente, senhora Dallas. Até breve — disse, encerrando a ligação e colocando o telefone no gancho. Em seguida uniu as mãos sobre a mesa e me encarou severamente. — Como sabe, Jaqueline, hoje ficará até às 18:30.

— Sim, senhora Rosildine. Posso me retirar destes nobres aposentos?

A mulher trincou os dentes. Ela não suportava a ênfase que eu dava em seu nome. Que culpa eu tinha se os pais dela a detestavam?

— Vá de uma vez — ela abanou como quem enxota moscas. Que grossa.

— Com licença — me levantei e fiz uma referência real, como se ela fosse a própria rainha da Inglaterra, porque eu sim era educada.

Ela suspirou ruidosamente.

Enquanto caminhava pelos corredores beges daquela escola brega, uma coisa não entrava em minha cabeça: como os pais podem ser tão tapados?

Dizem saber muito da vida quando não deixam os filhos irem às festinhas divertidas, ou não lhes dão permissão para dirigir seus carros, ou não os deixam dormir na casa dos amigos. Alegam estar nos protegendo.

No entanto, não conseguem ver o perigo real ao enfiarem seus filhos em um lugar doentio e perverso onde as raízes do mal são cultivadas: escola.

Um belo dia uma pessoa de mente não muito sã acordou e pensou: hum, que tal se a gente reunir um monte de adolescente em um mesmo espaço e prendê-los lá o dia inteiro?

Que grande ideia! Aposto como todo mundo achou incrível e aplaudiu de pé esse bobão. Só se esqueceram de considerar como adolescente é cheio de porcaria na cabeça, como só pensam em si mesmos e como pisam em qualquer um sem dó nem piedade.

Óbvio que dali não sairia coisa boa, mas os pais simplesmente concordaram em mandar seus filhos para aquele lugar horrendo. E continuam cometendo o mesmo erro até os dias atuais.

Os pais não se mancam mesmo. Só podiam ser cegos. Bom, eu não era. E ninguém podia me julgar por não gostar frequentar um lugar tão tóxico.

Veja bem, eu passava exatas nove horas e vinte e três minutos por dia naquele manicômio, claro que eu tinha que fazer o máximo possível para tornar a experiência menos desagradável, pelo bem da minha saúde mental, sabe?

Sendo assim, eu me ocupava ao máximo com umas atividades agradáveis. Agradáveis para mim, é claro. O problema é que alguns professores insensíveis não compreendiam isso e me mandavam para a direção quando me viam fazendo tais coisas.

Em posição de oposiçãoWhere stories live. Discover now