21. Humilhação

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Chamou uma vez. Chamou duas vezes. No terceiro toque, minha mãe apareceu no corredor.

Assim como eu, ela estava com um celular na orelha. Nossos olhos se cruzaram por um breve segundo, no próximo segundo eu já estava tropeçando nos próprios pés para dentro do meu quarto. Desliguei a chamada no processo. Talvez ela não tivesse visto.

A parte boa é que o choque de realidade me fez perceber minha estupidez em ligar para Ian. Aquele idiota sequer era meu amigo. Além do mais, em que o inútil poderia me ajudar?

Coloquei o celular em cima da escrivaninha e me dirigi para o banheiro.

Após um longo e relaxante banho de banheira, eu estava prontíssima para escutar a ladainha dos meus pais. Ter que olhar na cara deles assim, tendo conteúdo para irritá-los, seria mais fácil.

Já sabia que ia ganhar mais alguns dias de castigo, então não estava preocupada. Em minhas pantufas, desci as escadas flutuando. Aquele momento era meu.

Abri a porta do escritório e entrei. Meu pai detestava quando eu não batia na porta.

— Onde estão os modos, Jaqueline? — ele reclamou.

— Com licença, majestade — coloquei uma mão na barriga e me curvei.

Ele franziu a testa com afinco e apontou severamente para a cadeira de couro em frente à mesa. Fui até ela e me sentei.

Minha mãe entrou logo em seguida com uma pilha de papéis nos braços e a depositou sobre a mesa.

— Aqui, Ricardo, são esses. Temos que fechar tudo até ho... — ela se interrompeu ao me notar, fez cara de cansada e se sentou ao lado dele. — Ainda tem isso.

Dei um sorrisinho de lábios fechados para ela. Não posso negar que me senti satisfeita.

— Vai ser rápido. Jaqueline tem ciência de que o que fez foi errado, vamos dispensar sermões — ele também parecia cansado só de olhar para a minha cara.

Joguei o cabelo para trás, cruzei as pernas e olhei de um para o outro. O importante era sempre manter a pose.

— Imagina, fiquem à vontade. Eu tenho todo tempo do mundo — falei tranquilamente, com um sorriso meigo no rosto.

Eles se viraram um para o outro.

— Certo. Então, mais uma semana de castigo? O que acha? — ela perguntou para o meu pai.

— A diretora ligou enquanto você estava lá em cima. Pelo visto Jaqueline faltou a detenção hoje.

Ah, droga. Eu tinha esquecido completamente disso. E quando aquela mulher tinha arrumado tempo para fofocar com os meus pais? Ela não tinha mais o que fazer, não? Rosildine ia me pagar.

Meus pais estavam conversando entre si, totalmente alheios à minha presença. O objeto de discussão era a quantidade de dias de castigo. Falavam de forma tão técnica que por um momento pareceu que estavam tratando de negócios. Ou melhor, de problemas que surgiram no meio de seus negócios.

— Duas semanas, ok — chegaram a um consenso. Ela olhou para mim. — E nada de celular.

— Vocês já tiraram meu celular — lembrei.

Minha mãe estendeu a palma para mim.

— O outro celular — ela abriu e fechou a mão.

Eu estava errada, ela me viu com o celular. Maldita hora que decidi ligar para Ian.

— Eu não tenho outro celular — fiz cara de confusa.

— Claro que não, aquilo que você segurava na orelha era uma banana — minha mãe me deu um sorrisinho meigo, tal qual eu havia dado antes.

Em posição de oposiçãoUnde poveștirile trăiesc. Descoperă acum