28. Barril de pólvora

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De todas as formas que eu pensei que morreria, aquela era, de longe, a pior de todas.

Não que uma espingarda fosse o objeto mortífero mais assustador do mundo, mas quando a pessoa que está apontando para você é alguém da sua família, torna tudo mais dramático.

— Por favor, não me mata — pedi, levantado as mãos na frente do rosto.

O rifle abaixou.

— Jaqueline?! Meu Deus. Pensei que fosse um ladrão, menina!

E foi assim, enquanto eu estava saindo dos estábulos, que ele me descobriu.

*°*°*°

Os dois me encaravam do outro lado da mesa com olhos piedosos. Já haviam brigado comigo pelo susto do desaparecimento, ter feito todos perderem noites de sono e ter feito a minha mãe ir parar no hospital. Mas agora que eu tinha lhes contado o motivo de ter fugido, bem como as coisas hostis que meus pais me disseram, ambos estavam sem saber o que dizer.

— Talvez você deva passar alguns dias conosco, querida — minha avó disse por fim, suavizando as rugas da testa.

— Mas de qualquer forma, vamos ter que ligar para os seus pais — ele falou já se levantando.

— Vovô — segurei a mão dele. — Não deixa eles virem aqui. Não hoje.

Ele assentiu.

Com isso meus dias selvagens na casa da árvore chegaram ao fim. Voltei apenas para buscar minhas coisas e pregar um desenho no tronco indicando o caminho para a casa principal.

Depois que saímos da casa da diretora, fomos almoçar no McDonald's. Eu não tinha dinheiro algum e já estava acostumada a ser alimentada por Ian, mas Débora, como a péssima amiga que era, me deu um sorrisinho malicioso quando Ian perguntou o que eu queria comer. Aquela desgraçada.

Ao me trazerem de volta, Deby insistiu que eu fosse ficar em sua casa, que poderia dividir o quarto comigo, mas neguei.

— Venho mais tarde — ela disse ao se despedir com um abraço. — Aproveito e trago um shampoo. Seu cabelo está horrível. Uma porcaria na verdade.

Honestidade é tudo.

— Até mais tarte, Jake — Caio sorriu para mim, apertando de leve meu ombro. Eu gostava da forma doce como ele me tratava.

— Cuidado com o pé. Nunca se sabe que tipo de animal rastejante pode querer fazer uma visita à noite — Ian disse me dando uma piscadinha.

Em seguida eles entraram no carro e eu me aproximei da janela para agradecer por terem me ajudado.

— Obrigada, inúteis.

— A honra foi toda nossa — respondeu Ian, encostando a mão na testa em uma continência de "sim senhor".

Caio e Débora imitaram o gesto. Que engraçados.

— Agora saiam das minhas propriedades — abanei as mãos como quem expulsa moscas.

Assim que o carro manobrou para sair, subi as escadas. Estava tudo sob controle até eu cometer o erro de achar que, por ser feriado, poderia ir aos estábulos em plena luz do dia.

E agora, depois de almoçar (de novo), meus avós se viram animados com a perspectiva de terem uma escravinha. Eu me ofereci para lavar a louça por educação, não esperava que levassem tão a sério.

— Trabalhar é bom para ocupar a mente — disse meu avô com seu sorriso bondoso, quando fiz cara feia ao saber que teria que realizar uma faxina pesada no meu novo quarto.

Em posição de oposiçãoTempat cerita menjadi hidup. Temukan sekarang