De todas as formas que eu pensei que morreria, aquela era, de longe, a pior de todas.
Não que uma espingarda fosse o objeto mortífero mais assustador do mundo, mas quando a pessoa que está apontando para você é alguém da sua família, torna tudo mais dramático.
— Por favor, não me mata — pedi, levantado as mãos na frente do rosto.
O rifle abaixou.
— Jaqueline?! Meu Deus. Pensei que fosse um ladrão, menina!
E foi assim, enquanto eu estava saindo dos estábulos, que ele me descobriu.
*°*°*°
Os dois me encaravam do outro lado da mesa com olhos piedosos. Já haviam brigado comigo pelo susto do desaparecimento, ter feito todos perderem noites de sono e ter feito a minha mãe ir parar no hospital. Mas agora que eu tinha lhes contado o motivo de ter fugido, bem como as coisas hostis que meus pais me disseram, ambos estavam sem saber o que dizer.
— Talvez você deva passar alguns dias conosco, querida — minha avó disse por fim, suavizando as rugas da testa.
— Mas de qualquer forma, vamos ter que ligar para os seus pais — ele falou já se levantando.
— Vovô — segurei a mão dele. — Não deixa eles virem aqui. Não hoje.
Ele assentiu.
Com isso meus dias selvagens na casa da árvore chegaram ao fim. Voltei apenas para buscar minhas coisas e pregar um desenho no tronco indicando o caminho para a casa principal.
Depois que saímos da casa da diretora, fomos almoçar no McDonald's. Eu não tinha dinheiro algum e já estava acostumada a ser alimentada por Ian, mas Débora, como a péssima amiga que era, me deu um sorrisinho malicioso quando Ian perguntou o que eu queria comer. Aquela desgraçada.
Ao me trazerem de volta, Deby insistiu que eu fosse ficar em sua casa, que poderia dividir o quarto comigo, mas neguei.
— Venho mais tarde — ela disse ao se despedir com um abraço. — Aproveito e trago um shampoo. Seu cabelo está horrível. Uma porcaria na verdade.
Honestidade é tudo.
— Até mais tarte, Jake — Caio sorriu para mim, apertando de leve meu ombro. Eu gostava da forma doce como ele me tratava.
— Cuidado com o pé. Nunca se sabe que tipo de animal rastejante pode querer fazer uma visita à noite — Ian disse me dando uma piscadinha.
Em seguida eles entraram no carro e eu me aproximei da janela para agradecer por terem me ajudado.
— Obrigada, inúteis.
— A honra foi toda nossa — respondeu Ian, encostando a mão na testa em uma continência de "sim senhor".
Caio e Débora imitaram o gesto. Que engraçados.
— Agora saiam das minhas propriedades — abanei as mãos como quem expulsa moscas.
Assim que o carro manobrou para sair, subi as escadas. Estava tudo sob controle até eu cometer o erro de achar que, por ser feriado, poderia ir aos estábulos em plena luz do dia.
E agora, depois de almoçar (de novo), meus avós se viram animados com a perspectiva de terem uma escravinha. Eu me ofereci para lavar a louça por educação, não esperava que levassem tão a sério.
— Trabalhar é bom para ocupar a mente — disse meu avô com seu sorriso bondoso, quando fiz cara feia ao saber que teria que realizar uma faxina pesada no meu novo quarto.
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KAMU SEDANG MEMBACA
Em posição de oposição
Fiksi RemajaSincera, irreverente e uma verdadeira peste. Jaqueline (Jake para os mais íntimos) é esperta demais para saber que deveria manter distância do garoto que foi eleito o mais bonito de todos por uma listinha suja que circulou os corredores da escola. I...