13. Convite

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O mundo era injusto comigo. O que custava eu ter amigos de verdade? Mas não, eu tinha que ter esses trastes que só prestavam para me fazer passar vexames.

Ian estava olhando para mim e a minha mão estava tapando a boca de Laura, que por acaso tinha acabado de berrar o nome dele.

Eu queria que ao menos Débora e Gustavo não estivessem olhando para Ian também, assim não ficaria tão na cara.

Ian ergueu uma sobrancelha, questionando com o olhar. Não me mexi porque NÃO SABIA COMO SAIR DAQUELA SITUAÇÃO.

Um dos garotos de sua mesa, o escandaloso que me chamou de doidinha, começou a tossir loucamente. Nunca fiquei tão agradecida em ver alguém se engasgar com comida. Isso desviou a atenção de Ian. O garoto não estava só tossindo feito um dinossauro, estava rindo com a boca cheia de comida. Um suíno.

Voltei o foco para os idiotas da minha mesa. O melhor a se fazer era encerrar o assunto de uma vez.

— Certo, Gustavo, você ganhou a aposta — declarei, entre os dentes cerrados. — Vou pagar o seu almoço.

Ele sorriu vitorioso, erguendo o queixo.

Combinei comigo mesma que se houvesse oportunidade, envenenaria seu almoço.

*°*°*°*

Eu nunca iria recuperar meu celular. O plano de me comportar para reduzir meu tempo de castigo falhou miseravelmente.

— Chiclete na cadeira do professor — Rosildine me encarou duramente.

O professor de história mereceu.

— Quantos dias de castigo? — questionei logo, para me poupar do longo sermão.

Ela esfregou os dedos na têmpora, fechando os olhos.

— Saia da minha sala — disse sem me olhar.

Estranhei. Nada de castigo? Ela só podia estar doente. Mas achei melhor não questionar, ela me procuraria depois. E certamente ligaria para a minha mãe.

Então era adeus celular e cartões de crédito. O plano mudou, agora teria que me concentrar em pegar de volta o celular secundário que o pacote de estrume me roubou.

— Com licença, senhora Rosildine — fiz a reverência de sempre, da rainha da Inglaterra, e saí.

De volta à sala de aula, me deparei com uma zona de guerra. Gostaria de entender por que esse incivilizados gritavam para se comunicar. Bando de neandertais. Estavam todos espalhados, assim como as cadeiras.

Em meio à toda aquela subespécie, havia uma pessoa que se destacava. Sua voz era a mais alta de todas, a mais irritante. Era aquele escandaloso do refeitório, o boca de lampreia. Ele estava conversando com outros três garotos como se eles estivessem há metros de distância.

Ignorando a baderna das crianças do ensino fundamental, endireitei minha cadeira e me sentei.

Não havia professor na sala por minha causa. O professor foi embora irritado depois do incidente com o chiclete na cadeira. Ao menos agora ele ia comprar uma calça nova, ninguém aguentava mais sua calça de brechó.

Peguei minha agenda para verificar os compromissos futuros. Só manicure e cabeleireiro para o fim de semana, que chatice. Eu precisava preencher meus horários, mas com Steven em casa seria impossível levar as meninas lá.

Uma sombra ofuscou o brilho das letras em gliter da minha página. Ergui a cabeça e vi Caio parado à minha frente.

— Como foi com a diretora? — questionou, solidário.

Em posição de oposiçãoOnde histórias criam vida. Descubra agora