20. Estilhaços

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Ian parou na frente da minha casa e desligou o carro, mas não destravou a porta para eu sair. Fiquei grata por ele ter dirigido até ali em silêncio, me deixando com os meus próprios pensamentos. Porém, agora ele queria uma explicação.

Apesar de saber que ele estava me encarando, continuei olhando para frente.

— Vai me dizer quem era aquele ou vou ter que deduzir que Laura estava pegando o cara que você gosta?

Virei o rosto para ele depressa.

— Quê? Não gosto de Gustavo — e agora, nem como amigo. — Ele é o namorado de Débora. Ou era. Ou é o futuro ex-namorado. Não sei mais.

Ian me olhou como quem não entendia paçocas da língua que eu estava falando.

— Quem raios é Débora?

— Débora, Débora, Ian, aquela que fugiu do Clube ontem com o infeliz do meu meio-irmão e foi para a mãe que pariu — para não dizer coisa pior.

— Se ela fugiu com o infeliz do seu meio-irmão para a mãe que pariu, então... — e deixou a frase no ar para que eu concluísse o óbvio.

— É, mas eu não sei exatamente onde fica a mãe que pariu. E se eles não fizeram nada? Eu vou contar para Débora que o namorado a traiu com a própria amiga?

Ian levantou uma sobrancelha.

— A pergunta é: você vai contar sim ou claro?

Pelo visto Ian não era tão sem escrúpulos assim.

— Não é tão simples. Eu nem tenho certeza do que aconteceu entre Steven e Débora lá na mãe que pariu. Se fosse assim, eu teria que contar para Gustavo que ela também o traiu — respirei fundo, odiando me sentir impotente. — O problema é que todos os envolvidos são amigos, e são meus amigos. Menos a porcaria do Steven — afrouxei o rabo de cavalo antes de continuar. — Estou decepcionada com Laura. Aquela imunda.

— Ela não é uma pessoa ruim. É só mais uma pessoa como tantas outras que cometem erros. Todo mundo erra, Jaqueline.

Claro que ele ia defender Laura. Mas o fato de terem sido criados praticamente juntos, não significava que ele a conhecia de verdade.

— Não defenda aquela sebosa — senti desconforto com as minhas próprias palavras. Era horrível me referir à minha amiga daquele jeito.

Ao menos agora as coisas faziam sentido. Ela não andava estranha com todos nós, só ficava estranha quando Gustavo aparecia.

— Olha lá — Ian mostrou para além do para-brisa. — Sua chance de descobrir onde fica a mãe que pariu.

Steven. Ele estava chegando em casa pela primeira vez desde ontem. Eu sabia disso por causa da camisa branca, a mesma da noite anterior.

Coloquei a mão na porta para sair, Ian destravou, mas antes me virei para dizer uma coisa muito difícil:

— Obrigada.

Só então me lembrei de um importante item da minha lista referente a Ian: NUNCA MAIS OLHAR NA CARA. Mas o que eu podia fazer se os acontecimentos do dia bagunçaram a lista que tinha como função colocar as coisas em ordem?

Ele assentiu. Sem piadinhas? Estranhei.

Saí do carro e ele partiu em alta velocidade.

Meu pai estava na sala e não estava com cara de quem deu bronca no filho que passou a noite fora. Claro que não. Steven podia fazer o que quisesse. Por falar no idiota, ele se encontrava no topo das escadas. Corri atrás dele.

Em posição de oposiçãoOnde histórias criam vida. Descubra agora