07. Moribunda

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O silêncio absoluto que habitava minha mente foi invadido por um zumbido, a princípio fraco, mas que foi ganhando forma gradativamente.

O primeiro som que consegui decifrar se tratava de alguém perto de mim chamando um monstro. Como não fazia muito sentido, minha mente buscou algo mais coerente para focar.

— Eu preciso que todos se retirem da enfermaria — a voz soou há quilômetros de distância.

— Eu sequer sei o que vocês fazem aqui! Voltem para a detenção, todos vocês! — a segunda voz parecia familiar.

— Olha lá, ela tá falando alguma coisa. Tá acordando!

— Por favor, diretora, preciso que retire seus alunos da sala. A paciente pode acordar confusa e o barulho não ajuda.

— Rosildine, com licença. Consegui falar com o pai, ele está na linha.

— Me dê. Acompanhe esses alunos até a sala de castigo, sim? Alô, senhor Dallas? Diretora Rosildine falando, é sobre a sua filha. Não, desta vez não é nada disso.

— Por gentileza, me acompanhem.

O barulho de uma manada de hipopótamos pisoteando o chão despertou os meus sentidos.

Mesmo após a barulheira cessar, uma voz insistia em repetir uma única palavra:

— Monstro... monstro... — eu disse.

Eu disse?!

Ah, aquela voz era a minha.

A sensação de ouvido entupido foi embora ao mesmo tempo em que abri os olhos. Agora eu já não enxergava tudo preto, mas sim branco. O teto, as paredes, o lençol em cima de mim. A primeira coisa colorida que vi foi um par de olhos em uma mistura sutil de caramelo e limão.

— Jaqueline? — Alguém chamou, me fazendo deixar os olhos bonitos de lado e sair à procura.

Como aquela mulher sabia meu nome? E por que ela estava tão perto? Vi sua mão se aproximar do meu rosto e recuei.

— Como se sente? — A mão pousou em minha testa gentilmente.

Me lembrei da pessoa de olhos bonitos e a busquei onde meu olhar a havia deixado.

— AH! — Ergui o corpo de vez.

Olhos bonitos que nada! Era Ian.

— Calma, você está na enfermaria — a mulher disse. Ao olhar para ela novamente, meu cérebro enfim identificou que era a enfermeira.

Ela estava ao lado da cama tirando uma bolsa de soro vazia do suporte. Acompanhei o caminho da mangueirinha transparente, constatando que vinha em minha direção. Ao fim, entendi que a mangueira estava ligada a mim.

Tinha uma agulha dentro do meu braço. UMA AGULHA DENTRO DO MEU BRAÇO.

— AH! TIRA ISSO!

— Nada de pânico — a enfermeira disse baixo. — É apenas o soro, mas já acabou e eu vou tirar.

Assenti devagar, contudo os olhos estavam me saltando da face.

— Jaqueline — Ian chamou, olhei para ele. — Por que ficou tanto tempo sem comer? Está fazendo algum tipo de dieta maluca? Para com essa idiotice. Você não precisa disso.

— Pronto, acabamos — a enfermeira anunciou, colocando um band-aid no local onde a agulha foi retirada. — E seu amigo tem razão. Não deve ficar tantas horas sem se alimentar, é perigoso. Não repita isso.

A porta se abriu e uma mulher de semblante nada feliz entrou.

— Ah, ela acordou. Já posso mandá-la embora? — o tom da diretora era o de alguém que, nitidamente, queria se livrar de mim o mais rápido possível.

Em posição de oposiçãoWo Geschichten leben. Entdecke jetzt