17. Bastidores

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Em pé na minha frente, de braços cruzados e com o rosto sério, Ian me encarava.

— Não vou cantar com você.

Estávamos nos bastidores. O cara que me arrastou para cá nos disse para esperar, pois havia um garoto prestes a entrar no palco. Depois dele, seríamos nós.

Você me colocou nessa — apontei o dedo na cara de Ian. — Vai cantar comigo sim.

— Não mesmo.

— Essa opção não existe — revirei os olhos. — Além do mais, você já fez isso antes, eu não. Você vai entrar lá comigo.

Ian puxou a cadeira com rodinhas que estava por ali e se sentou.

— Eu canto mal — ele começou a balançar a cadeira de um lado para o outro, despreocupado.

— Não importa. Você vai comigo e isso não é um pedido. Vai e ponto — usei meu tom autoritário, aquele que eu suspeitava que Ian não gostava.

— Não obedeço a ordens suas — continuou balançando tranquilamente, como quem não está nem aí. — Se quiser algo de mim, vai ter que ser mais educada.

Cogitei a possibilidade de dar as costas, sair e não cantar porcaria nenhuma. Mas se o fizesse, os meninos iriam me vaiar. E cantariam "covarde, covarde" batendo na mesa.

Eu também poderia ir embora sem que ninguém visse, mas como eu tiraria Débora de lá? Meu celular estava na bolsa que deixei em cima da mesa.

Respirei fundo, apertando os olhos. Eu estava nas mãos de Ian.

— Por favor — falei entre os dentes.

— O que disse? Eu não ouvi — Ian parou de balançar, colocou a mão atrás da orelha e se inclinou para frente.

Um dia ele ia me pagar muito caro por isso.

— Por favor, Ian — falei mais alto.

— Melhorou — ele sorriu com satisfação.

— Vai cantar comigo?

— Não — e voltou a balançar na cadeira.

— Argh. Seu idiota inútil.

— Então, artistas — o cara hippie, o idiota que me arrastou para cá, apareceu com um bloco de notas e caneta. — Que música vão cantar?

— Música? — olhei para Ian. — Que música nós vamos cantar?

— Nós não, você.

— Tem letras de músicas ali — o cara apontou para um piano preto surrado. — Talvez ajude vocês a decidirem, mas sejam rápidos, vocês são os próximos — e se afastou para falar com outro "artista".

O piano velho estava em um canto recuado, havia folhas espalhas em cima. Fui até lá e peguei algumas letras. Eu não fazia ideia do que escolher, aliás, eu não fazia ideia do que estava fazendo ali.

— Estou louco para saber que música você vai cantar. — Pela segunda vez na noite, a boca de Ian estava perto do meu ouvido.

Me virei pronta para dar um empurrão no idiota, mas ele já havia se afastado. Estava com um largo sorriso de deboche no rosto. Joguei uma mecha de cabelo para trás e me endireitei. Ia apagar aquele sorriso em segundos.

— Está bem, Ian, eu vou sozinha. Não preciso de um medroso como você — dei um sorriso de lábios fechados. — Franguinho.

Como eu disse que seria, seu sorriso se apagou.

— Me chamou do quê? — ele franziu as sobrancelhas com afinco.

— Débora errou feio, você não tem nada de leão. Está mais para frango medroso — fiz cara de pena. — É um franguinho.

Em posição de oposiçãoWhere stories live. Discover now