33. Adeus

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Tive a sensação de que o mundo parou naquele instante. Assim como Débora, eu estava petrificada. As palavras de Ian ecoaram pelo corredor, surreais. A algazarra da plateia cessou, permanecendo só o burburinho.

Ainda segurando os braços de Débora, Ian estava olhando diretamente para ela, e ela o encarava fixamente.

Gustavo foi o primeiro a se mover. Ele deu um passo ao mesmo tempo em que esticou a mão para tocar o ombro de Débora. O corpo dela retesou-se ao sentir o toque, então se virou de uma vez, livrando-se das mãos de Ian.

— Deby, por favor, por favor, me escuta — a voz de Gustavo saiu esganada, chorosa e cheia de amargura.

Débora o encarou com o rosto vazio. Não havia mais aquela ira de segundos atrás.

Vi os olhos da minha amiga se enxerem de lágrimas, vi as lágrimas transbordarem silenciosamente, vi seu rosto delicado embebedar-se de água salgada e não soube o que fazer para impedir seu coração de se estilhaçar em um milhão de pedaços.

Não importava o que o Gustavo dissesse, não importava o que ninguém dissesse. O namorado de Débora engravidou a própria amiga dela.

Seus lábios começaram a tremer e ela os rolou os para dentro da boca, o queixo franzido.

— Débora... — Gustavo estava chorando. — Deby... eu nunca quis te machucar... não chora — ele estendeu a mão para tocar o rosto dela.

Débora se afastou bruscamente e saiu andando depressa. Gustavo, por sua vez, agarrou os cabelos, parecia prestes a arrancá-los. Sem olhar para ninguém, saiu andando na direção oposta. Por último, Laura correu em uma direção que não me importei em prestar atenção, pois meus olhos agora estavam nos de Ian.

A plateia se dispersou, alguns reclamando do desfecho, outros rindo. Alguns já estava conferindo a gravação no celular, dava para ouvir o som dos gritos de Débora vindo dos aparelhos.

Assim que me vi sozinha com Ian, perguntei seriamente:

— Como sabe disso?

E tão sério quanto eu, ele respondeu:

— Ouvi uma conversa em minha casa.

Ele achava que era suficiente? Cruzei os braços e esperei. Ele era inteligente o bastante para entender que aquilo era uma ordem para que continuasse explicando.

— Não sei se você sabe, mas minha mãe é madrinha de Laura e a dela, minha — elucidou ele. — Laura foi pedir ajuda à minha mãe, estava desesperada. A mãe dela não é lá a pessoa mais paciente do mundo.

É, disso eu sabia. A mãe de Laura era uma fera. Não era difícil imaginar a reação dela ao descobrir a gravidez da filha.

— Sua mãe te contou? — Tentei não esboçar expressão alguma, pois o rosto dele também estava inexpressível.

— Eu estava passando pelo corredor quando escutei um choro vindo do quarto da minha mãe. Me aproximei para bater na porta e acabei ouvindo a parte em que Laura contou da gravidez.

— Há quanto tempo sabe disso? — perguntei, notando a fina linha vermelha em seu pescoço, onde Débora arranhou.

Ian suspirou ao declarar:

— Uma semana.

Uma semana! Ele sabia esse tempo todo e não me disse nada. Franzi as sobrancelhas, sem conseguir ocultar minha expressão de indignação.

— Por que não me contou?

— Não achei que deveria — ele meneou a cabeça de leve.

— Não acha que é um pouco cedo para decidir sobre o que eu devo ou não saber?

Em posição de oposiçãoOnde histórias criam vida. Descubra agora