2. Ferrado e Otário Como Deve Ser

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O outro estrago é quando você é envolvido em algo relacionado a esta mesma família, para reparar danos causados por uma pequena cena típica de briga de mãe e filha na frente de todas as garotas da vizinhança.

Ligo desesperado para Gregório, porque não vou dizer a Tessa o quão minha família pode ser louca, apesar de saber que ela muito provavelmente tem reconhecimento disso. Depois de chamar três vezes e não receber qualquer resposta, fico desolado e acabo entrando no quarto de Eduarda.

Tudo isso foi por um único motivo e que começou há alguns minutos, quando acordei para ir ao banheiro e vi meus pais conversando no quarto. A porta entreaberta me permitiu ouvir ''Cícero'' junto de várias outras palavras, então comecei a prestar atenção na conversa. Não sou fofoqueiro, mas meu nome estava envolvido.

- Você acredita que ele não deu em cima de nenhuma garota? - minha mãe perguntou, horrorizada.

- E você acha isso algo ruim? – meu pai sempre foi o mais sensato, mesmo.

- Você não?

- Bom, o garoto não precisa dar em cima de alguma garota só porque ela está ali.

- Não foi isso o que eu quis dizer. É mais por ele nunca falar de nenhuma garota em especial. Será que ele nunca vai namorar?

- Querida, acho que ele sabe o que faz.

Não sei não.

- Tenho medo dele nunca encontrar alguém.

- Mas ele tem amigos, não tem aquele... Aquele gordinho...

- Gregório. Mas só ele! Você não o acha muito solitário? Quer dizer... Ah, não sei. Mas precisamos fazer algo para mudar isso.

- Catarina, nosso filho é reservado, só isso.

- Podíamos fazer uma festa! - ela disse, ignorando totalmente meu pai - Uma festa de... De alguma coisa, e aí aproveitamos e chamamos todas as meninas da dança! Seria como matar dois coelhos com um cajado só.

- São dois coelhos com uma cajadada só.

- Tanto faz.

E aí começou meu pequeno pesadelo.

Eduarda me encara, tirando o cabelo do rosto. Seu quarto é diferente do meu, parece... Limpo. É todo organizado, nunca consigo entender como alguém tão explosiva como ela pode ter um quarto tão calmo.

É exatamente o que dizem de nós dois: só trocar o "quarto" por "irmão".

- O que você quer?

- Eu acho que a mãe louca.

- Você acha? Ela sempre foi louca, mas agora o que ela fez pra você achar isso? - ela levantou da cadeira giratória e começou a me rodear. - O que você fez?

- Eu não fiz nada! – escoro-me na parede, cruzando os braços e descruzando, num movimento involuntário. - Ela cismou que tenho problemas para me relacionar.

- E você tem mesmo.

Bufo. – É. Eu sei. Entretanto, ouvi-a conversando com o pai e acho que estamos ferrados. Ou só eu mesmo.

Ela se finge surpresa e solta uma gargalhada baixa, para não acordar ninguém, mesmo que não esteja ninguém realmente dormindo. A propósito, ela deveria estar dormindo e não colando sei lá o que naquele caderno cheio de figuras.

- Anda escutando atrás da porta, seu fofoqueiro?

- Argh, Eduarda! Não sei nem pra quê vim perder meu tempo. - começo a ir embora e ela me puxa, me fitando séria novamente.

Cícero Quer Ir à Praia [completo]Onde as histórias ganham vida. Descobre agora