Não querendo citar, mas já citando, mamãe está uma pilha de nervos.
É hoje. O fatídico dia. Ele mesmo: o festival.
O engraçado é ela estar uma pilha de nervos, já que não tem nada a ver com o festival além de ser mãe de Eduarda. Minha irmã também está histérica, mas é aceitável. Afinal, ela estava não só a frente do grupo de dança que faria a abertura do festival, como também era filha da minha mãe. Isso já é um bom motivo.
Na verdade, todas as mulheres do bairro estão desse jeito, é sempre assim. A maioria dos homens - para ser sincero -não estão nem aí, se tiver bebida e comida, eles vão de bom grado. Pois é. É só um festival sem sentido, mas elas adoram. Eu até gosto da comida. Mas nesse ano tenho um motivo a mais para querer ir.
Não é nada demais, sabe? Mas eu gosto de conversar com Zelda, e nunca a vi dançar. Então... Bem. Ela me mandou uma mensagem logo de manhã e eu comecei a rir, não vendo a hora de começar logo o festival. Nós trocamos número de telefone na terça, depois do ensaio – já estava na hora! -, e não paramos de conversar desde então.
- A câmera! A câmera! - ouço Mãe gritar pela casa.
- A última que usou foi você. - papai diz. - Deve estar na sua mesa.
- Não fui a última a usar, foi você. Não lembra? A confraternização das editoras.
- A confraternização foi em dezembro, estamos em junho. - ele a lembra. - O aniversário da sua prima foi em abril.
- Droga. - ela diz. - Cícero!
Ah, não.
- Cícero, cadê você? - grita da escada. Coloco o fone de ouvido e finjo estar vendo série. Por favor, hoje não. - Cícero!
- Cícero! - vocifera Eduarda, à minha porta.
- O quê??
- Dá pra ajudar a fazer alguma coisa? Por gentileza?
- Por que?
- Porque você não é uma má pessoa?
- Ta.
E eu ajudo, porque realmente não sou má pessoa. E porque se não o fizesse, meu dia seria infernizado não só por minha irmã, mas também por Mãe e Pai. E vovó, se calhasse.
O que aconteceu, no entanto, foi:
- ACHEI! - dei um berro, com uma certa irritação justificada.
- Cícero, não grita comigo. Sou sua mãe, mocinho. - ela fica vermelha, provavelmente cansada de tanto procurar - Onde estava?
- Na sua mesa.
- Não estava, não.
- Estava sim. Aqui, ó. - ela me segue até sua escrivaninha e olha para a gaveta que aponto. - Bem na frente.
Ela parece surpresa. Dá um pigarro e ajeita a roupa, colocando um fio de cabelo castanho atrás da orelha. Dá um leve sorriso, ainda deixando de estar vermelha e voltando ao seu branco natural.
- Obrigada, querido. Não conte ao seu pai.
- O que vou ganhar com isso?
- Ganhar?
- É.
- Vai ganhar uma louça pra lavar, isso sim. - ela junta as sobrancelhas e me dá as costas, levando seu tac tac tac. - Onde já se viu... - sai, resmungando.
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Cícero Quer Ir à Praia [completo]
Teen FictionCícero tem para si, que o funk ouvido diariamente por sua vizinha do lado foi inspirado na sua vida. Porque, além de tentar sobreviver ao primeiro ano do ensino médio - mais precisamente, à Gangue - e suprir uma paixão por uma amiga, ele precisa lid...