15. O Dia Internacional das Minhas Calças

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Há luzes para todos os lados, inclusive nos pés do garoto que está na minha frente. O tênis dele brilha. E brilha sem parar, não só a cada pisada. Bizarro o gosto das crianças de hoje em dia.

As famílias já estão quase todas aqui, porque ninguém quer ser o atrasado da vizinhança. Os adolescentes estão espalhados pela praça, os pais mantendo a postura e as crianças como pequenos demônios com sede de pirraça. Eram todos iguais.

O palco desse ano é um pouco maior e possui até uns refletores, o que acho bem desenvolvido, com umas cortinas que indicam a hora do show.

Eduarda me entrega a câmera e diz para que Mãe não a pegue de jeito nenhum, porque, provavelmente, "vai ter um troço".

- Por que ela teria um troço? – pergunto, confuso. Minha mãe é bem animada com essas coisas e, claramente, iria tremer todas as fotos. Mas, ter um troço? Não há motivo.

Eduarda sorri maliciosamente e com um pouco de nervosismo.

- Digamos que a família conservadora vai tremer na base.

- Como assim?

- Surpresinha! – ela diz e corre. – Não se esqueça da câmera!

E assim, sou deixado com a câmera na mão, sozinho, confuso e abandonado pela irmã gêmea.

Gregório chegou com uma blusa havaiana. Junto dele, um mini-Gregório, absurdamente mais fofo e mais ruivo, surge e suga toda a atenção da minha mãe. Ele está vestido de dinossauro, por algum motivo que desconheço.

- Minha mãe me obrigou a usar essa puta blusa horrorosa, mas obrigar a peste a usar uma roupa de gente, nada.

- Vai ver ela sempre quis ser paleontóloga.

- Que tristeza. – ele tira os fones de ouvido do pescoço e os enfia dentro de uma mochila, que até então não tinha percebido. É uma mochila do Ben 10. – É da peste. – ele esclarece. – Tessa não está por aqui?

- Ainda não vi.

- Estranho.

- Por que? Você sabe que ela é doida, daqui a pouco aparece. – digo e ele faz uma careta.

- O irmão dela perguntou se ela estava comigo... – Gregório diz, com o rosto preocupado, mas segundos depois relaxa. – Sei lá. Ela é doida, verdade. Ei, se liga aqui.

Meu melhor amigo me mostra o celular com uma foto de duas garotas e um garoto. Espero que ele diga alguma coisa, mas nada. Ele apenas aponta para a garota do canto, com uma cara que reconheço de quando não quero tirar foto, mas sou obrigado.

- Quem é?

- Quem é? Cícero, meu amigo. É ela. – ele diz. – Sua memória é terrível, precisa ir ao médico. Comer peixe também resolve, ou é cenoura? Nunca sei, minha mãe quem sabe. Enfim, é a Mariana, que me ignorou. Achei o perfil dela. Não que eu tenha ficado um bocado de tempo procurando, simplesmente apareceu. Depois de duas horas, mas...

- Você é um stalker.

- Eu não so...

- Você é um puta stalker. – Gregório faz uma careta.

- Eu sei. É triste admitir. – dou tapinhas em suas costas.

Minha mãe começa a dar um show quando percebe que a câmera não está com ela e somos obrigados a nos juntar aos nossos pais, para tranqüilizar não só a minha mãe, como a de Gregório também. "Está comigo", eu disse; ela sorriu e disfarçou a vergonha.

Depois de vinte minutos, que mais pareceram uma eternidade, estava na hora da abertura do Festival. Todas as famílias se reuniram em frente ao palco, aparentemente animadas. Uma garota assumiu o posto de DJ e um rapaz, que lembro de ter visto no colégio junto de Eduarda, apareceu no palco com um microfone.

Cícero Quer Ir à Praia [completo]Onde as histórias ganham vida. Descobre agora