18. A Família Que (Não) Pedi

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Zelda falou de mim para Eduarda.

Há uma coisa que nós, seres humanos, não conseguimos controlar quando uma coisa boa relacionada aos sentimentos nos atinge. É natural e você não pode fazer nada quanto a isso, apesar de tentar com muito sacrifício.

Você se sente a pessoa mais boba do mundo quando ele aparece. Agora, o fato de que Zelda comentou com Eduarda sobre mim não sai da minha cabeça e um sorriso se alastrou pelo meu rosto, e, incrivelmente, não consigo controlar. O próprio bobo da corte, fazendo esse papel há dois dias.

E é assim que entro pelos portões do colégio. Passo pela multidão de adolescentes tentando achar seu lugar no mundo, tentando se encontrar. Adolescentes desesperados por trabalhos e provas, ou por beijar na boca. Conversando alegremente com seus amigos, especulando finais de séries e ansiosos por estréias de filmes.

Sinceramente, não estou nem aí. Tenho um sorriso estampado no rosto e o que eu mais quero é encontrar meus amigos e dizer, pelo segundo dia consecutivo: Zelda falou de mim para Eduarda.

Não sei se devia estar tão animado com isso, mas estou. Também desconheço o motivo, mas tenho um pressentimento.

Não encontro Tessa em lugar algum, tem três dias que ela não vem à escola. Não responde nossas mensagens e nem dá sinal de que está bem. Todos nós conhecemos Tessa bem o suficiente para saber que ela pode estar em qualquer lugar, fazendo qualquer coisa. Ela é aventureira e de nada adiantaria perguntar aos irmãos por onde ela poderia estar.

Sempre que ela some, sinto um aperto no peito, uma preocupação, mas estou acostumado. Nós estamos.

- Ela não veio de novo, não é? – pergunto a Gregório.

- Não.

- Onde ela deve estar?

- Provavelmente pichando uns muros na Nova Zelândia. – brinca.

Apesar disso, sinto aquele aperto. É inevitável. Dessa vez, o aperto é tão forte que não digo nada sobre Zelda e, aos poucos, meu sorriso se desfaz. É difícil não se preocupar com sua melhor amiga, ainda mais quando ela não diz nada sobre seu paradeiro.

Se eu fosse um de seus irmãos, estaria completamente louco. Não sei como parecem estar tão indiferentes.

- Amanhã ou depois ela vai estar de volta, relaxa. Só é estranho ela estar perdendo as provas. – Gregório diz, me acalmando. – Mas, apesar disso, ela sempre faz isso. Lembra da vez que resolveu acampar sozinha? Eu ainda não acredito que conseguiu fazer aquilo. Ela comeu...

- Um inseto. Eu sei.

- Amanhã ela volta. Tessa nunca passa de quatro dias fora. Se não, até a mãe dela vai perceber o sumiço. A mãe dela. – Gregório diz com tanta certeza que sinto como se estivesse repetindo para si mesmo, várias vezes, até acreditar em suas próprias palavras. A verdade é que nunca sabemos o paradeiro de Tessa, só quando ela está de volta. E ficamos preocupados até lá.

- Certo.

- Certo.


~~~


Pois bem, aqui vai um manual de como não fazer do jantar em família um desastre completo:

1) Não brigue com seu irmão gêmeo.

- Eduarda, eu não vou te dar o meu pudim! Pelo amor de Deus, dá pra sair de cima do meu prato? Cadê os modos? – puxei o prato com o pudim para longe da mesa.

Cícero Quer Ir à Praia [completo]Onde as histórias ganham vida. Descobre agora