Isabelle Orsini

89.3K 8.5K 844
                                    


Isabelle Orsini

Aquela era a primeira vez em que eu andava mancando. Sempre havia cuidado do meu corpo para estar pronta para fugir, e me vi sendo amparada por Dimitri ao subir os lances de escadas que levavam em direção ao seu apartamento. Não sei dizer se havia tomado a melhor decisão ou a mais sensata, porém algo nele me fazia querer confiar.

Talvez fosse o seu distintivo.

Tentei não olhar para o seu rosto ao apoiar o meu corpo contra o dele sentindo sua mão apertar a minha cintura. Um aperto inocente, eu diria, já que ele somente fazia isso quando precisávamos subir algum degrau. O edifício que imaginei ser expensivo e extravagante era comum e sem graça.

Dimitri Petrovis não parecia querer compartilhar do dinheiro de sua família. Após quatro lances de escadas me vi respirando com dificuldade ao ser colocada na parede mais próxima. O vi mexer em seu próprio bolso retirando uma chave, abrindo uma das portas em seguida. Ele não disse nada ao me segurar novamente e me levar em direção a entrada. O apartamento dele conseguia ser pior do que eu havia imaginado. Havia inúmeros papeis jogados no chão pela sala, caixa de pizzas e garrafas vazias. Era uma completa bagunça.

Ele não pareceu se importar ao chutar o que vinha pela frente ao caminhar em direção ao sofá, onde me colocou. Permaneci sentada incerta sobre o que eu deveria fazer. Escutei a porta sendo trancada e seus passos ecoando pelo local. Me senti como um animal ferido e acuado a espera de sua própria morte.

Eu estava nervosa.

— Não tenho nada para comer, eu acho – Escutei a sua voz vindo da cozinha – Tenho água, café e cerveja. O que quer? – Não tinha muitas opções e o que eu realmente desejava era algum remédio. Respondi o mais alto que consegui que queria agua e ele trouxe em um copo limpo – Tenho um kit de primeiros socorros, vou pegar – Vi seu olhar direcionado para o meu joelho e fiz o mesmo. Eu estava sangrando, não muito, mas ainda assim estava. Eu havia me ferido de alguma forma ao cair. Continuei olhando para a minha ferida sem acreditar que não havia percebido nada. – Aqui – Escutei a voz dele, ergui o meu rosto assustada e o encontrei ajoelhado em minha frente. Ele estava segurando uma pequena maleta branca. A abriu retirando alguns fracos.

— Não precisa fazer isso. Posso fazer.

Ele nada falou ao começar a limpar o ferimento, desinfetar e colocar um curativo por cima. Ele era bom nisso, eu precisava admitir.

— Faz muito isso? – Perguntei baixo tentando não soar ansiosa – Cuidar de ferimentos.

— Sim, costumo me ferir em meu trabalho.

— Eu sei que todas as quatro famílias são ricas. Eu escutava sobre isso quando vivia na vila.

— Está correta.

— Se é rico por qual motivo está é um delegado? – Vi um sorriso estranho aparecer em sua face por questões de segundos. – Quero dizer, não faço ideia em que meu pai trabalha e não me importo, mas duvido que ele faça algum trabalho assim.

— Ele não faz. Seu pai é como todos os homens da religião.

— E você é diferente?

— Não – Negou com calma ainda olhando para o meu joelho – Eu não sou muito diferente já que nasci de alguém daquela religião. Faço o meu trabalho como delegado, somente isso.

— Eu também não devo ser diferente – Murmurei pensativa.

— Podemos fazer o que desejarmos com nossas vidas – Falou ao se erguer – Vou comprar alguma coisa. Quer algo pra comer ou precisa de algo? – Neguei incerta sobre o que estava fazendo. Eu havia ido por livre e espontânea vontade para a casa dele. Meus pensamentos começavam a se tornar tumultuados quando senti sua mão em meu ombro fazendo com que eu agisse automaticamente ao bater em sua mão e me afastar do sofá, caindo do mesmo – Você...

O desespero estava em meus olhos, não precisava me olhar no espelho para saber.

— Eu estou bem – Falei alto ao encará-lo. – Não ia sair? – Ele assentiu ao me olhar com cuidado – Eu estou bem.

— Repetir isso não vai fazer com que eu esteja.

Suas palavras conseguiram me atormentar mais do que meus próprios pesadelos.

— O que acha que sabe sobre mim? Acabou de me conhecer.

— Trabalho com homicídios e sou delegado, reconheço uma reação assim. Disse que estará protegida comigo e não menti. Vou deixar a chave, então tranque a porta quando eu sair e permaneça acordada para abrir a porta. Não vou demorar.

Continuei sentada no chão rodeada de papel ainda incrédula. Ele não tem como saber o que havia acontecido comigo.

Ninguém poderia saber. 

Império [Degustação]Onde as histórias ganham vida. Descobre agora