Entre o Receio e o Medo

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ISABELLE ORSINI

Ainda não conseguia acreditar em tudo que havia dito ao delegado monstruoso. Eu deveria ter ficado quieta e esperado tudo acabar, mas não fiz. Agora contara o meu segredo mais sombrio. E de alguma forma, sentia que Dimitri havia me contado algo.

— Seu desejo é destruir a religião? – Indaguei assim que o encarei tentando nao me incomodar por estarmos sozinhos no quarto. – É por isso que precisa de minha ajuda? – Ele não negou ou confirmou, sorriu apenas largamente. – Não sou útil para um plano assim. Não tenho poder dentro da religião e muito menos influencia. Todos me odeiam.

—E eu so preciso disso – Confessou sem remorso ao me encarar. Dimitri pretendia me usar, a diferença seria em como ele faria isso, já que não parecia querer me machucar.

O que ele realmente pretendia com tudo isso? Eu não sabia.

Inconsciente dei dois passos para atrás ao imaginar a quantidade de coisas que ele estava disposto a fazer para conseguir alcançar seu objetivo – seja lá qual fosse – e em todas as situações, conseguia me imaginar destruída ou morta.

— Eu a protegerei – Prometeu como sempre, mas desta vez, não conseguia acreditar nele. Eu estava com muito medo para isso.

O olhei incerta sobre como deveria responder a isso. Eu deveria agradecer? Contestá-lo? Ou simplesmente sorrir falsamente?

Optei por sorrir antes de desviar meu olhar para um ponto qualquer do quarto ao tentar esquecer que logo precisaria dormir na mesma cama que ele. Tentei menear a cabeça afim de espantar as imagens que começavam a rondar em minha mente, contudo logo senti o corpo dele próximo ao meu. Dimitri não havia me puxado em sua direção, mas sim vindo ate mim.

— Eu lhe prometi que nada faria e sempre cumpro minhas promessas – Falou sério próximo ao meu ouvido fazendo com que eu estremecesse em resposta. O que acontecia comigo afinal? Ele conseguia me afetar tão facilmente que era assustador.

Fiquei sem reação ao sentir o corpo dele tão próximo ao meu. Me vi fechando os olhos vagarosamente e estendendo a minha mão para tocar em sua cintura. Eu queria abraça-lo. Estava prestes a tocar em seu corpo quando um barulho fez com que eu recobrasse a consciência.

— Louvado seja! – Um homem gritou do lado de fora da casa fazendo com que Dimitri fosse ver o que ele desejava, enquanto eu permaneci parada repleta em confusão e arrependimento. Metade de mim queria tê-lo abraçado e a outra o afastado. Eu não sabia o que estava fazendo com a minha vida e nem o que desejava com Dimitri Petrovis. Olhei para a janela esperando que logo pudesse sair daquela vila e nunca mais retornar.

***
DIMITRI PETROVIS

Eu estava prestes a matar a pessoa que interrompeu o meu momento com a Isabelle até vê-lo. Um dos mensageiros do ancião. Sua roupa destacava-se dada a cor provocativa e aos detalhes em dourado. As pessoas gostavam de imaginar que os mensageiros eram especiais, enviados por Deus para auxiliar os anciões.

— Senhor Petrovis, sua presença está sendo requisitada – A forma exageradamente formal fez com que eu sorrisse em desafio. – Acompanhe-me.

Estava ansioso para negar, mas contive cada partícula de meu corpo ao imaginar o semblante do ancião e o motivo de procurar-me. Ele deveria querer saber algo sobre Isabelle ou pedir para lhe aplicar alguma punição. Velho dos infernos.

O segui mantendo minhas mãos dentro do bolso da calça, pois sabia que se as tirasse poderia esmurrar o sujeito até vê-lo morto. Eu tinha muita raiva interna no momento e qualquer um poderia sofrer com isso.

— Estamos felizes por tê-la novamente conosco – A voz dele soou em meus ouvidos – Logo que o ancião se retirar do cargo, o senhor poderá assumi-lo. – Disse como se devesse estar feliz sobre isso. – Sua família deve estar orgulhosa.

Nada disse. Eu não ligava para o que minha família achava, na realidade eu os odiava tanto quanto eles me odiavam.

— É aqui – Anunciou sorridente ao parar em frente a uma casa simples pintada de branca. – O ancião o aguarda. – Não o olhei ao avançar em direção a casa. A porta da frente já estava aberta quando a toque.

— A ovelha negra da família Petrovis – O ancião, avô da Isabelle, disse sério sentado na sala. Olhei para a pequena mesa de madeira enxergando duas xicaras. – Sente-se e tome um chá, precisamos conversar.

— Não vejo motivos para isso – Dei de ombros. Não pretendia deixar que ele abaixasse a minha guarda.

— Como conseguiu traze-la? – Sua pergunta foi feita sem rodeios. Eu aprecio pessoas assim, pois são mais fáceis de entender o que pensam. – Tentei durante anos.

— Com perseguição e ameaças? Me pergunto como não conseguiu – Soltei com escarnio ao cruzar os braços em frente ao meu corpo. – Nós dois sabemos que nao tenho tempo livre, então conte tudo de uma vez.

O ancião suspirou fortemente antes de me encarar.

— Precisa puni-la – Falou de uma só vez fazendo com que eu sorrisse incrédulo. – Ela foi contra os ensinamentos da religião e precisa ser punida. Punida por você, o marido e senhor dela.

Uma gargalhada escapou antes que eu pudesse perceber.

— Se for pra punir alguém faria isso com você e com esses bastardos doentes. – Avisei antes de lhe dar as costas – E se encostar nela, mato vocês sem hesitar.

***
SOPHIA CASTILHO

Olhei para o relógio mais uma vez pela vigésima ou centésima vez. Eu estava entediada, isso era fato, mas o que eu poderia fazer, se não havia nada na delegacia para me entreter? Tamborilei os dedos exaustivamente na mesa até ver Gonzalez sorrir e andar em minha direção.

— Entediada? – Indagou sorridente fazendo com que eu assentisse – Poderia me ajudar com o caso dos traficantes.

— Traficantes adolescentes? Não, obrigada – Neguei séria, pois ainda precisava encontrar o homem que havia estuprado a jovem na trilha. – Tem novidades sobre o caso do assassinato?

—Sim – Revelou eufórico – O delegado ficará feliz quando souber que identificamos a primeira vitima.

— Como fez isso?

—Fizemos o DNA de todos os cabelos que as famílias trouxeram e um deu combinação perfeita.

— Como é possível? Imaginei que já tivéssemos feito isso antes.

Gonzalez negou dando de ombros.

— Esperar o ogro voltar para fazer o profile do assassino.

— Com apenas uma vitima não será possível. Não temos parâmetros suficientes para comparar.

— E quem disse que só identifiquei uma vitima? – Sorriu convencido ao colocar uma pasta amarela em frente a minha mesa. – Esta é a vitima encontrada na fazenda. Seu nome é Stephani Parantos. Ela vivia no mesmo prédio que o suicida e estaca desaparecida a três meses.

Olhei para Gonzalez realmente surpresa por tudo, principalmente por ele estar descobrindo tudo tão rapidamente.

— Não acha isso estranho?

— O que?

— Bastou o delegado ir embora para começar a encaixar as peças.

Gonzalez encarou-me friamente ao pegar a pasta com as informações e a foto seguindo em direção a sala do delegado.

Isso é realmente uma coincidência?

CONTINUA.... 

Império [Degustação]Onde as histórias ganham vida. Descobre agora